Luanda - Está entrar na discussão pública sobre a competição partidária em Angola a possibilidade de uma “terceira-via”.

Fonte: Club-k.net

Mas, faz sentido na emergência de uma “Terceira-Via” em Angola?


Para responder a essa questão temos de em primeiro lugar, e seguindo os conselhos do velho de Atenas, explicitar o que é isso de “terceira-via” e em que contexto o conceito surgiu.


O termo "Terceira Via" é em muito devedora do trabalho de Anthony Giddens, um influente sociólogo britânico. Guiddens é frequentemente associado ao conceito da Terceira Via, especialmente pela sua influência em líderes políticos como Tony Blair no Reino Unido.


A Terceira Via de Giddens, tenta transcender a divisão tradicional entre esquerda e direita, focando em como o Estado pode ajudar indivíduos e comunidades a prosperar num mundo globalizado e tecnologicamente avançado. Ela enfatiza a reforma das instituições do Estado de bem-estar para torná-las mais compatíveis com uma economia moderna e dinâmica, ao mesmo tempo, em que mantém um compromisso com os valores de igualdade e justiça social. Este conceito ganhou destaque nos anos 90, sendo mais notavelmente associado com líderes como Tony Blair no Reino Unido, Bill Clinton nos Estados Unidos e Gerhard Schröder na Alemanha.



Nesse sentido, uma vez que em Angola, além de estarmos na presença de um regime autoritário (que quase impossibilita a criação de partidos que não sejam da sua escolha), não se observa uma polarização ideológica de esquerda e de direita, i,é, o MPLA e a UNITA não se distinguem em termos ideológicos, em rigor não é correcto falar-se numa “terceira-via”.

Assim sendo, de que podemos falar em Angola?


O que se observa em Angola é uma dicotomia entre dois partidos tradicionais, o MPLA e a UNITA, cuja polarização é essencialmente acerca do controlo do poder do Estado, não ideológica. Algo que está no DNA desses dois partidos desde o surgimento dos mesmos.


Actuamente, de acordo com os resultados publicados das últimas eleições, a soma dos votos obtidos pelo MPLA (3.209.429) e da UNITA (2.756.786) totalizam 5.966.215 votos, o que representa apenas 42% do total de eleitores (cerca de 14.000.000). Além desses resultados, as sondagens do Afrobarometer feitas o ano passado indicavam também que o números dos eleitores que não tinham intenção de votar e que recusavam em dizer em quem votar era muito elevado. Isso significa que existe no mercado eleitoral espaço para emergência de novos partidos, pois, em princípio, a generalidade dos eleitores não se identifica com MPLA e nem com a UNITA.


Em suma, em rigor não é correcto falar-se numa “terceira-via” em Angola. Mas, há espaço no mercado eleitoral para a emergência de novos partidos. Pois, os dados eleitorais e as sondagens feitas antes das eleições passadas, indicam que existe um elevado número de eleitores que não votam no MPLA e nem na UNITA, pelo que, se estivéssemos numa democracia, poderiam emergir novos partidos políticos que lutariam para cativar esses eleitores que se abstêm de votar.