Lisboa  - A recente retórica  do MPLA  em  atribuir a UNITA pretensões de instigar a população a desobediência civil em Angola, é analisada em meios qualificados como estando a   obedecer  a cálculos destinados a identificá-la (antecipadamente) a  possíveis  focos de descontentamentos que poderão ser sentidos por efeito da  situação  econômica “devastadora” que o país tende a observador no próximo ano.


Fonte: Club-k.net

Manobra de diversão para ocultar crise econômica

De acordo com estimativas,  haverá no  próximo ano,  menos dinheiros  e menos  empréstimos para eventuais  “facilidades”  por parte das autoridades angolanas.  A revisão do orçamento geral de Estado (OGE) passou a ter como objectivo de fundo a  medidas destinadas a  evitar contas sobre os seus gastos. (Não haverá execução de contas este ano nem no próximo ano). O referido  orçamento   está cifrado em USD 40 bilhões/ano  que é em si, um factor que tornara o executivo incapacitado de  cumprir, no próximo ano, com um terço das necessidades básicas no país. 

 

Em função da “falta de dinheiro”, o  FMI concedeu um empréstimo a Angola, a fim de cobrir as suas despesas. ( Parte do  petróleo que constitui  principal fonte de receita do país, é  canalizado para a China, para pagar dividas actuais).

 

A  eventual crise econômica em Angola  poderá prejudicar ou afectar a execução de obras que seriam apresentadas nas eleições de 2012  como parte das promessas feitas pelo MPLA nas eleições legislativas de 2008. Como justificação ao incumprimento da materialização de promessas, o regime angolano prevê apresentar  como “bode expiatório”, os relatórios do Jornalista Rafael Marques contra a corrupção alegando que os mesmos dificultaram a captação de investimento estrangeiro. Esta pretensão é associada ao recente comunicado do  Bureau Político do MPLA que visou dar a entender que o regime angolano e o seu Presidente estão a ser alvo de uma campanha internacional e que a mesma esta a afectar o investimento externo.

 


No seguimento da manifestação popular contra a subida de preços em Moçambique,  as autoridades angolanas optaram por tomar medidas de prevenção para anular ou  justificar eventuais actos que a crise econômica em Angola possa provocar. O  incidente em Moçambique,  foi paralelo a subida de preços dos combustíveis em Angola e a focos de revolta de kitandeiras do mercado do Roque Santeiro  que teriam se deslocado a uma emissora local, Radio Despertar para protestar contra a medida do governo.

 

Como medida de prevenção da repetição em Angola, da manifestação de Moçambique, a Presidência angolana  instruiu o porta voz do partido,  Rui Falcão a avançar com uma conferencia de imprensa que obedeceu as seguintes constatações:

 

- Acusar a Radio Despertar de incentivar a desobediência civil e ao mesmo tempo apresentar como evidencia do “apelo a desobediencia”,  uma entrevista do Presidente da UNITA em que este  alertava ao Governo de que o que aconteceu em Maputo poderia acontecer em Angola caso não mudassem a forma de governar.

 

- Apresentar a UNITA como “Bode Expiatório” de uma eventual revolta popular  e identificá-la como interessada em actos de “desobediência civil”, no país. Caso o  povo saísse   as  ruas para protestar contra as autoridades, ficaria a idéia de que não  saíram as ruas porque estão descontentes mas por terem sido instigadas pelo maior partido da oposição.

 

- Reiterar a política de identificar a  UNITA como parte interessada na instabilidade do país fazendo com que o povo passasse a estar solidário com o Governo e perceber que as falhas de incomprimento das promessas eleitorais  foram devido ao partido de Samakuva  e  aos relatórios do site makaangola.com, de Rafael Marques. 

 

No seio da população em Luanda, sobretudo em núcleos de pessoas letradas, as acusações  do MPLA contra a UNITA tiveram efeito contrario. O partido no poder  passou a ser visto como estando a usar tal retórica para esconder insucessos e chegou a ser condenado/reprovado.

 

Evidencias:


- As Declarações de Rui Falcão foram desprovidas de evidencias que comprovassem as acusações feitas a UNITA. Uma corrente interna do partido no poder chegou mesmo a emitir  um comunicado (divulgado on-line) questionando se o Bureau Político tinha provas para fazer tais acusações.  


-  No seio da sociedade civil, as sucessivas declarações do BP do MPLA e de Rui Falcão foram vistas como estando a instigar clima de medo e de  ameaças no país.  A ONG OMUNGA saiu em comunicado condenando o partido no poder. A FNLA fez o mesmo aconselhando o MPLA a  não fazer guerra de imprensa.


- Reginaldo Silva, um dos analistas angolanos reconhecido pela sua imparcialidade descreveu no seu blog que  “a  campanha do MPLA contra a UNITA serve para responsabilizar futuras situações de instabilidade”. Um  nacionalista angolano na diáspora, Fernando Vumby dissera antes que o comunicado do BP do MPLA serviu para justificar fracassos.


- Os comitês  de acção  do MPLA se absteram  em dar seguimento a retórica de Rui Falcão. 

 

Para reforçar a  estratégia de colar  a UNITA, a eventuais  actos de desobediências civis,  a ministra Carolina Cerqueira foi igualmente instruída a emitir um comunicado acusando a Radio Despertar de instigar a “rebelião” e ao mesmo tempo dar  “luz verde”  as antenas do MPLA nos  órgãos de justiça a accionar contra esta Radio. A versão do comunicado de Carolina Cerqueira  no Jornal de Angola terá sido mais “dura” tendo esta publicação  recorrido ao uso de  termos como “Radio da UNITA” e/ou “crimes de Radio”.  

 

Em meios acadêmicos, uma  entidade   devidamente credenciada observou que: “O MPLA só consegue criar justificações internas se comparado com um adversário interno. O aniquilamento da UNITA deixou-o demasiado exposto como o único responsável pelo que acontece no país.”


De acordo com a mesma entidade “O ataque à Despertar tem por objectivo reavivar a idéia de que a UNITA continua a ser uma ameaça que precisa de ser esmagada através de alianças entre os sectores descontentes e o MPLA.” Assim, segundo a fonte: “O MPLA pode  apresentar-se como o mal menor.” Disse reconhecendo que “isso decorre da grande pressão económica que o país deverá viver no próximo ano.”.