Luanda - Fico sempre de queixo caido quando os bajuladores do Governo angolano e lambe-botas da imprensa estatal exclusivamente utilizam o termo “nacionalista” às figuras ligadas directamente ao MPLA, e deixam-se mergulhar, literalmente, num profundo esquecimento – de meter medo – sobre o verdadeiro sentido da palavra em questão.


Fonte: Club-K.net

"Mesmo as leis mais bem ordenadas são impotentes diante dos costumes" (…)

Niccolò di Bernardo dei Machiavelli (Nicolau Maquiavel)

Já a algum tempo a esta parte, venho tranquilamente reflectindo sobre o que é ser, ou não, um “nacionalista”. Nos tempos de hoje, é sem dúvida um tema bastante caro para a minha pessoa, visto que também me considero – sem excesso – como um pequeno nacionalista. Porque, ao contrários de outros escribas aqui da banda, não me vergo a redigir planetas cores de rosas. Mas sim, retrato o drama do quotidiano.

 

Ao abordar sobre ser nacionalista, é importante definir o que é nacionalismo para ajudar-nos a compreender melhor a origem da palavra. Para o geógrafo Matt Rosenberg as nações são grupos humanos culturalmente homogéneos, maiores do que uma tribo ou uma comunidade, que dividem as mesmas línguas, instituições, religiões e experiências históricas.


Por seu turno, o jurista brasileiro Darcy Azambuja complementa esse conceito de uma maneira muito contundente e interessante: Nação é um grupo de indivíduos que se sentem unidos pela origem comum, pelos interesses comuns e, principalmente, por ideais e aspirações comuns. Nação é uma entidade moral no sentido rigoroso da palavra. Nação é muita coisa mais do que povo; é uma comunidade de consciências, unidas por um sentimento complexo, indefinível e extremamente poderoso.”


A nação é, portanto, algo abstrato, mas isso não faz dela algo irreal ou ilusório. A nação é a alma colectiva de um povo, uma identidade construída ao longo de séculos de experiências históricas, de conflitos, de vitórias, de derrotas, de reviravoltas.


Em remate, o historiador Joseph Ernest Renan assegura que a nação, como o indivíduo, é o resultado de um longo processo de esforços, de sacrifícios e de devotamentos.
A nação é formada pelos antepassados e pelas gerações futuras. O sentimento patriótico é o que dá melhor forma à nação, que lhe dá os contrastes mais discerníveis. Nação e pátria são, pois, conceitos com uma relação muito intensa.


Abro um extenso parêntese para sublinhar que apesar dos pesares o malogrado Presidente da República Popular de Angola e do MPLA, António Agostinho Neto, foi simplesmente um nacionalista. Pois, não há registos que o indicam como fundador da nação. Proclamou apenas a independência após a violação dos Acordos de Alvores. Portanto, não  há, de resto, em toda história da humanidade, um homem que fundou uma nação.


Recomendo aos bajuladores e aos leitores a irem consultar, nas poucas bibliotecas existentes no país, ou mesmo, no Arquivo Histórico Nacional, se existem manuscritos que atribui ao Agostinho Neto este ridículo título.


Do mesmo modo, não devo deixar de salientar os outros dois grandes nacionalistas como os líderes fundadores dos partidos Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA) e da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), respectivamente os lendários Holden Roberto e Jonas Malheiro Savimbi que infelizmente partiram tão cedo para além.


Não estou aqui a pôr em causa os ditos nacionalistas do MPLA. Mas devo assegurar que ainda estão muito longe de atingir patamares destes três nacionalistas que acabei de citar. E seria um insulto à história do país, se dia, os nossos bajuladores – na maioria ‘empelistas’ – atribuírem este título àqueles que comercializam a liberdade do nosso glorioso povo. Isso ninguém merece!


Também seria blasfêmia, se os mesmos (lambe-botas de uma figa), virem publicamente, um dia deste, a chamarem de ‘nacionalistas’ os famigerados endinheirados entre outras figuras ligadas directamente ou indirectamente ao partido dos camaradas, ou melhor, todos aqueles que se endinheiraram – sem menor esforço – de forma injustificável de erários públicos.


Tendo exposto tudo isso, posso chegar ao cerne do texto questionar ao leitor: o que é ser nacionalista? Primeiro respondo eu: Ser nacionalista é amar a pátria e a nação; é conhecer e respeitar os símbolos nacionais; procurar conhecer cada vez mais a trajetória da nação ao longo dos anos; e é, principalmente, defender os interesses nacionais não somente com palavras, mas com atitudes.


Porque muitos confundem ser nacionalista com a pessoa que é xenófoba. Em simples palavras, ser nacionalista é não se deixar corromper, não se vender, ser leal e fiel aos interesses do país e do bem-estar geral do povo independentemente da sua raça, etnia e religião. 


Por fim, ser nacionalista é não se perpertuar no poder. Porque ninguém aqui herdou estes cargos de ninguém.  


Um verdadeiro nacionalista – como faz questão de realçar a imprensa estatal aos figuras do MPLA – não pode ter pena de quem promove calamidades sociais no país, tais como (a fome, a miséria, doenças mortiféras etc.), muito menos daqueles que desviam verbas públicas obtido através de impostos do sacrificado povo angolano que vive com menos de um dólar/dia e não ser complacente com os corruptos.


Agora se por acaso quiserem ser chamados de nacionalistas devem – em primeiro lugar – criar um sistema escolar que proporciona um ensino decente e de qualidade; dêem ao povo um polícia preparada para proteger quem merece ser protegido e reprima quem merece ser reprimido. Melhorem o sistema de saúde pública e humanizem-a para responder gentilmente as necessidades da população.


Oferecem a eles também, um Estado mais eficiente, sem corrupção, sem burrocracia, na esperança de lutar por uma Angola melhor para a presente e vindouras gerações. E por último, basta de endividar o país de cabeça aos pés e deixem de pensar exclusivamente em vocês e pensem no bem-estar geral.


Porque não vamos agora cuspir no ar, alegar que foi a maldita guerra civil que originou, há mais de oito anos em paz, a miséria que actualmente se vive no país. No meu ponto de vista, acredito que se os dirigentes do MPLA cumprissem, pelo menos, a metade do seu programa de governação, o ódio que hoje habita no seio das famílias angolanas teria tomado outro rumo. Assim, não teriámos crianças a morrerem por falta de um prato de comida, muito menos do vírus da pólio ou mesmo, por mosquitos.


A par isso, não se justifica – num país tão rico como o nosso – que os animais de estimação dos governantes desfilarem mais de saúde que os próprios autóctones. E quando adoencem são levados de emergência para o estrangeiro para o devido tratamento. Enquanto, todos santos dias, falecem mais de centenas – menores de cinco anos de idade – nos hospitais, na maioria das vezes por falta de assistência médica ou mesmo de comprimidos.


Agora cabem a vocês responderem: Quem é o nacionalista?

Nota prévia: A memória não me permite esqueçer nomes de nacionalistas como reis Mandume, N´gola, Ekuikui, Ndunduma e a rainha Njinga Mbandi.