O procurador do Tribunal Internacional, Luis Moreno Ocampo deve pedir na segunda-feira um mandato de prisão para al-Bashir, por ligação com a campanha de violência de 5 anos na região de Darfur. al-Bashir pode ser o primeiro presidente do país a ser indiciado por genocídio.

O porta-voz do governo afirmou que o procurador é um "terrorista" que baseia suas investigações em testemunhos de líderes rebeldes e organizações que trabalham sob uma máscara humanitária, mas que na verdade pretendem infiltrar o aparato de inteligência de outros países . Badry disse ainda que o país não entregará nenhum suspeito, até mesmo rebelde.

 Em Maio, o Tribunal anunciou que tinha emitido ordens de detenção contra o ex-vice-ministro do Interior sudanês, Ahmad Mohammed Harun, e o líder da milícia Janjaweed, Ali Kushayb. No entanto, o promotor argentino Moreno Ocampo deve comparecer publicamente na segunda-feira em Haia para apresentar os resultados da segunda investigação sobre o conflito de Darfur.

Se o processo for levado à frente, Bashir se transformará no terceiro presidente em exercício a ser alvo de um processo judicial internacional. Antes dele, foram levado ao Tribunal o sérvio Slobodan Milosevic, que morreu em 2006 e acusado em 1999 pelo Tribunal Penal Internacional para a Antiga Iugoslávia (TPII), e o liberiano Charles Taylor, perseguido desde março de 2003 pelo Tribunal Especial de Serra Leoa.

Conflito em Darfur
Darfur é uma província semi-árida, na região oeste do Sudão, que é o maior país do continente. Sozinha, a região é maior do que o território francês. Segundo a BBC, o país é dominado por uma população de origem árabe, enquanto em Darfur a maioria é de origem centro-africana, sobretudo nômades e de diversas etnias.

Existe tensão em Darfur há muitos anos por causa de disputas territoriais e de direitos de pastagem entre os árabes, majoritariamente nômades, e os fazendeiros dos grupos étnicos de Fur, Massaleet e Zagawa. Dois grupos rebeldes que se opõem ao governo se uniram, formando o Fronte de Redenção Nacional, liderado pelo ex-governador de Darfur Ahmed Diraige, mesmo havendo diferenças étnicas e políticas entre eles.

As hostilidades se iniciaram na região árida e pobre em meados de 2003, depois que um grupo rebelde começou a atacar alvos do governo, alegando que a região estava sendo negligenciada pelas autoridades sudanesas em Cartum. A retaliação do governo veio na forma de uma campanha de repressão da região. Como a maioria das áreas é inacessível para funcionários de organizações humanitárias, é impossível se precisar o número de vítimas.

Enquanto os líderes mundiais pedem atenção para o conflito em Darfur, 70 mil pessoas tiveram de abandonar suas casas por causa do conflito nos últimos seis meses - o total em seis anos chega a quase 3 milhões. Há quase 30 grupos lutando entre si ou contra o governo. Nas poucas estradas que existem, cada trecho é controlado por um grupo armado que cobra pedágio. Em maio, um carro ou caminhão de alimentos da ONU foi seqüestrado por dia.

As Nações Unidas sabem que não contam com o apoio de que precisariam dos países do Ocidente. Mas também culpam o governo do Sudão pela situação, por exigir que as tropas sejam apenas africanas, o que limita o poder da ONU. Enquanto o governo importa armas da China e de outros países e as milícias recebem ajuda do Chade e supostamente da Líbia, a ONU não consegue nem os 24 helicópteros de guerra que pediu no ano passado.

 Fonte: Estadão