Holanda  - Nesta segunda e última versão do tema “A verdadeira relação entre Portugal e Pedro, palavras do coração”, tentarei mostrar que o ódio pelos antigos colonizadores de Angola é desnecessário. Não sei se saberei convencer, mas em todo o caso darei o melhor de mim.


Fonte: Club-k.net

Só existe uma raça humana

Uma semana em um determinado país pode ser visto por muitos como um tempo extremamente curto para alguém sentir a realidade. Neste ponto estou de acordo com qualquer pessoa que partilha dessa opinião. Porém no caso de Portugal, atrevo-me a dizer que antes mesmo de conhecer o País do Fado, eu já conhecia Portugal. Isso parece um paradoxo. Contudo não nos esqueçamos que nós angolanos temos muito e muito da cultura portuguesa (muitas afinidades), a começar pela língua, o que nos permite, uma vez em Portugal, facilmente (mais ou menos) sentir o que os nativos das Terras de Camões sentem.

 

Baseando-me no pouco que conheço da Europa Ocidental, especialmente da Holanda, um país que no passado também colonizou e traficou escravos, atrevo-me a dizer que o europeu de hoje não é o europeu de ontem. O europeu de hoje não somente é branco, como também é negro, muçulmano, amarelo, enfim: uma outra geração. Julgar os europeus de hoje por aquilo que os seus antepassados fizeram no passado não é justo. O filho não deve pagar por aquilo que os pais cometeram no passado. Portanto, o português de hoje, século XXI, pensa diferente de um português do séc. XIX.

 

Além disso é preciso levarmos em conta que no fundo só existe uma raça humana e não diferentes raças como muita das vezes pensamos. Existem, lógicamente, diferentes cores de pele assim como outras diferentes características físicas, produto das influências climáticas nas diferentes regiões do mundo.

 

Na minha opinião, fruto das nossas diferenças físicas, surge o racismo. O racismo certamente existe em todas as culturas do mundo, de branco contra negro, de negro contra amarelo, de amarelo contra vermelho, etc., etc. O facto de o racismo existir em todas as culturas não significa dizer que todo o ser humano é racista. Da mesma forma é extremamente errado dizer-se que os portugueses são racistas. Portugal, tal como Angola, possui todo o tipo de gente: bons, maus, racistas, não racistas, xenófobos, não xenófobos.

 

O que mais me atrai nos portugueses é a ligação forte entre os nossos dois povos, apesar da distância física entre Portugal e Angola. Temos muito em comum, coisas indissolúveis. Não é por acaso que um português se integra muito mais facilmente em Angola, país africano, do que na Holanda, país europeu. O angolano integra-se certamente muito mais facilmente em Portugal do que na Nigéria.

 

Não nego que no passado houve coisas muito tristes entre Portugal e Angola. Contudo, hoje em dia e após 35 anos de independência, é muito mais do que injusto atribuir as culpas pela miséria angolana aos ‘tugas’. Para ser sincero, estou seguro de que nós angolanos, em média, destruímos muito mais o nosso país do que os portugueses. Isto é, com o rítmo de desorganização existente desde 1975, ao cabo de 500 anos nós angolanos teríamos criado muito mais desgraça do aquelas passadas criadas pelos portugueses.

 

Espero que não seja mal interpretado, pois o que digo no parágrafo acima não retira, por exemplo, a certas vítimas de massacres coloniais (como as da Baixa de Cassange) de lutarem pelos seus direitos junto a um tribunal ou coisa parecida. Em todo o caso é preciso enterrarmos o ódio. Muitos de nós, a maioria, nasceram após a independência, e só odeiam os portugueses por ouvir falar. Será isso justo?

 

Pensar constantemente no passado impede-nos de seguir adiante. A História é muito importante, pois dela podemos aprender a não repetir erros do passado. Porém o nosso caminho deve ser para frente. O verdadeiro desafio não é chorar pelo leite derramado mas sim eliminar o analfabetismo gritante em Angola, erradicar a fome (coisa desnecessária), incrementar a agricultura para que esta seja a nossa maior riqueza visto que ainda estamos muito longe de possuir uma indústria forte. Não nos esqueçamos que antes da independência Angola era uma potência agrícola em África. Hoje em dia somos obrigados a importar comida.

 

O ódio nunca é bom. A critica deveria ser sempre bem-vinda. E olhando para a Angola de hoje, as minhas críticas iriam mais facilmente para a governação actual, de 1975 até hoje, e não à governação colonial. Já se passam 35 anos desde que somos independentes, e até agora ainda não conseguimos dar um passo básico, que seria, no mínimo dos mínimos, a criação de um estado verdadeiramente democrático e com uma constituição em que a grande maioria se reveja.

 

Portugal é o meu destino preferido para férias aqui na Europa. Tratarei de conhecé-lo, se me for possível, do Minho ao Algarve. Naquele país, sempre que eu for destratado por um português, procurarei sempre dizer que o António ou o Miguel é mau ou racista, mas não toda uma nação composta maioritariamente, tal como a Nação Angolana, por gente de bom coração. 


Pedro Veloso