Luanda - É solicitado ao autor do presente texto a fazer uma análise sobre a entrada na política da compatriota Tchizé dos Santos. Distante do debate “moralmente certo ou errado”, o ingresso de Tchizé dos Santos na vida política, via parlamento, submete-nos a uma visão consuetudinária reforçada com registos da história que nos mostram o efeito que pode ter, na vida de uma nação, quando filhos de reis, príncipes ou presidentes, ingressam na política.

 

ImageQuestões em análise: Quem é Tchizé dos Santos? O que pensa sobre o país e o que a motivou a entrar na política? Que perfil terá como deputada? Nascida em 1979, Welwitcha José dos Santos Pego é filha do Estadista angolano. Não lhe é conhecida publicamente alguma posição política, mas ao penetrarmos no seu pensamento ideológico (através de um artigo/ reacção a uma canção de Dog Murras), constatamos que Tchizé dos Santos deixa indicadores que apontam para a não alienação ao  presente ambiente político ou social em Angola. Certamente que vai para as ruas de Luanda e sente algum desconforto sobretudo quando os sucessos ou falhas são associados a círculo a que pertence. “Ninguém gosta de ser lembrado que vive num país com dificuldades, estradas esburacadas, paludismo e outros problemas”, disse Tchizé dos Santos no seu artigo, sublinhando que “todos estão expostos” a esta realidade, “ricos ou pobres”. É provável que nasça em si o sentimento de querer influenciar positivamente e de honrar o nome da sua família. Foram sentimentos idênticos que impulsionaram muitos filhos de estadistas ou monarcas a envolverem-se activamente na política.

 

Em Moçambique, os filhos do primeiro presidente, Samora Machel, ao verem o nome do seu progenitor associado a alguns erros, disseram que muitas das culpas atribuídas ao seu falecido pai resultavam de falhas dos assessores que o rodeavam. Nasceu neles a vontade de poder empreender no país aquilo que o seu pai lhes havia ensinado e que gostaria de ver, se em vida estivesse. Como pontapé de saída, Ziyaya Machel e Samora M. Júnior “Samito”, passaram a militar activamente na FRELIMO e foram elevados, no último congresso, a membros do Comité Central. A filha de Eduardo Mondalne, fundador do citado partido, também entrou no CC da FRELIMO. O ingresso desses jovens na política induziu-lhes a inclinar-se para a classe mais desfavorável de forma a salvaguardar a imagem dos seus respectivos pais. Nyampite Chissano fazia o contrário pelas razões conhecidas, mas a sua irmã, Martucha Chissano, tem um sentido patriótico com o qual os moçambicanos podem contar. O mesmo efeito terá a UNITA com militância activa dos filhos do seu fundador, Jonas Savimbi. Pretenderão mostrar que o seu pai não é aquilo que as pessoas têm em mente.


 
Portanto, no caso angolano, a entrada de Tchizé dos Santos na política é bem provável que não se distancie desta linha consuetudinária. Terá posições diferentes de quem ingressou no MPLA pela condição económica. Por isso, perspectiva -se que, como parlamentar, nada a impedira, por exemplo, de votar contra uma posição, mesmo que for avançada pelo MPLA. A sua posição será diferente da de um jovem saído da juventude do partido, que ao se opor a uma votação proposta pela própria bancada parlamentar do maioritário temeria enfrentar represálias. Não viríamos nela bajulação. (Não teria razão para o fazer). Poderá ser mais fácil fazer lobby junto a ela solicitando que levante, por exemplo, alguma proposta na Assembleia, ao contrário de qualquer deputado do MPLA. Em resumo, teríamos uma parlamentar com decisões próprias. Uma deputada livre.

 

Os jovens na política, na sua condição, tendem a encarar as coisas de forma justa e equilibrada. A evidência esta na mesma reacção a canção de Dog Murras quando a compatriota diz que um dos problemas é que, “infelizmente”, alguns “pseudo novos-ricos” angolanos “esquecem as suas origens” e querem “passar por cima do seu vizinho que saiu do mesmo bairro e acham que têm direito a tudo na lei da força”. É um sinal que pode reforçar as prováveis motivações que a encorajaram a entrar na política. Reconhece discrepância na sociedade. Se assim o pensa é porque Angola precisa de mudar. A história mostra-nos que o poder muda-se de dentro para fora. São os filhos do poder que mudam o poder (Entenda-se regime político). A telenovela brasileira “Sinha Moça” mostrou-nos  que foram os filhos dos senhores feudais que acabaram com abolição dos escravos no século XVIII . Os “filhos dos poder” no exercício do seu patriotismo, tendem a corrigir aquilo que acham que os seus pais não fizeram por culpa das pessoas que os rodeiam.

Fonte Jornal Angolense