Luanda - Há 35 anos, a 11 de Novembro de 1975, encontrava-me por trás de umas moitas, para poder ouvir, num recanto escondido da Província do Huambo, a proclamação da Independência Nacional, na voz do Presidente do MPLA, Dr. Agostinho Neto, via Rádio Nacional.


Fonte: Público


A razão desse meu retiro, era que, em todos os povoados da Província do Huambo, celebrava-se outra “independência”, a da efémera “República Democrática de Angola” (da UNITA e FNLA), e eu era militante do MPLA, cujas forças armadas “partidárias” haviam sido expulsas da minha terra natal, por um desses outros movimentos de libertação nacional, a UNITA, que reclamava o centro-sul do país, como sua zona exclusiva de influência, em resposta à expulsão das suas forças de Luanda e outros bastiões do MPLA.


Lembro-me que num período de apenas alguns meses, para não falar em alguns dias, pais e filhos, irmãos, primos, tios e sobrinhos, colegas e amigos de trabalho ou de escola, se transmutaram em inimigos de morte. Penso hoje, que tudo isso se deveu fundamentalmente à situação do mundo do “ou preto ou branco” e “ou nós ou eles” que então se vivia a nível internacional, ancorado no fenómeno da Guerra Fria. Por isso saudei o fim de ideologias envenenadas, com a queda do “muro de Berlim” e fui prosélito activo da democratização do país, no seio do MPLA, e saudei efusivamente os acordos de paz de 2002, em Angola.

 

Hoje, decorridos 35 anos depois da Independência, a par de assinaláveis progressos em diversos domínios, propiciados, especialmente, por 8 anos de paz efectiva, preocupa-me que um grupo minoritário, mesmo usando uma linguagem que parece ter em conta as lições deste passado recente, tente impor novamente a instituição de práticas não consensuais, particularmente no plano do exercício poder político, na estruturação dos mecanismos de distribuição de riqueza e nas formas de moralização da sociedade, depois de tantos anos de guerra.

 

Com as crises que se vão vivendo pelo mundo actual, especialmente aqui em Portugal, é entendível que, como angolanos, não sejamos tão acompanhados nesta preocupação. A verdade, porém, é que nos próximos 35 anos que começam amanhã, é preciso garantir, e desta vez inteiramente com as armas da paz, que, em Angola, a Independência chegue para todos.