Luanda - Entrevista do activista  José Gama ao Jornal  “ACapital” a propósito da visita do Presidente José Eduardo dos Santos a África do Sul. A mesma deveria sair na edição de sábado 27 de Novembro mas por razões desconhecidas não foi publicada. Dada a sua actualidade  publicamos na integra. 

 

1 - Acha que as relações entre Angola e África do Sul podem mudar com esta visita?
 
O  convite feito ao Presidente José Eduardo dos Santos é um sinal de que ambos  estadistas  transportam os seus respectivos países  para a etapa da efectivação da prestação de visita de Estado ao mais alto nível. O Presidente Zuma esteve em Angola no ano passado e agora segue o PR, JES que se  fará acompanhar de uma delegação ministerial na qual vão assinar acordos no domínio da industria,  energia e outros que nos últimos meses  tem levado equipas técnicas dos  dois países a viajarem entre Luanda e Joanesburgo.
 
 
2 - Em que aspectos pensa que  o relacionamento entre os dois Estados devia ser consolidado mais? No domínio económico, político, militar ou em todos?
 
Há o dossiê  no domínio dos petróleos. As autoridades sul  africanas importam este produto a partir do mercado árabe. O pensamento identificado nos discursos dos dirigentes angolanos denota que fazem gosta de ver a África do Sul a consumir o seu petróleo. Primeiro porque entendem que ficaria -lhes  mais econômico  em termos de transportação;  segundo o aproveitamento  político; é que se isso vem acontecer Angola terá uma  África do Sul dependente a si. Neste momento não há algo significante que coloca a pátria de Zuma dependente a nos.  Isto daria argumento político para Angola quem tem  aspiração de líder da região da África Austral.  Há indicadores que ambos países terão tido algum entendimento quanto a questão do petróleo. Desta vez,  a África do Sul  tem como proposta a construção de um “pipe line” que chegaria até ao Lobito. Havia mesmo previsão de se incluir na agenda de viagem do PR angolano,   um acordo em torno deste tema.
 

Há também a questão da supressão de vistos que a cerca de quatro anos o governo sul africano vêem  manifestado em firmar acordo com Luanda. A África do sul  tencionava já avançar, com a medida, de forma unilateral  mas  as autoridades angolanas  declinam  alegando razões  de fronteira. Creio que Pretoria deveria dar mais argumento a Luanda para sucederem-se neste domínio.
 
 
3 - As boas  relações que começam a ser estreitadas entre os dois países, surgem em virtude do papel  que se Angola diz ter prestado na luta contra o Apartheid?  ou seja, a partir da célebre batalha do Kuito Kuanavale?
 
As  relações entre os dois povos estreitaram-se  desde o momento em que o Presidente Agostinho Neto e o Presidente do ANC, Oliver Tambo decidiram fazer da  causa dos dois povos numa  causa  comum.  A Batalha do Kuito Kuanavale representou uma agressão do regime de opressão do  Apartheid contra o Estado angolano. Na altura o  povo sul africano sentiu que muitos dos seus filhos soldados  estavam a morrer no campo militar em Angola  por uma causa injusta  e realizaram  protestos  junto ao seu governo para trazer os seus filhos de volta a casa. Isto calhou numa altura em que decorria negociações diplomáticas entre as partes envolvidas no conflito militar  e as forças do  regime do  Apartheid foram obrigadas  a recuar.
 
 
4 - Que lições a África do Sul pode dar à Angola?
 
Ambos os países, precisam-se. Angola pode aprender com a África do Sul a fortificar as suas instituições. A construir um Estado que sobreviva aos futuros  novos  governos e aos  novos lideres sem que estes  se preocupem em mudar as constituições e as leis para se eternizarem no poder ou para aniquilar os adversários políticos.  Podemos aprender com a África do Sul a ter uma imprensa  isenta e equilibrada. A oposição na África do Sul  realiza um congresso partidário e a Televisão passa ele em directo. Isto mostra que há equilíbrio.  Em Angola, a imprensa estatal  é banalizada pelo excesso de partidarismo em favor ao MPLA. A media  comporta-se como “boca de aluguer”  do  governo. O executivo  deve ter o seu próprio  centro de informação, com o seu porta voz. A África do Sul também pode aprender com Angola. Alias, hoje temos uma África do Sul que no seu aparelho de segurança tem muitos quadros que passaram pelas escolas angolanas.    Temos um dos mais competentes serviços de Inteligência.
 

 
5 - Viagem de José Eduardo dos Santos aconteceu 3 vezes, mas todas no consulado de  Jacob Zuma, há, aqui uma razão especial para este facto, ou é mera coincidência?
 
O PR, JES já esteve na África do Sul ao consulado do então Presidente Mbeki para atender uma cimeira em Sandton em Joanesburgo. No consulado de Jacob Zuma, o presidente  angolano esteve na África do Sul por três vezes para participar em  cerimônias históricas mas será na primeira quinzena de Dezembro que o  PR fará uma visita de Estado aquele país. Para alem de Joanesburgo deverá viajar a cidade do cabo para falar ao parlamento. Havia intenção  de incluírem  na sua agenda uma visita a cidade costeira  de  Durban, presumo que tenham retirado. Geralmente os estadistas que visitam a África do Sul fazem para um período de 24 horas. JES  fará uma viagem de  três dias e pelo que se vê as autoridades sul africanas querem proporcionar algo de especial aos angolanos por intermédio do seu representante Maximo.
 
 
6 - A imitação do sistema de governo daquele país, é uma boa lição? porque?
 
O modelo   constitucional  de ambos países  são diferentes. Angola tem agora uma constituição que reforçou a matéria das liberdade cívicas, o Dr Albano Pedro ainda a dias disse que os cidadãos já podem responsabilizar civilmente o estado. Temos a desvantagem  de  ter um modelo constitucional que  produz  um Presidente irresponsável quanto aos seus actos, ao contrario da África do Sul cuja constituição trás a figura de um Chefe de Estado que presta contas ao parlamento,  instituição esta que tem poderes para  destituir o Presidente caso  lhe for atribuído um voto de não confiança como aconteceu com Thabo Mbeki.

 

Conduzida por: Domingos Júnior