Aos meus
Prezados Companheiros e Camaradas de Luta:
o Dr. Isaias Henrique Ngola Samakuva
o Eng. Joaquim Ernesto Mulato
o Gen. Lukamba Paulo Gato
o Dr. Armerindo Jaka Jamba
o Dr. Abel Epalanga Chivukuvuku

Antes de mais queira desejar-vos os meus melhores cumprimentos.


Neste dia, 11 de Novembro de 2010, em que celebramos o 35º Aniversario da Independência do nosso País, na qualidade de Companheiros e Dirigentes do nosso Partido, tenho o prazer de partilhar convosco as minhas Reflexões.

 Igualmente aproveito felicitarmo-nos pela passagem deste Dia histórico pela qual o Povo Angolano derramou o seu sangue e suor em prol da Liberdade, da Justiça Social e da Dignidade Humana.

 

O que, de certo modo, chama a nossa consciência patriótica e a responsabilidade politica, um fardo pesado, que carregamos sobre os nossos ombros nesta longa Caminhada, tão sinuosa, que se trilhou em circunstancias difíceis e sem precedentes na Historia contemporânea dos Povos da África e do Mundo inteiro.

 

Nesta base, nas minhas contemplações incessantes, vieram a superfície três manifestações, de forma notável, cuja evolução terá repercussões incontornáveis tanto para o futuro da UNITA quanto para a constelação politica do País. Refiro-me, neste caso especifico, da existência de três Variantes de Visões Estratégicas, sendo: 

 

a) A Estratégia, dentro da UNITA, de «alcançar o Poder Politico à curto termo», de forma simulada, sem determinar e assegurar os factores objectivos de sustentabilidade e da materialização desta grandiosa Causa.

 

b) A Estratégia, dentro da UNITA, de «alcançar o Equilíbrio Politico à curto ou médio termo» como condição sine qua non para reunir factores objectivos adequados de sustentabilidade e de materialização desta imponente Causa, da conquista do Poder Politico, num processo democrático de transformaçao gradual do actual espaço politico desagregado e da paisagem social diversificada.


c)  A Iniciativa persistente, dentro da Sociedade Civil, de buscar uma Força Politica Emergente, de caracter político-social aglutinante, com o objectivo estratégico de «cultivar um novo espaço político-social», capaz de sustentar uma Reforma Política profunda no País, tendente a salvaguardar o processo democrático em curso. Inviabilizando, desta forma, o Plano da consolidação da Hegemonia Partidária e do Poder Absoluto do Soberano.
Esta Reflexão incide-se precisamente sobre estes três cenários aparentemente divergentes na sua configuração Filosófica. Mas que, na sua afirmação prática, as forças vivas acabarão sempre por impulsionar uma nova dinâmica que alterará o status quo de cada um dos três Fenómenos em jogo. Produzindo, a posteriori, uma nova constelação politica – divergente por um lado e convergente por outro. Esta é a Lógica inevitável da Realpolitik.


A questão fulcral, deste paradoxo, em que estamos inseridos, e que se torna um grande desafio, reside na capacidade da Liderança da UNITA em entender bem cada um destes Fenómenos e proceder de tal forma que seja capaz de assegurar a estabilidade interna do Partido. Que exige alcançar mínimos consensos sobre aspectos básicos essenciais, capazes de permitirem ao Partido contornar esta situação complexa e liderar o processo das mutações sociopolíticas que decorrem, de forma acelerada, na Sociedade Angolana.


Sem o Realismo político e a Flexibilidade sustentável estaremos perante um aprofundamento e aceleração da desagregação da UNITA como Força politica viável. Isso terá duas consequências prováveis:


1) A consolidação do status quo (Hegemonia e Absolutismo). Ofuscando, assim, o processo democrático. Em consequência disso, se encarregará de anular gradualmente o papel do Multipartidarismo e do Regime Representativo.

2)  A emergência de uma Nova Força Politica que erguerá um novo espaço político-social, cuja Liderança e Base social sairão das fileiras dos Partidos históricos, sobretudo da UNITA e do MPLA. Neste cenário, o primeiro será o mais atingido e fortemente abalado.

Este fenómeno negativo, da fragmentação da UNITA, irá atingir os níveis mais desagradáveis nas próximas Eleições Gerais, previstas para o Ano de 2012, dependendo da qualidade do desempenho do Partido. Pois, as diferenças de Visões Estratégicas entre a Opção A e Opção B estão bem distanciadas; sem a identificação de uma linha do horizonte de aproximação ou acomodação estratégica.


Acima disso, as aproximações entre as duas Opções Estratégicas (A e B) não serão tão fáceis de alcançar. Pois, estão inseridos nelas questões de fundos, quer de índole metódico e prático da estruturação dos Mecanismos de Luta; quer de índole cientifico da concepção, da formulação e da definição de Conceitos Políticos para esta Causa.

 

Não se vê, para já, como é possível aglutinar os dois Conceitos adversos numa Componente Estratégica, à curto termo. Sendo a meta final as Eleições de 2012. O meu cepticismo consiste precisamente nisso. No facto de que, não tem sido possível alcançar consensos sobre questões estatutárias, juridicamente do cumprimento obrigatório, que servem de fundamentos do Regime democrático.


Pois, há competências específicas da reserva absoluta do Órgão Supremo do Partido, das quais não têm nos Estatutos actuais do Partido qualquer Clausula de delegação desses Poderes aos Órgãos Deliberativos ou Executivos. Enquanto nos induzimos conscientemente na inconstitucionalidade, de forma leviana. O que contradiz claramente a essência da Cultura democrática.  


Efectivamente isso revela que, existe de facto diferenças político-ideológicas dentro da Direcçao da UNITA quanto aos Valores e aos Ideais democráticos que o Partido defendeu intransigentemente ao longo de todas Etapas da Luta. Na última Reunião da Comissão Politica tornou-se explicito este facto, da existência de duas Escolas de Pensamentos no seio do nosso Partido.

 

Gerir um Partido no estado de Guerra não é a mesma coisa como numa Sociedade aberta, democrática, de direito e de alta competitividade político-partidária. Neste último exige uma ampla abertura politica; um maior espaço de consenso; maior eixo de flexibilidade; maior esfera de iniciativa e actuação individual; maior ângulo de liberdade de pensamento, de expressão, de escolha e de acção; maior capacidade de tolerância; e maior espaço de concertação e de compromisso.

 

Não acho que, a postura de caracter «kamunu kamosi» é concebível e sustentável nas circunstâncias em que nos encontramos hoje. Não será que, isso causará grandes danos à credibilidade e à legitimidade politica do nosso Partido? Não constituirá num factor destabilizador da harmonia, da coesão e da estabilidade interna do Partido? Na minha opinião pessoal, não bastará apenas debates teóricos para o efeito, enquanto na prática agimos de natureza contrária.  

 

Se formos a observar atentamente as mudanças que têm tido lugar em diversos Países da África, a Opção Estratégica C tem sido um dos factores decisivos no derrube das Ditaduras e das Hegemonias Partidárias. Isso deve-se justamente da incapacidade dos Partidos Políticos Africanos em se democratizar internamente e em identificar e reconhecer atempadamente as transformações profundas das Sociedades locais. Que lhes permitiriam adaptar-se bem às mutações sociopolíticas dos seus meios ambientes.

 

Nestas circunstâncias, sucedem muitas e muitas vezes rupturas internas nas fileiras dos maiores Partidos Políticos (arcaicos na sua actuaçao) com vista a erguer uma nova constelação politica, de modo a salvaguardar os Direitos Fundamentais da Cidadania. 


Por isso, não será uma surpresa se este Fenómeno político venha a ganhar corpo em Angola como o último recurso da 2ª Revolução Democrática. O Patriotismo consiste, evidentemente, na defesa intransigente dos interesses vitais do Povo, na subordinação integral de outros interesses individuais ou partidários.


Em jeito de conclusão, dizia um Diplomata Romano: “O felídeo, Gato, é um animal que não falha quando faz um salto de uma posição para outra. Porque antes de pular, primeiro mede a distancia e reúne a energia adequada que lhe permite atingir, com precisão, a meta.” 


No mesmo contexto, afirmava o Príncipe Maquiavel: “A Estratégia de Cerco de Fortificações inimigas apenas serve para as Cidades Romanas. Pois, os Alemães têm o sistema de arrecadamento de grandes quantidades de Logística dentro da Fortaleza que lhes permitem fazer resistência ao inimigo até a chegada do socorro para levantar o Cerco.” 


 
Ali reside o Dilema das Opções Estratégicas A e B, as quais nos obrigam escolher entre as duas alternativas que se excluem mutuamente. Pois, cada alternativa escolhida é que vá determinar a quantidade, a qualidade, o tempo disponível e a forma de reunir a Logística necessária para alcançar o Objectivo traçado. Logo, o processo da identificação, da avaliação, da escolha, da conjugação e da valorização atempada dos factores principais e decisivos de um Fenómeno, constitui o elemento chave da sua abordagem e do êxito ou da derrocada de uma Estratégia.
    


De momento era tudo, com a esperança de que a minha apreensão encontre o devido entendimento por vossa parte, expressando os protestos da minha mais elevada estima e consideração.

LUANDA, 11 de Novembro de 2010
Com um abraço efusivo
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Carlos Tiago KANDANDA