Luanda - Nesta «Hora Di Bai» a 2010, cabe-me em primeiro lugar pedir as minhas mais sinceras desculpas pela irregularidade desta Coluna do Canto, sobretudo nas últimas edições. É que, depois da saída do Graça e, logo a seguir do Severino e do Candembo, houve que «cerrar fileiras em torno do Líder da Revolução Semanário-Angolénsica» -- não passe a expressão coisíssima alguma, como gosta de dizer o «desistido» Ismael Mateus no melhor da sua prosa – o Salitas. Esse mesmo, retirado intempestivamente e a contra gosto da militância caldista do Bê Ô. Dali que, morreu o Rei, viva o Rei e novo Rei novas modas, o «Directas Salitas» entendeu de carregar este vosso humilde escriba com uma montanha de trabalho na edição de política e nas matérias de capa, no bilo pela liderança no mercado que o SA e equipa bateu café. Resultado: nem sempre houve «parlação» a partir deste cantinho. Situação essa que, já refilei no Salitas, vai ter que ser reposta na sua devida legalidade; e ele falou não tem makas, escreve o «Canto» e escreve o resto. É a tal coisa. Basta ficarem «Directas» já baza a «Kambação». Mas não faz mal, dia não mata dia e o «Canto vai voltar a ser regular. E o Salitas a rir, kiá, kiá…


Fonte: SA

 «JORNALISMO MARTÍRICO» OU QUÊ?!?

Entretanto, muito obrigado aos leitores e leitoras que, com carinho e suas críticas «cobraram» as conversas deste «Meu Canto». Obrigado também aos sites angolanos, com destaque ao Club-K que retomaram algumas crónicas desta coluna e sobretudo obrigado aos comentaristas internautas que construíram a sua sabedoria em cima das pedras que o «Meu Canto» lançou para o debate dos homens livres, para parafrasear Justino Pinto de Andrade. Agradecimentos extensivos aos que aproveitaram «xingar» o seu autor: Dinamarquês, «kilombo kiá hasa» «ohãsa» e quejandos. Ossos de ofício. E aquele obrigado especial aos amigos, familiares e pessoas anónimas – e aqui um kandando especial ao meu «irmão de peito» Deputado que é João, mas não é nada Melo, é Pinto – pelas dicas, pelas críticas, pelos debates e pelo incentivo.

 

Em 2010 decidi entrar mais profundamente nesta coisa de fazer jornalismo. Achei isso necessário para que tivéssemos, eu e os meus estudantes do Curso de Comunicação Social da Universidade Privada de Angola – UPRA – um espaço prático que fornecesse subsídios para os debates na sala de aulas. E isso conseguimos. Quis o destino, entretanto que eu fosse também uma das vítimas do «kamartelo» do sistema que pende sob a cabeça dos jornalistas qual espada de Dâmocles. Sistema no qual votámos massivamente, parece agora querer asfixiar os fundamentos e a prática do direito e dever de informar que até é protegido constitucionalmente. O caricato, no meu caso é que, enquanto os meus colegas Graça, Ilídio, Willian Tonet, Armando Chicoca, Aguiar Santos, Salas e outros jornalistas são levados a tribunal pelo sistema ou por figuras próximas dele, eu fui-o por uma organização que se pretende religiosa. Astuta como provou ser nos outros países, estudou os arcabuzes judiciais – o termo vale pelo arcaico das nossas leis – que o sistema montou para «surrar» os jornalistas e usou-os a seu favor. Dali que uma «missionária» estrangeira dizer na nossa própria TPA que «o sexo é natural, basta as nossas jovens usar a camisinha» não é crime. Quando o jornalista vem dizer em defesa da Nação que se é isso em que ela acredita, é livre de praticá-lo, mas não o impinja à nossa juventude, muito menos em nome de Deus – é crime, segundo os nossos tribunais.


É bem feito para nós os angolanos. Isso que sirva de lição ao MPLA que está a desconseguir oferecer aos profissionais da Comunicação as garantias e liberdades que prometeu no seu manifesto eleitoral de 2008. Não vale a pena ter medo da Imprensa, mesmo que seja para proteger uns e outros que têm rabos-de-palha. Porque quando esses rabos pegarem fogo, corre-se o risco de tudo ficar queimado, até as coisas boas que os homens e mulheres ainda probos constroem com a labuta penada do dia-a-dia. Estaremos aqui para ver o que dirão disso nas eleições de 2012.

 

Nessa senda ocorre-me a forma pouco digna como o sistema e arredores, incluindo a Oposição, trataram a Comunicação Social ao longo de 2010 e fica-me uma tristeza muito grande. Reparo que até o Presidente da UNITA foi buscar uma expressão menos feliz usada pelo PR há uns seis anos e que consta que ter-se-á arrependido pelos estragos políticos causados então à sua imagem: Pasquins. Ocorre-me perguntar, com muita tristeza e algum «gozo»: Então, senhor Samakuva, só porque estamos a dizer que o senhor não tem nada que adiar as eleições no seu Partido, já somos pasquins? Então não é o senhor que critica isso mesmo ao PR a quem chama «Presidente não eleito»? Quando defendemos – refiro-me à imprensa privada – os Deputados Maluka, Saviemba e outros que não aderiram à Renovada na altura; quando constituímo-nos em espaço para a Oposição e a UNITA esgrimirem os seus argumentos perante uma media estatal que vos fecha as portas; quando corroboramos convosco que a media pública tem que dar-vos o mesmo tratamento que ao Partido no Poder – não éramos pasquins. Mas quando dizemos que não estamos convencidos com os truques que o senhor exercita para manter-se na presidência da UNITA, já somos pasquins; quando damos voz a lideres respeitados do seu partido como Abel Chivukuvuku que acham que não se deve alienar valores sagrados no vosso partido como as eleições regulares para legitimação dos mandatos – e todos sabemos que esses líderes regem-se pela cartilha que o senhor diz defender – já somos pasquins. Quando exigimos mais criatividade e dinamismo na vossa oposição, quando chamamos à responsabilidade para actos menos responsáveis como foi do caso da tentativa de colagem aos tumultos de Moçambique, já somos pasquins. «Falam tanto que até o PR assim os chamou» segundo suas próprias palavras. Hoje já…! Olhe que dia não mata dia e esperto só almoça, não janta…

 

De uma maneira geral, a banalização da Comunicação Social este ano foi grande. Apanhámos do sistema, apanhámos do empresariado que quer subalternizar-nos ao seu «vil» capital, apanhámos dos generais, apanhámos dos juízes e apanhámos das… «Igrejas» até essas que conseguem driblar o sistema judicial aqui como nos seus países de origem nem sonham. Fica a pergunta para trabalho de casa: Quem é que não presta, afinal; a Comunicação Social ou o Sistema?

 

Termino esta crónica-resenha de 2010 com dois casos, um antigo e outro recente que são paradigma do martírio que representa informar com verdade no nosso País.

 

O primeiro é o caso da prisão, julgamento e condenação do Padre Raúl Tati e companheiros. Quando tudo isso aconteceu, a comunicação social privada – os tais pasquins, segundo a cartola do PR, retomada «oportunamente» pelo Presidente da UNITA – noticiaram em tempo útil a opinião geral sobre a injustiça do processo pelo facto de a lei de Crimes contra a Segurança do Estado de então estar desajustada à nova e antiga Lei-Mãe. Debalde. O Padre e companheiros foram presos, julgados e condenados. O TC pronunciou-se (embora brandamente, tipo a contra-gosto) a favor da inconstitucionalidade da dita lei. O Parlamento, a mesma coisa. Debalde. O Padre corre o risco de morrer na cadeia, onde se mantém apesar de todos os chamados a pronunciar-se terem declarado a inconstitucionalidade de todo o processo. A media privada chama a atenção sobre isso, a media pública ignora simplesmente o facto. O Sistema, esse cala-se. Porquê? O Mundo, esse ri-se da nossa obtusidade e põe-nos na cauda de todas as tabelas boas e na cabeça das tabelas más… dizemos isso e ainda arriscamo-nos a «ir kuzú» nós também.

 

O segundo é o julgamento recente de Armando Chicoca, jornalista do Namibe. Consta que algumas das acusações deviam ser ao contrário. Circulou há tempos que a senhora que se queixa de assédio sexual chegou a queixar-se ao próprio SG do MPLA, o qual teria constatado que o assunto tinha inclusive chegado à mesa da própria Governadora Provincial. Mas eis que vemos o acusado transformar-se em acusador e a mandar um dos seus subordinados directos julgar o caso. E ninguém fala de conflito de interesses, o Conselho Nacional da Magistratura e a Ordem dos Advogados tipo assobiam para o lado. Estaremos nós – os jornalistas entre os quais se conta o autor deste «Meu Canto» -- totalmente entregues à bicharada?

 

O «Meu Canto» continuará. Mas, acreditem caros leitores e leitoras, fazer jornalismo em 2010 foi um autêntico martírio. Esperemos que 2011 – não estou lá muito optimista, mas a esperança é a última a morrer – seja bem melhor.


Feliz Natal e Próspero Ano Novo!