1992 fraude eleitorais

E quanto ao resultado imediato da escolha portuguesa sobre quem tinha e não tinha capacidade para tomar conta do país, as tais elites, o resultado está bem à vista, não só na Angola profunda mas, igualmente, na Angola que está na parte oculta (sobretudo para quem não quer ver) de Luanda.

Ou seja, como bons discípulos das forças coloniais, os novos senhores do poder seguiram os mesmos valores (ou não tivessem andado nas mesmas escolas), quase todos resumidos ao enriquecimento a todo o custo e ao desdém para com o Povo.

Não admira por isso que os novos senhores coloniais de Angola (não só mas também) sejam defendidos com unhas e dentes, numa promíscua simbiose de interesses materias em que o Povo não tem cabimento.

Todas as pessoas de bom senso, apesar de poucas, sabem que em 1992 a guerra recomeçou em Angola devido às fraudes eleitorais que a comunidade internacional não só apadrinhou como legitimou. E, bem ao estilo recente do Zimbabué, a vítima é que foi punida.

Com a ajuda decisiva da ex-potência colonial, o MPLA não só vigarizou os angolanos como conseguiu encarcerar as vítimas. Pela mão de Portugal, não só mas também, a UNITA foi condenada e sujeita a sanções que levaram, inclusive, alguns dos jovens que tinha a estudar em Portugal a passarem fome.

Portugal, através do panegírico do seu primeiro-ministro, José Sócrates, mas também de outras actividades paralelas, continua apostado em manter (mesmo que recorrendo a uma democracia mugabiana) o MPLA no poder.

Para Portugal (ou para quem o representa), 33 anos depois da independência o poder em Angola tem de continuar nas mãos dos filhos, o MPLA, devendo os enteados (todos os outros) ser voluntários devidamente amarrados.

É pena que assim seja. Sobretudo porque não será sempre assim. E, além disso, mesmo sendo enteados não deixam de ter memória e de lutar pela justiça que lhe é devida há séculos.

* Orlando Castro
Fonte: NL