Joanesburgo - os dias de hoje, tem-se tornado cada vez mais frequente ouvirmos falar das atitudes negativas da nossa juventude.Tão frequente,que por vezes muitos nos perguntamos, mas afinal,será que não temos feito nada de bom que também merece ser mencionado?
Foi na base deste pensamento que decidi então falar de jovens que apesar de por vezes “passarem-se por despercebidos”, têm dado o seu máximo contributo para ajudar no desenvolvimento sócio-cultural do nosso país.


Fonte: Club-k.net


A pedido do Club-K conduzi então algumas entrevistas com  jovens carismáticos dos quais acredito que o estatuto actual de “anonimato”,que ainda lhes é predominante em alguns dos casos, é apenas algo momêntaneo.

 

CFKappa é um destes exemplos. Com apenas 18 anos de idade,Cláudio Fernando Kiala, é um dos integrantes mais novos, da união de escritores angolanos.Além de escritor Cláudio Kiala, também é um jovem artista na busca contínua pelo seu espaÇo permanente no mundo da música.Adoptando o nome de CFKappa, no mundo artístico,este é identificado pelas suas rimas bastante objectivas e directas.Complementando com certa originalidade, Cláudio também aborda assuntos do nosso quotidiano de uma forma aberta e realista.

 

M.S.-CFKappa, dizes em uma das tuas letras que, ”Os mais velhos não entendem que a idade é so um número”.Acreditas que existe um certo menosprezo por parte dos mais velhos com relaÇão a juventude de hoje no geral?


CFKappa.-Não diria menosprezo. Diria que muitas vezes,  os mais velhos têm padronizado nas suas mentes que a juventude tem uma capacidade limitada. Eles rotulam a juventude, então normalmente passam a não dar muita atenção a certas coisas. No meu caso, alguns adultos se surpreendem por me ver rimar como rimo e abordar temas como abordo, ou mesmo sobre o livro. É só para justificar que não obstante eu ser jovem, gozo do direito de explorar as minhas capacidades, que podem vir até a ser iguais às de muitos adultos. E falo pelo resto dos jovens.


M.S.-As tuas letras são bastante racionais e em uma das tuas músicas(por sinal uma das mais conhecidas,“graduaÇão”) tú dizes:”Há quem sugere que eu faÇa sons que todo mundo faz,para tocar em vários clubs e aumentarem-se os meus fãs”.Obviamente acreditas que a música angolana é bastante comercial.O que achas que deve ser feito para se mudar esse conceito?

 

CFKappa.-Por favor não quero ser mal interpretado.Como rapper que sou, respeito o facto de a musica ser comercial, e aliás, isso serve de certa forma para medir a aderência e o grau de popularidade de determinado indivíduo como artista. O meu ponto nessa frase é que pelo facto de a música ser muito racional como bem disse, há pessoas que rotulam, e dizem que para um jovem eu devia estar a cantar músicas mais badaladas e coisas do género. Eu não critíco quem o faz, mas a minha inspiração não se inclina para esse lado por mais que venha a tentar. O que aconteceu uma vez é que uma grande companhia se mostrou interessada em publicar o meu CD caso eu inclinasse os meus temas mais para o lado festeiro e eu me recusei. Além disso, há os comentarios que diariamente ouvimos de amigos e outros que querem ser entretidos por alguém que cante para eles dançarem, e sugerem que seja eu a fazê-lo.


M.S.-Será que foi por isso, que na mesma ainda disseste:”Se calhar eu seja mesmo uma crianÇa por não entender o rítmo da música que danÇam?

 

CFkappa.-Sim, exactamente. Às vezes os adultos têm muitos paradigmas e ideais embaraçosos que usam para fazer do seu modo de vida, então se calhar eu é que seja muito criança para entender tais coisas.

 

M.S.-Não posso falar do Kappa e esquecer do “Cláudio Kiala”.Há pouco falaste do teu livro do qual eu recomendo,”Perdidos na escuridão”.Sendo actualmente, um dos escritores mais novos da união de escritores angolanos,o que esta responsabilidade representa para si?

 

CFKappa.-Bem, sou o segundo. É importante lembrar que Cássia do Carmo foi a primeira mais jovem, e ainda é. E à ela eu devo parte disso porque ela me fez acreditar que ainda era possível. Reconheço a responsabilidade que isso de certa forma acaba por me colocar, mas escrever é algo que eu gosto então, noto em mim a responsabilidade de trazer uma leitura cada vez mais clara e atractiva para aqueles não só, os que apreciam, como principalmente para quem não aprecia a leitura.E me refiro basicamente aos jovens como eu.


M.S.-Lindas palavras.Sei também,que es amante de teatro e música clássica.Interesses raros,na actualidade.Parabéns por isso Kappa.Porém, a minha pergunta é a seguinte:-Achas que a juventude angolana precisa de um banho de cultura?E se sim porquê?Tens notado uma certa abstinência de intelectualidade entre nós os jovens?

 

CFKappa.-Palavras muito duras. Bem, na minha opinião esse é daqueles assuntos ao qual não podemos fazer muita coisa contra, senão tentar incentivar. Ninguém é obrigado a gostar de teatro, ou certas músicas. Há muita gente que não gosta de rap, mas eu faço, e tento incentivar. Associar a cultura artística à intelectualidade seria um bocado injusto para pessoas que simplesmente não apreciam. Como artistas e promotores, devemos apenas incentivar, ao invés de criticar.

 

M.S.-De volta a música Kappa.Sei que a mesma está de momento em segundo lugar na sua vida,pois tens planos de primeiro te formar.Por coincidência até dizes em mais uma das tuas letras”...mama,não vou deixar a escola para fazer música em Angola,é estranho mas prefiro aquela matéria toda.”.Todavia,não acredito que algum dia consigas te afastar da música,isso por lealdade aos teus fãs provavelmente.Concordas comigo?


CFKappa.-Eu responderia essa pegunta dizendo que: "Ninguém consegue se afastar da música". No meu caso, pode ser difícil, tal como um dependente de cigarro, de repente ter de deixar. A música é um dos meus refúgios para me expressar e um dos meios ao qual recorro para me divertir com palavras e falar para pessoas. Como rapper, eu posso até vir a deixar o mais breve possível, se necessário. Mas não será fácil e confortável. Eu posso continuar parte da música: Escrevendo letras, dando assistência a quem canta, organizando e promovendo eventos relacionados à musica e educação. Mas se é como rapper que quer saber, sou obrgado a não concordar. Poderei ser recordado como rapper para sempre mas não serei rapper para sempre...

 

 


M.S.-CFKappa ainda com relaÇão a letra, em que tú se dizes negar, abandonar os estudos para fazer rap em Angola,acho conveniente falar que hoje em dia já existem algumas galas de premiaÇões,para valorizar a música nacional.Embora,muitos dizem que géneros músicais tradicionais,como o semba e a kizomba, têm tido preferências dentro destes.Ocultando assim, o rap(do qual fazes muito bem) e o”kudúro”(que por ventura hoje até é um dos cartões postais do nosso país mundo afora).O que tens a argumentar sobre isso?

 

CFKappa.-A iniciativa de existirem galas para premiações é de se louvar. Mas enquanto os bons artistas ainda tiverem de pagar  para serem ouvidos nas rádios, isso nunca mudará. Os artistas mais famosos, tem a honra de terem os seus sons passados na rádio normalmente e eu nem me refiro à eles. Mas então ? O que temos é quantidade nas rádios inversamente proporcional à quantidade. Às vezes, podemos não notar.Conscientemente, mas passamos a "colar" com uma música qualquer, pela quantidade de vezes que ela nos é embutida nas rádios. Existe muita música fútil, sim! Muita mesmo com mensagens impróprias. Mas e daí? A culpa não é só dos artistas. Eles fazem e pagam, os Djs tocam 30 vezes num dia, o povo habitua e dança, torna o artista famoso. Qual o proximo passo do artista? Achar que tem a formula e investir em musicas cada vez mais faceis de se fazer e piora a qualidade. No fim do dia, as galas vão premiar aqueles que mais foram ouvidos, e não necessariamente aqueles que apresentam a qualidade que se exige. Para o caso do rap, que é onde me insiro, existem muitos blogs a promoverem boa música. Existem muitas músicas boas mas que nem sequer chegam a serem mencionadas em tais "galas". Porque será*?

 

M.S.-Acredito que está tenha sido foi uma pergunta retórica...mas aproveito a oportunidade para dar continuidade a mesma.Será que não são nestes momentos que notamos o quanto fazem falta promotoras em Angola que estariam dispostas à apostar no rap e outros géneros não tão tradicionais?O que achas que vocês,os integrantes destes géneros, devem fazer para atrair a atenÇão destas promotoras?

 

CFKappa.-Acho que nós já fazemos muito ao cantar e levar os nossos trabalhos para a televisão e rádios (não obstante a pressão de às vezes ter de se pagar). O rap é um estilo praticado por jovens, logo, não é muito normal estarmos a juntar dinheiro para investir em tal negócio. Acho que isso não depende muito dos rappers, depende mais de o promotor achar que é seguro investir no rap, e arriscar. Como qualquer negócio. Queria é fazer um apelo aos rappers que tanto dizem ter dinheiro e "mandam no game" e nisso e aquilo, para que ajudassem um bocado a cultura e usassem um bocado dessa fortuna (que só ouvimos falar e vemos nas fotos e vídeos) para se calhar promover e investir em coisas maiores.Assim não sairiam a perder. GANHARIAM o retorno do dinheiro gasto, e dependendo da ambição e estratégiado projecto, ganhariam mais.

 


M.S-Para terminar.Todos nós temos sonhos,metas e objectivos que pretendemos alcanÇar.No teu caso,aonde pretendes chegar fazendo rap lusófono?Quais são os teus planos pessoais e professionais. Isso referindo-me,tanto ao CFkappa como ao Claúdio Kiala?


CFKappa.-Resumo o meu plano em ser bem sucedido em tudo o que eu faço e almejar fazer.Quando comecei a fazer rap, meu plano era cantar sem aparecer e apenas ser ouvido. Depois de conseguir atingir, almejei cantar com pessoas que admirava. Continuo a almejar até agora e o álbum será prova disso. A minha vida está cheia de objectivos que são traçados e constantemente concretizados e substituídos por novos.
Tudo o que peço é que eu seja bem sucedido e que tenha estabilidade na minha vida profissional, social, espiritual e económica.

 

Como podemos ver,ficou aqui claro que; não são todos os jovens que optam pela vida da criminalidade,do vandalismo,vaidade, dentre outras coisas coisas fúteis.Até somos muitos os que ainda fazemos coisas de jeito mas infelizmente, tal e qual como o CFKappa disse, se não formos todos padronizados pelos adultos que acreditam que temos uma mentalidade limitada,seremos generalizados e julgados pelas acÇões negativas cometidas pela maioria.Desta forma, acabamos todos por fazer parte de um grupo,do qual nem sempre pertencemos.

 

Para todo mundo que gostou da entrevista e ficou interessado em ouvir as músicas do CFKappa,ou, para quem gostaria de saber mais sobre ele por favor, acessem o site www.cfkappa.com para mais informaÇões.


* Mila Stéphanie  Malavoloneque