Luanda - O activista cívico, José Adão Fragoso, desmente, em entrevista ao Club-K, que os nacionalistas Paiva da Silva e Imperial Santana, tenham sido os principais protagonistas do assalto realizado no dia 4 de Fevereiro de 1961. O autor do livro “O meu testemunho, a purga do 27 de Maio de 1977 e as suas consequências trágicas” garante que estes foram simplesmente chefes de pequenos grupos durante a acção que posteriormente culminou com a morte de centenas dos participantes dentre eles os principais protagonistas, nomeadamente: os comandantes Neves Bendinha e Raul Deão. 

 
 
*Lucas Pedro
Fonte: Club-k.net
  
O também  vice-presidente e PCA da Fundação 27 de Maio, assegura que na altura dos acontecimentos, o MPLA e os seus membros encontravam-se detidos na Guiné Conacry.

 

Club-K - O que significa para si o 4 de Fevereiro de 1961?
José Fragoso - Devo realmente dizer que, é uma data inesquecível para os angolanos porque pela primeira vez acabavam de tomar uma decisão correcta que correspondia com o momento que se vivia. 
 

No seu livro, o senhor garante que o seu progenitor foi um dos protagonistas desse acto…
Sim. De facto, o meu pai (Adão José Fragoso) foi um dos protagonistas da preparação do assalto de 4 de Fevereiro, tendo mobilizado e consciencializado os seus compatriotas da região para a luta pela Independência do país, contra o jugo colonial português.Mas lembro-me que, ele era visitado frequentemente pelos Comandantes Raul Deão, Miguel de Carvalho “Hagi”, Virgílio Sotto Maior, Marquês, Domingos Sebastião “Mukuaxi” e pelo lendário Neves Bendinha. Este quando fosse à região de Icolo e Bengo, nenhum mais-velho ia à lavra, sobretudo no mês de Dezembro de 1960, na véspera da heróica acção de 4 de Fevereiro. Era para  trocarem impressões sobre o processo.
Só para recordar que, para além do meu pai, meus irmãos Rafael e Godinho também tinham participado. Mas tarde foram presos e volvidos seis meses foram postos em liberdade.
 


Mas, os protagonistas dessa acção eram todos de Icolo e Bengo?
De facto, a maioria dos participantes residiam naquela região. E estavam todos sensibilizados em torno do referido processo, com excepção dos chefes das aldeias e sobas que eram servidores do regime. Por suspeitarem deles, quase que ninguém lhes dizia nada sobre o que iria acontecer.

 
Quem era o cérebro desta acção?
Na verdade são dois nomeadamente: os comandantes Neves Bendinha e Raul Deão. Estes sim eram os verdadeiros maestros na preparação do assalto, pois, Paiva Domingos da Silva, enquanto decorria a preparação encontrava-se a trabalhar no Uíge, e os seus conterrâneos se lembraram dele, porque era um homem destemido, enviaram emissários que o trouxeram para Luanda, tendo participado nas últimas preparações e dirigido um grupo durante o assalto às cadeias, esquadras e o então aeroporto “Craveiro Lopes”, hoje aeroporto internacional 4 de Fevereiro. Vale sublinhar que, o comandante Paiva não foi o chefe operacional máximo do assalto. A fase inicial da mobilização dos grupos operacionais até foi feita na sua ausência. Tudo foi operacionalmente  encabeçado pelo comandante Raul Deão.
 


Antes do assalto, segundo o seu livro, os protagonistas foram todos lavados por um curandeiro para se sentirem seguros...
Sem dúvidas. A preparação final para o ataque foi feita com base em produtos místicos, porque os protagonistas acreditavam nos seus efeitos mágicos, tais como o mito da não penetração da bala no corpo humano. Só para ver que, durante o combate não houve nenhum morto, isto é, no primeiro assalto verificado no dia 4 de Fevereiro.

Já no segundo assalto ocorrido no dia 11 do mesmo mês, por não terem (os protagonistas) cumprido na generalidade, os princípios recomendados pelos curandeiros houve mortos, que possibilitaram aos colonos  identificar as vítimas. Pois, no primeiro assalto pensava-se que os assaltantes eram congoleses enviados por Patrice Lumumba, então primeiro-ministro do Congo Belga. No funeral dos sete agentes mortos durante o primeiro assalto, no cemitério de Santa Ana, um grupo de nacionalistas penetrou no cemitério, tendo criado pânico junto dos colonos e agentes da polícia.

É de realçar que, as autoridades portuguesas só se aperceberam que os protagonistas do assalto não eram indivíduos provenientes dos Congos (Belga e Brazaville), mas sim angolanos, a partir do dia 11 de Fevereiro de 61, oriundos na sua maioria da região de Icolo e Bengo – Catete. Este acto originou a fuga dos mesmos para as suas aldeias; e os que puderam escapar viram seus pais biológicos, ou mesmo tios, a pagarem com a morte, sob pretexto de terem permitido que os seus filhos ou sobrinhos fugissem para parte incerta. Basta assinalar que depois da primeira vaga de prisões, muitos se refugiaram para as matas próximas das aldeias, ou seja, nas lavras para assegurar a sua sobrevivência.

É necessário ressaltar de igual modo que, na madrugada do assalto o grupo seleccionado para acção fez um juramento depois de engolir uma moeda de 50 centavos (moeda portuguesa), como compromisso de que os elementos que sobrevivessem do assalto assumiriam as famílias “esposas e filhos” dos que perecessem, assim que a revolução triunfasse. Este juramento até hoje nunca foi cumprido, e quando a Independência se tornou um facto real e palpável, não obstante o então primeiro Presidente de Angola independente ter solicitado aos responsáveis do “Comité 4 de Fevereiro”, representado na pessoa do comandante Paiva Domingos da Silva, a lista dos perecidos durante e após o assalto, este e os seus companheiros de jornada não se dignaram em apresentar a lista das vítimas da acção e de todos quantos faleceram ao longo da luta pela Independência do país.Tal comportamento revelou falta de sensibilidade dos sobreviventes com relação aos familiares dos perecidos. É uma autêntica traição.
 


Fala-se em quantos homens presos?
Bem, cerca de 3500 participantes. E as detenções em Luanda foram massivas, conduzidas por um indivíduo que antes tivera feito parte da preparação do assalto, que tinha uma lista onde constavam nomes de todos os participantes. E o traidor era gestor de uma pequena cantina “Casa de Madeira”, situada no local, onde hoje se construiu o monumento em memória dos heróis de 4 de Fevereiro. Está cantina era do seu padrinho, por sinal um agente da Polícia de Segurança Pública (PSP) de raça branca. Este indivíduo é tristemente o famoso Pina, de seu nome completo Adão António Pina. Ele quase conhecia todos, tendo estado infiltrado no meio deles, pois, para além de ter participado em toda a preparação, era também natural de Icolo e Bengo – Catete, aldeia de Calomboloca.
 

 
E quanto tempo durou as detenções?
Bem, foi mais perseguição que outra coisa. E durou muitos anos, através de buscas desenvolvidas pela PIDE/DGS, que conseguiu prender a maioria dos protagonistas do assalto. Com excepção do comandante Neves Bendinha, que depois entregou-se às autoridades coloniais, devido à prisão de dois meios-irmãos seus, que apercebendo-se da pressão que a sua madrasta exercia sobre a sua mãe, decidiu sair da casa do Nascimento Cadete, onde se refugiou, dirigindo-se junto do então Hospital São Paulo, hoje Américo Boavida.Alí havia um telefone público, de onde ligou para a polícia, facto que ditou a sua captura. Aprisionado posteriormente no posto da 7ª Esquadra da polícia, onde foi torturado selvaticamente e atirado aos cães que acabaram com a sua vida.Segundo contam testemunhas, a polícia não acreditou na sua façanha, devido à sua pequena estrutura física, pois era “cambuta”, o que não correspondia com a dimensão do acto e da propaganda que se fazia em torno do seu nome. Realmente um verdadeiro contraste, que prova que os homens não se medem aos palmos!
 


E o que era feito de Raul Deão?
Também foi morto, porque a idéia era matar os dois cérebros do assalto e a maioria dos assaltantes foi deportada para o campo de Missombo no Kuando Kubango exótico e, mais tarde, com a abertura do campo de São Nicolau foram transferidos alguns. Mas, também muitos deles escaparam devido à coragem demonstrada durante o interrogatório…
 


Estas versões que o senhor acaba de contar nunca foram reveladas, porquê?
Tal como disse anteriormente, a história de 4 de Fevereiro contínua a ser escamoteada. Só para ver, até a Rainha de 4 de Fevereiro nunca veio a público para explicar, sem equívocos a sua participação e como apareceu.

 

Enfim, quem a recrutou?
Ela escamoteia(va) tudo, por temer represálias do Paiva da Silva e do Imperial Santana, que aparecem como sendo os co-líderes da acção, porquanto a verdadeira história diz que, estes dois foram apenas chefes de pequenos grupos e os verdadeiros comandantes foram Neves Adão Bendinha, natural da aldeia de Guinza, Raul Deão, natural de Calomboloca, Virgílio Souto Maior, natural de Guxi-ya-fula (Gangazuze), João Bento, natural de Kalumbuze, Chico Afonso, natural de Calumbo, aliados do lendário Cónego Manuel das Neves que justiça seja feita, foi o mentor. Estes foram os chefes sonantes que lideraram o movimento reivindicativo de 4 de Fevereiro, cujos sobreviventes ligados ao MPLA escamoteiam, até hoje, os seus feitos indeléveis que marcaram o grito do início da luta de libertação nacional.Mas nada pode dizer o contrário. O conego Manuel das Neves era da UPA!

 

Mas, Paiva da Silva e Imperial Santana diz(iam) que foram os protagonistas desta acção, e nunca foram desmentidos?
Eu já disse que foram simplesmente chefes de pequenos grupos de indivíduos e participavam também nas reuniões. Eles t(iveram)êm medo de contar a verdade por temerem perder o prestígio e as benesses que recebem do MPLA.
 


E a Rainha de 4 de Fevereiro...?
Essas que vemos hoje não passam de mentirosas e deviam ter vergonha. A senhora Engrácia Francisco (Kabenha) nas suas entrevistas, nunca disse ao público sobre o seu aparecimento no referido movimento. Mas eu vou contar. Foi graças ao seu tio, o comandante Raul Deão, que foi irmão da mãe dela, com quem coabitava em Luanda, que a mobilizou para fazer o papel de rainha. Pois, para este papel era necessário uma adolescente virgem, tal facto ela nunca revelou. Talvez por ter sido instruída pelos oportunistas que se assumiram como os comandantes da acção.

Basta ver que o Raul Deão deixou apenas uma filha que vive dificuldades de todaa ordem, pois a senhora é camponesa, não beneficia de nenhum direito que é dado às pessoas, muitas das quais que na hora da luta chamaram de terroristas aos protagonistas da Independência. Nesta situação também está a filha do comandante Neves Bendinha e de outros sobreviventes não assumidos quando a revolução triunfou, por temerem certamente outras sevícias.
 


Isto quer dizer que há muitas revelações escondidas nestas estórias?
Lamentavelmente, sim. Na mesma condição também está um outro curandeiro de nome Augusto Kiala Bengui que tinha vindo do Congo Belga e residia no bairro indígena Bloco 8  com o propósito de fazer a preparação mística a que denominaram de “pau”, que consistia em preparar a catana que depois veio a servir de arma de combate e colocar um “pau” debaixo da língua, quando estivesse a ir em algum sítio. E sempre que se tivesse em presença de um perigo, automaticamente pressentia-se e recuava-se. Foi perseguido pelo  comandante Paiva da Silva, e o homem teve que fugir para a sua terra natal, transformando-se em carvoeiro num dos quimbos, porque o comandante tinha orientado um grupo para o localizar e eliminá-lo fisicamente, segundo ele por ter aderido à FNLA, aliás ele na altura era efectivamente membro da UPA.

 

Temos conhecimento que o mais-velho Chico Afonso também foi um dos curandeiros desta acção, onde se encontrava ele durante este período de perseguição?
(Risos) O velho Chico Afonso também se refugiou para as matas, mas devido a pressão das autoridades coloniais que prenderam os seus pais e mais quatro irmãos, viu-se obrigado a apresentar-se directamente na Cadeia da PIDE/DG’S então denominada de São Paulo, com o objectivo único de salvaguardar as vidas dos acima referidos. Depois de várias interrogações os seus familiares foram postos em liberdade e momentos depois Chico Afonso é lançado num parque de cães, tal como fizeram com o comandante Neves Bendinha, e quando um deles ousou atacá-lo desferiu-lhe uma bofetada daquelas, e o cão morreu na hora.

Foi recolhido para a cela e a noite foi-lhe entregue um pratão de comida envenenada, sem saber, e no dia seguinte o guarda abriu à porta da cela e encontrou Chico Afonso vivinho da silva, tendo espantado o chefe da prisão e seus colaboradores.
 


Isso é engraçado, foi solto de certeza depois desses acontecimentos...
Nada, a partir daquela altura, passava o dia no quintalão até a sua deportação para São Nicolau, onde também com a sua presença provocou algumas melhorias aos detidos. O Chico Afonso é um homem inconformado, pois em conversas que temos tido ele diz que, a independência pela qual lutou apenas está a beneficiar um pequeno grupo. Por cima, alguns deles trabalharam com a Polícia Política do regime colonial português.

Não obstante ter sido um dos curandeiros, nunca se beneficiou de nada até aqui, continua a aguardar que  seja graduado nas Forças Armadas para usufruir de uma pensão de reforma na Caixa-Social, onde  muitos dos seus companheiros de jornada recebem este justo  benefício. Para ele, o mais importante é ver o seu sonho realizado, que consiste na construção de um monumento em memória às dezenas de milhares de compatriotas atirados no rio Kwanza e no mar e outros ainda enterrados nas valas comuns na zona de Barra de Kwanza.

Confessou que para efeito, contactou um arquitecto que concebeu um projecto de monumento que há cerca de três anos, enviou ao Presidente da República e ao ex-ministro dos Antigos Combatentes e Veteranos de Guerra. O referido projecto,  nunca obteve resposta, por não se rever no monumento construído, no município do Cazenga, para um pequeno grupo que se ousou chamar “Heróis de 4 de Fevereiro”.
 
 
 
Falar de 4 de Fevereiro é também falar da UPA?
Com certeza. Os protagonistas continuam a escamotear os factos históricos, pois houve uma certa ligação com o movimento nacionalista UPA, através do Cônego Manuel das Neves, Neves Bendinha, Salvador Sebastião e outros, independentemente do movimento ter tido um carácter nacionalista e patriótico. A verdade é que esse assalto não tem nenhuma ligação com o MPLA. O meu pai falava da UPA, e consequentemente, de Patrice Lumumba e Kasavubo, primeiro-ministro e Presidente do Congo Belga, respectivamente, e outros dirigentes do movimento independentista dos Congos.

Ainda assim, as populações da região de Icolo e Bengo, lideradas pelos comandantes Ribeiro Itembe, Barroso, Tala Hady, Desta Vez, Cadete e Kunda, durante muitos anos lutaram em nome da UPA, e sempre que fossem a uma aldeia com o objectivo de raptarem alguns populares, para engrossarem o seu efectivo, fizeram-no em nome da UPA. Alguns destes comandantes só aderiram ao MPLA nos últimos anos da década de 1960, porque sabe-se que a ligação entre os guerrilheiros da 1ª Região Político Militar e a direcção do MPLA, baseada em Brazaville, só se efectivou nos últimos anos da referida década, pelos comandantes, Monstro Imortal, Valódia, Cesar Augusto, Kiluanje, Itembe e outros.

O comandante Kiluanje, várias vezes teve encontros com alguns mais-velhos da região de Cassoneca. O local das reuniões era a loja do senhor Gomes, branco português, progressista, pois este homem, foi o único branco que, não participou no assassinato dos autóctones. O mesmo comandante e o Ingo, primo do Sidónio, vinha sempre na companhia do chefe Horácio Pedro Ordena, que era natural de Kissembe. Este foi morto à paulada por alguns populares das margens do Kwanza, quando se encontrava naquela região em missão de serviço de mobilização das populações.

Deve-se render sentida homenagem pelo trabalho realizado pelo Sr. Sidónio, então regente algodoeiro, que enviava permanentemente alguns jovens para a guerrilha e para disfarçar enviava uns tantos para a PIDE/DGS, na sua maioria velhos com quem trabalhava, como no caso do meu pai, Manuel António (Ndondo), Francisco Pulga, João da Silva Kinjinji, Agostinho Manuel e outros velhos que participaram na luta de libertação do país. Não obstante, o trabalho positivo desenvolvido por este português, numa declaração do MPLA, tornada pública após a proclamação da Independência foi tido como traidor, sem fazer menção aos feitos positivos realizados na 1ª Região Política Militar, em prol da luta pela Independência do país.

Muito embora a acção gloriosa de 4 de Fevereiro não tivesse sido conhecida a sua esperada sequência lógica e natural, por falta de estratégia político-militar, um mês depois foi retomada pela UPA no norte do país (Úcua, Nambuangongo e Quibaxi e outras regiões) com  ataque verificado aos 15 de Março de 1961. O MPLA ignorou esta data importantíssima para a história do país. Devia ser o 15 de Março um verdadeiro feriado Nacional.
 


O nacionalista Cônego Manuel das Neves também teve um papel importante nesse assalto?
Sim! O Cônego Manuel Joaquim Mendes das Neves, ínclito nacionalista, nascido aos 25 de Janeiro de 1896, no Golungo Alto foi o centro dos acontecimentos da época. Na sequência do levantamento de 4 de Fevereiro de 1961, em Luanda, foi preso pela polícia política (PIDE) do regime salazarista aos 23 de Março de 1961 e no mês seguinte é deportado para Portugal onde ficou encarcerado na cadeia de Aljube, tendo aí permanecido até a sua morte em 1966.

O Cônego Manuel das Neves, conhecedor das reais aspirações do  povo, apercebeu-se igualmente que a luta armada só poderia vingar se ela tivesse como sustentáculo as populações mais oprimidas. Por esta razão, através de emissários, estabeleceu contacto com a direcção da UPA instalada então em Leopoldville, capital do Congo-Belga, hoje República Democrática do Congo.

O 15 de Março de 1961 é a data do verdadeiro início da luta de libertação do país de facto, pois, a acção dos heróis de 4 de Fevereiro, não teve sequência por falta de estratégia, como já frisei, depois da acção os seus protagonistas na sua maioria fugiram, foram perseguidos e mortos um por um. Poucos escaparam!
 


Mas, o MPLA tem, em várias ocasiões, assegurado que esta acção foi da sua autoria?
Pura mentira. O MPLA encontrava-se na Guiné Conacry, mas aproveitando-se do silêncio dos seus protagonistas, o então Comité Director do MPLA, baseado naquele país, concebe e delibera um comunicado, onde assume o assalto, como sendo seu feito, liderado à distância em articulação com a ala interna do movimento. Este comunicado foi divulgado em todas as rádios da época, tendo mobilizado a comunidade internacional, os países africanos já independentes naquela altura, a América e alguns países do então bloco socialista do Leste Europeu. Desta mobilização conseguiu-se obter meios financeiros e materiais, tais como armamento e outros equipamentos, bem como meios referentes à assistência médico medicamentosa. Para que estes meios fossem entregues, foi necessário mobilizar alguns homens. Com os parcos equipamentos militares que dispunham, convidaram algumas instituições internacionais, a ONU e a OUA.

Estas declarações sobre a assumpção do assalto às cadeias de Luanda verificado aos 4 de Fevereiro de 1961, foram prestadas pelos dois protagonistas da referida acção, fundadores do MPLA e na altura membros do Comité Director, órgão máximo do MPLA – Movimento, nomeadamente doutores Eduardo Macedo dos Santos e Hugo de Menezes. Estiveram presentes neste encontro os doutores Manuel Vidigal, Justino Pinto de Andrade, Vicente Pinto de Andrade, Joaquim Pinto de Andrade e entre outros, aquando da sua adesão ao Partido Renovador Democrático (PRD), que teve lugar na sede do PRD.
 
Quanto mais, a paternidade de 4 de Fevereiro de 1961 é descrita por Afonso Dias da Silva, numa carta confidencial que dizia: “O MPLA surge duma idéia posta por Viriato da Cruz, após à conferência de Tunis em fins de Janeiro de 1960, durante a qual os angolanos do grupo de Conacry, enquadrados no Movimento Anti-Colonial (MAC), encontraram sérias dificuldades na sua movimentação política...”.


Este é um extracto da referida carta confidencial de um homem que diz ter participado num encontro no consulado geral britânico e, por ironia de destino, era dirigente do hotel próximo que na clandestinidade desempenhava as funções de conselheiro e colaborador chegado do Cônego Manuel das Neves nas suas actividades políticas e seu professor no seminário de Luanda, primo directo do arcebispo de Angola e bispo de São Tome e Príncipe, Dom Moisés Alves de Pinho e no circulo governamental da colónia mantinha sólidas amizades junto das mais altas esferas palacianas a par de um relacionamento a todos os níveis amistosos com personalidades de relevo na sociedade luandense.