Luanda - Dentro de poucos dias Angola comemora nove anos de paz, um acontecimento que marcou a vida de cada angolano e também a região e o continente. As mudanças foram tantas e tão profundas que muita gente já nem se lembra do que vivíamos antes. Ainda bem que assim é, pois não podemos ficar ancorados no passado. O caminho é para a frente e todos somos chamados a percorrê-lo porque é a única forma de darmos o nosso contributo na construção do futuro.


Fonte: Jornal de Angola



Hoje pouco interessa se todos cumprimos a nossa parte para a conquista da paz. Mas ninguém está dispensado de fazer tudo para conservá-la nem da construção de uma sociedade mais justa e equilibrada. Os anos de guerra foram de tal forma destruidores que todos somos poucos para a reconstrução da Pátria. E falo das feridas sociais, das ruínas que marcam as nossas aldeias, vilas e cidades e do desmantelamento moral e físico que atingiu tantos angolanos.



Precisamos de uma força humana poderosa para levar até ao fim a reconstrução. E precisamos de tempo. Como é óbvio, o que foi destruído durante décadas não se reconstrói em nove anos. É uma empreitada de gerações e não se concretiza num passe de mágica.



Se todos formos capazes de dar tudo o que temos nesta construção, mais depressa fica concluída a obra. Muito ou pouco, temos de dar. Mas estes nove anos mostraram que há quem prefira ficar sentado em cima do muro ou na margem do rio do trabalho à espera que chegue a sua vez. Quem tem este comportamento nada vai conseguir porque os eleitores sabem quem faz e quem desfaz, quem apresenta obra e quem nos anda a encher a barriga de conversa fiada.


Os angolanos já foram tão enganados que conhecem todos os truques, todas as manhas e artimanhas, todas as falinhas mansas, todos os iluminados que têm soluções melhores mas quando chega a hora de produzir, de realizar, de concretizar, desaparecem e só regressam quando está tudo feito. Retomam o ciclo, criticam, dão palpites, observam cuidadosamente o trabalho dos outros, pegam na máquina de calcular e voltam a ditar as suas leis e a apresentar os seus projectos virtuais.



Em nove anos fizemos muito. A obra realizada é colossal. Mas maior era a destruição. Mais descomunais são os problemas que temos de enfrentar no quotidiano. Todos os dias resolvemos uma parte. Mas ficam outros problemas por resolver. Quem tem a responsabilidade de reconstruir a país não baixa os braços, apesar das dificuldades. A persistência, a coragem, a perseverança de quem nos governa conseguiu vitórias retumbantes nas áreas da saúde, da educação, da reinserção dos desmobilizados da guerra, na integração dos refugiados, no assentamento dos deslocados. Isso não tem preço.



Em nove anos foi possível pôr a funcionar uma economia destroçada. Há cada vez mais comunidades rurais empenhadas no combate à pobreza. Nascem em todo o país projectos económicos que estão a mudar a face de Angola. Os índices de desenvolvimento humano deram um salto notável. A comunidade internacional reconhece esse esforço gigantesco e os angolanos sentem no seu quotidiano grandes melhorias nas suas vidas.



Há comunidades em Angola que pela primeira vez em séculos – repito, em séculos – de existência têm água potável, luz eléctrica, postos de saúde e escolas. Esses angolanos não precisam de uma máquina de calcular para saberem quanto ganharam com os nove anos de paz. Esses angolanos não precisam de uma máquina de calcular para saberem quanto ganharam com os nove anos de paz.



Mas sabem também que têm agora o que nunca tiveram. Por isso, reconhecem melhor que ninguém o quanto a guerra prejudicou os angolanos. E também sabem de quem é a responsabilidade das destruições e dos anos de morte e angústia.



Quem hoje leva aos angolanos o progresso e o bem-estar, são os mesmos que ontem lhes defenderam as vidas e os bens. Os que os acolheram quando fugiram das suas aldeias e das suas lavras. Quem hoje lhes garante a paz, ontem garantiu a vida, a liberdade e a democracia.



Para o ano temos eleições no figurino previsto na nova Constituição da República. Ninguém vai apresentar ao eleitorado melhor programa do que os dez anos de paz e as suas conquistas. Não são necessárias promessas. Basta mostrar a obra realizada e os resultados alcançados nos últimos anos.



Pode ser que alguns partidos se apresentem, mais uma vez, de máquina de calcular nas mãos apresentando contas cujos resultados só eles têm ciência para compreender. Vão seguramente fazer imensas críticas, dizer mal de tudo e de todos. Mas não vão apresentar um único projecto concluído, uma única ideias realizada. Só palavras vistosas, ainda que desprovidas de substância. Mas todos sabemos que conversa não enche barriga.


É claro que podem dizer aos eleitores que calaram as armas e não voltaram a empunhá-las. É verdade. Mas também este argumento é pobre, porque os angolanos sabem muito bem qual é o preço que estão a pagar por estes gloriosos nove anos de paz. Não há máquina que calcule com precisão esse número. E ainda bem, porque a paz não tem preço para um povo que sabe demasiado bem quanto custaram os anos de guerra.
Nem tudo tem preço.