Luanda -  Às portas do dia 22 de Fevereiro de 2011, data em que, de uma ou de outra forma, o País rememora o líder-fundador do Galo Negro, o SA entendeu por bem perorar com o deputado à Assembleia Nacional (AN) pela UNITA Paulo Lukamba Gato sobre a saga de Jonas Malheiro Savimbi no que tange aos últimos dias da «sua» guerra de guerrilha de aproximadamente trinta anos para «independência total» de Angola.

 

*Real Soares
Fonte: SA

Paulo Gato também «miou» sobre o final trágico do velho guerrilheiro varado - nas chanas do Leste (do País), província do Moxico - pelas balas disparadas por um número restrito de «comandos» da Unidade Anti-Terror (UAT), apoiados por efectivos das Forças Armadas Angolanas (FAA) que contaram com o concurso primacial do então Serviço de Informações (SINFO), hoje Serviços de Inteligência e Segurança do Estado (SINSE). O antigo  Secretário-Geral do Galo Negro  não deixou de falar do impacto do fim da Guerra Fria na luta que a UNITA travava contra o Governo angolano, a «traição» do «amigo americano», o apoio material e financeiro dos franceses para a campanha eleitoral de 1992.

 

General reformado das FALA – braço armado da UNITA -,  o interlocutor do SA conta quando, onde e como teve o último contacto com o líder-fundador do seu partido e revela como a «Nova Ordem Mundial», emanada do fim da Guerra Fria, fez Jonas Savimbi perder as suas principais moedas de negociação com o Governo. Mais: (Não) Explicou por que razão foi Abreu Kamorteiro a assinar os Acordos de Paz, a 2 de Abril de 2002, no Parlamento angolano, em Luanda, e não ele, enquanto SG do seu partido e líder da extinta Comissão de Gestão do Galo Negro.

 
 
Semanário Angolense – O senhor tem um filho com o nome de guerra de Jonas Savimbi.

Lukamba Paulo Gato – De facto, um dos  meus filhos chama-se Alberto dos Jagas Lukamba Paulo. “Jaguar Negro dos Jagas” era o nome de guerra de Jonas Savimbi. O meu filho, que tem hoje 14 anos de idade, sabe que leva parte do nome  de guerra de um homem que marcou a História deste País, desde os primórdios da Luta de Libertação nos anos 60 à data da sua morte, no início do Século XXI.

 

SA – Passados cerca de dez anos, olhando para trás, valeu a pena o esforço para o alcance da paz que vivemos?

PLG – Hoje estamos em condições de dizer em voz alta e bom som, neste País, nunca mais à guerra. Mas como proceder para que se evitem conflitos sociais que resvalem para o antagonismo? É preciso que os dirigentes angolanos aprendam com os erros do passado. Jonas Savimbi foi um líder de convicções muito profundas e levou-as até às últimas consequências da sua lógica. Chegou a ser descrito por um historiador togolês como sendo "l´homme des grands reffus", o homem das grandes recusas. Recusou o colonialismo português, desde muito jovem ainda na UPA; recusou ainda toda e qualquer outra dominação estrangeira.


No entanto, o fim da Guerra Fria, na última década do século passado alterou profundamente os interesses geoestratégicos sobretudo da potência vencedora, o que de certo modo precipitou certas tomadas de decisão no que diz respeito à resolução de alguns conflitos regionais. E talvez Jonas Savimbi não tivesse compreendido  que o fim da Guerra Fria iria representar em certa medida o atenuar das  chamadas grandes clivagens  ideologicas em benefício dos interesses económicos. Portanto, há uma série de perguntas que hoje, à distância no tempo, me coloco. Tal como o General (Charles) De Gaulle, que depois de tanto esforço e luta para libertação da França contra a ocupação nazi, não previu que pouco  mais 20 anos depois, a juventude do seu próprio país, que tinha feito dele um ídolo, fosse revoltar-se a dado momento a ponto de o levar à demissão.  

 

 SA - Está a falar de “Maio de 1968”?

PLG – Exactamente. A maior aspiração dos jovens franceses, em 1968, era a de desfrutar dos beneficois  da paz e da liberdade e do desenvolvimento mais do que outras considerações.


SA – Jonas Savimbi não soube ler os sinais dos tempos?

PLG - Isso pode ter acontecido. Os grandes homens também são humanos e podem não ter necessariamente, a um dado momento, a leitura mais exacta dos sinais dos tempos. O fim da Guerra Fria criou também aquilo a que chamo “businessisação” da política. Teria Jonas Savimbi, um homem com uma grande convicção ideológica, previsto que os interesses económicos poderiam a certa altura da História comandar os destinos do mundo? Talvez não! Tudo isto criou várias dificuldades para UNITA. A forma como os ocidentais pensaram ajudar a solucionar aquele que foi um dos conflitos regionais decorrentes da Guerra Fria, também não foi das melhores. O interesse económico dos ocidentais pesou mais do que o desejo dos angolanos para uma verdadeira paz e reconciliação.

 

SA – Esta é uma indirecta para Portugal?

PLG – Não! Portugal foi apenas um actor, não  o mentor. O mentor foi o vencedor da Guerra Fria. Hoje temos uma situação quase semelhante no nosso Continente, o caso da Cote D’Ivoire. E é daqui do nosso País que partem ideias para não se recorrer à força (das armas) e não interferência da Comunidade Internacional. Mas o que é que se passou aqui? Pela primeira vez vimos as Nações Unidas a aplicarem sanções irracionais contra uma das partes (UNITA), criando um sentimento de impunidade e arrogância à outra parte (Governo). Mesmo quando depois se disse que se iria atribuir o cargo de vice-presidente a Jonas Savimbi para se sair da crise. De facto não era a vice-presidência. O que foi oferecido a Jonas Savimbi foi o posto de "vice-presidente do vice-presidente."


SA – Quem seria vice-presidente de facto?

PLG – Seria alguém ligado ao Presidente (José) Eduardo dos Santos e ao MPLA. 

 

SA – Quem seria…?


PLG – Não sei quem seria! O XVII Congresso do partido (UNITA), no Bailundo em 1996, analisou esta situação. Mas quando se aprofundou a proposta e chega de Luanda a informação segundo a qual Jonas Savimbi seria o segundo vice-presidente, eu via o líder da UNITA de forma desconfortável, pela sua personalidade e carisma, aceitar um posto que o relegava para o terceiro nível. Tudo isto foi ditado pelos interesses económicos das potências ocidentais que se precipitaram para que houvesse uma solução qualquer do nosso conflito. A partir de 1991/2 Jonas Savimbi não poderia mais sobreviver ao peso colossal dos interesses do Ocidente. O Ocidente não teve em conta o futuro dos angolanos. Por isso é que hoje temos uma democracia completamente manca. Basta olhar para Assembleia Nacional onde o partido no poder (MPLA) tem 191 assentos e o segundo partido (UNITA) tem 16. Isso não é bom nem para o País,  nem para o próprio MPLA, muito menos para a nossa jovem democracia. Com oitenta e um porcento não é possível a humildade necessária para manter-se perto das preocupações profundas da população. 


SA – Voltando ao 22 de Fevereiro. A Comunidade Internacional sancionou a UNITA com os EUA à cabeça. Daí o facto de o Galo Negro ter-se virado para França no sentido de obter apoios?

PLG – Isso foi logo em 1991. O velho Jonas (Savimbi) fez uma leitura clara da situação logo depois da precipitação dos Acordos de Bicesse. Vou contar-lhe um episódio para ilustrar que se passou. Primeiro, ao nível da Comissão Conjunta Político-Militar (CCPM) houve uma mudança de atitude nítida por parte dos americanos a favor do Sistema. Segundo, terminada a guerra, quando nos preparávamos para as eleições de 1992, fomos ter com os americanos para ver em que medida poderiam ajudar financeiramente a campanha eleitoral da UNITA. Para nossa surpresa não nos deram nem sequer um dólar. Hábil diplomata que era, Jonas (Savimbi) criou imediatamente uma delegação que enviou a França para encontrar alternativas. 


SA – Quem chefiava esta delegação?

PLG – Esta delegação era chefiada por mim. Tinha estado dez anos em França como representante do meu partido. E conhecia bem os meandros da política e da diplomacia, apesar de na altura estarem os socialistas no comando. Conseguimos encontros ao mais alto nível que resultaram em apoios substanciais para a campanha eleitoral que fizemos, embora estes apoios tivessem chegado em cima da hora. Portanto, os interesses dos americanos estavam claros. Hoje entendo melhor. O raciocínio dos americanos deverá ter sido muito simples: entre Jonas Savimbi e José Eduardo dos Santos, depois da Guerra Fria, o interesse dos americanos estava mais virado para este último que só estava em posição de fazer concessões se quisesse sobreviver. Jonas Savimbi, por outro lado estava em posição de força. Por isso fazia parte o bloco que venceu a guerra fria. Logo, estava  em condições de fazer exigências. Portanto, a escolha dos americanos não poderia ser difícil.


SA – A lógica dos americanos foi “show me de money, I show you the way”.

PLG – That’s correct! Depois desta escolha, Jonas Savimbi não poderia mais sobreviver.

 

SA – Então a sorte de Jonas Savimbi começou a ser traçada depois da Guerra Fria?

PLG - Jonas Savimbi e a UNITA foram extremamente sacrificados na luta contra o expansionismo soviético na África Austral. Jonas Savimbi era um homem profundamente perspicaz, de convicções profundas. O carisma e a personalidade do patriota angolano, que era Jonas Savimbi, criaram receios à Comunidade Internacional. Portanto, só havia motivos para exclui-lo.

 

SA – Jonas Savimbi terá caído sobre a sua própria baioneta devido à teimosia que lhe era característica?

PLG – Jonas Savimbi tinha uma visão muito própria sobre Angola. Ele sabia que seria alvo de rejeição por parte dos seus adversários e não só. Aliás, os seus adversários foram demonstrando isso ao longo do tempo. Jonas Savimbi foi até às últimas consequências em nome das ideias que defendia. Jonas Savimbi dizia que não tinha conhecido nenhum general ou exército que tivessem sobrevivido depois do seu desarmamento. Portanto, quando as Nações Unidas determinaram, em Lusaka (Zâmbia), com base da “Resolução 435”,  o seu desarmamento e a entrega dos parcelas dos territórios controlados pela UNITA, ele (Jonas Savimbi) compreendeu que a sua principal moeda de negociação  tinha-lhe sido retirada.Ouvi o anúncio da morte de Jonas Savimbi pela RNA à volta de uma fogueira

 

SA – Como recebeu a notícia da morte de Jonas no dia 22 de Fevereiro de 2002?

PLG – Eu estava a Sul de Malange e o velho Jonas (Savimbi) no Moxico. Separamo-nos aquando da décima sexta conferência realizada em Abril de 2001 no Moxico.

 

SA – Qual foi objectivo desta conferência?

PLG – Era o de fazer uma análise da situação política e militar que se vivia no País naquela altura. Foi uma forma de fazer jus aquilo que era a característica do próprio velho Jonas (Savimbi), que era adaptar permanentemente um pensamento adequado a cada situação. Já na décima sexta conferência do partido, Jonas Savimbi abordava o problema da reconciliação interna, incluindo a situação da própria (UNITA) Renovada, numa perspectiva completamente diferente. Não expulsou o camarada (Eugénio) Manuvakola, nem o camarada (Jorge) Valentim. Aliás,  nenhum mentor ou fundador da UNITA Renovada foi expulso do partido. O presidente (Jonas Savimbi) dizia que aquela era uma fase da luta e que  iríamos dar à volta por cima. Iríamos  reconciliar-nos. Jonas Savimbi abordava também a possibilidade de uma negociação com o próprio MPLA. Mas a partir do momento em que a correlação de forças desequilibrou-se, em 2000, com a perda do Bailundo (Huambo) e do Andulo (Bié) e a UNITA relegada novamente para as matas, evidentemente que Luanda também mudou as suas perspectivas. Luanda estava numa outra lógica. Ouvimos pelo rádio os cenários que haviam sido traçados.

 

SA – Rendição, captura ou morte.

PLG - Estava eu no norte quando velho (Jonas Savimbi) chamou-me, a mim e a outros camaradas, pelo rádio para dar corpo ao seu pensamento quanto ao retorno ao Processo de Paz. Mas como disse, mudaram-se os tempos,  desequilibrou-se a correlação de forças no terreno e obviamente tomaram-se outras decisões. Tive o último contacto com o velho (Jonas Savimbi) no dia 15 de Janeiro de 2002.

 

SA – Via rádio?

PLG – Sim, via rádio. Ele (Jonas Savimbi) dizia-me que eu não estava longe dele. E que aguardasse por orientações. Foi o último contacto. No dia 22 (Fevereiro de 2002) ouvi, à volta da fogueira,  pela Rádio Nacional de Angola (RNA) que Jonas Savimbi tinha morrido em combate. Dois ou três dias falaram-nos também da morte do vice-presidente (António Dembo).


SA – Estava com quem?

PLG – Estava com Marcial Dachala, Alcides Sakala, engenheiro Blanche, enfim, estava com  quatro membros do Comité Permanente da UNITA. Aliás, logo após a morte do presidente (Jonas Savimbi) enderecei, via rádio, uma mensagem ao vice-presidente (António Dembo) para  analisarmos a situação no sentido de tomarmos as medidas que se impunham. Depois de dois dias não obtinha resposta. Então perguntei ao engenheiro Blanche que tinha sido director de gabinete do vice-presidente (António Dembo), qual era a prática do vice-presidente? Ele (vice-presidente) responde as mensagens no mesmo dia? Ele respondeu que o vice-presidente respondia no mesmo dia. E eu disse que já lá iam três dias. Depois ouvi dizer que o vice-presidente também tinha morrido. Então compreendi que tinha chegado o momento para o Secretário-Geral, que era eu, assumir as suas responsabilidades. Não foi fácil por que já havia sinais de divisão. Havia a intenção de se separar as Forças Armadas (FALA), etc.


Fui obrigado a puxar dos meus galões, como se diz, e chamar a mim a responsabilidade política e militar para que pudesse dar orientações. Eu e os meus camaradas analisamos a situação do momento, vimos os vários cenários e fizemos a opção que fizemos. E penso que, naquelas circunstâncias, foi a melhor opção. Não foram os militares que fizeram a paz em AngolaSA - Como estabeleceu contactos com as FAA?PLG – Havia colegas meus que já estavam sob custódia das FAA, nomeadamente o general Kamorteiro. Foi através deles que se estabeleceram as pontes para o inicio de uma negociação. Os primeiros contactos foram feitos na base que me encontrava, à margem direita do rio Muconha. Depois constituiu-se a equipa negocial e redimensionou a negociação e enviarmos a delegação ao Moxico. Eu saí da minha base para o Moxico no dia 2 de Abril de 2002. Dia 4 de Abril cheguei a Luanda para assistir a cerimónia da assinatura dos Acordos de Paz no Parlamento.

 

SA – Por que razão foi o chefe do Estado Maior da FALA, general Kamorteiro, a assinar os Acordos de Paz não o senhor enquanto SG?


PLG – Kamorteiro era o chefe do Estado Maior das FALA.


SA – Mas não deveriam ser os políticos a assinarem os Acordos de Paz?

PLG – É isto que ensina a minha escola (política).


SA – Então o que foi o que se passou?


PLG - Diz-se aqui à boca grande que os militares fizeram a paz. Isto não é verdade. Os militares não fizeram paz nenhuma. Em nenhuma parte do mundo os militares fazem a paz. A guerra ou paz é feita pelos políticos. Os políticos usam as forças armadas para fazerem a guerra e a paz.

 

 SA - O senhor foi passado para trás?

PLG – Foi assinado o Acordo de Paz, isto é o mais importante. Fiz o discurso lido pelo general Kamorteiro.

 

SA – Por que razão não foi o senhor a assinar os Acordos de Paz?

PLG – Deveria ter assinado com o meu interlocutor, hoje vice-presidente da República (Fernando da Piedade Dias dos Santos) ou ainda com o Presidente da República (José Eduardo dos Santos).

 

SA – Mas por que razão não foi o senhor a assinar?

PLG – Já tive vontade de fazer essa pergunta ao próprio Presidente da República (José Eduardo dos Santos), mas o facto de não ter assinado os Acordos de Paz não me tira o sono. O mais importante é que o Acordo de Paz foi assinado e hoje temos paz.

 

SA – Acha que houve a intenção de ofuscá-lo?

PLG – Houve sim senhor, mas não quero mais pensar nisso. Quero que a paz se consolide, que todos os angolanos possam usufruir da paz.  Ben-Ben foi enterrado em Joanesburgo (África do Sul) pela própria família 

 

SA – Os passadores, o relógio e o fio de ouro de Jonas Savimbi foram entregues ao general Nunda, actual chefe de Estado Maior do Exército. Quem terá ficado com pasta dos dólares e dos diamantes de que muito se fala?


PLG - Nunca me preocupei em saber se havia ou não pasta com dinheiro ou diamantes. O mais importante para mim foi o fim da guerra.

 


SA – Que informações tem dos corpos mortos de Ben-Ben, Salupeto Pena, Alicerces Mango e Jeremias Chitunda e qual é a posição do seu partido em relação a isso?


PLG – Não tenho nenhuma informação sobre isso. Provavelmente a Direcção do meu partido tenha. É tradição negro-africana e banto terminar-se um óbito quando se enterram os mortos. E quando não se vêem os corpos, fica-se na incerteza. 

 


 SA – Confirma que o corpo de Ben-Ben acabou numa vala comum sul-africana?

PLG – Ben-Ben morreu na África do Sul e foi enterrado pela própria família em Johanesburgo.

 

SA – A UNITA não pretende reclamar os corpos de Salupeto Pena, Alicerces Mango e Jeremias Chitunda?

PLG – Penso que sim. É um dever do partido reclamar os corpos destes militantes. Os camaradas encarregados deste assunto devem ter mais informações. É preciso solucionar definitivamente este problema.

 

 SA – Como estão acomodadas as viúvas e filhos de Jonas Savimbi?

PLG – As informações que tenho apontam que as viúvas e os filhos de Jonas Savimbi têm vivido de apoios pontuais de pessoas de boa vontade. Não há um apoio institucionalizado para apoiar as pessoas mais sensíveis, viúvas, idosos e crianças. Com o fim da guerra esqueceu-se destas pessoas.

 


SA – Foi SG da UNITA. O que diz aos militantes que estiveram consigo na mata até ao dia em que fez o último tiro?

PLG – Você ainda acredita naquilo que nos disse em 2002? Esta é a pergunta que me fazem.

 

SA – E o senhor engole em seco?


PLG - Fui eu e os meus colegas da Comissão Permanente que dissemos: paremos a guerra! Amanhã será um dia diferente. Vamos para uma negociação Estávamos conscientes de que partíamos para uma negociação desequilibrada. A melhor opção foi a negociação desde que as promessas fossem cumpridas. Promessas para um amanhã melhor para aqueles que lutaram.  Confesso que me sinto impotente perante as grandes dificuldades de hoje. Há homens e mulheres, das FALA e das FAA, que foram desmobilizados e estão a viver inúmeras dificuldades. Com o mínimo de esforço financeiro podia-se minorar estas dificuldades, criando-se mecanismos de apoio ao Programa de Reconciliação Nacional.


É preciso apoiar a mão-de-obra que a guerra libertou mas que o processo de Reconstrução Nacional rejeita em benefício de mão-de-obra expatriada primária para fazer o trabalho braçal. Bastaria o mínimo de vontade política e esforço financeiro para enquadrar esta mão-de-obra neste tremendo processo de Reconstrução Nacional.