Luanda - A 22 de Fevereiro de 2002, morria em combate nas chanas do leste de Angola, na província do Moxico, Jonas Malheiro Savimbi.  Para a maioria de angolanos e africanos, em geral, Jonas Malheiro Savimbi foi o homem que encarnou o combate sem tréguas contra o colonialismo português e o social imperialismo em África; encarnou, de facto, o combate contra todas as formas de opressão e repressão.


Fonte: Club-k.net


Enquanto líder visionário, com coragem e carisma, lutou para despertar a consciência adormecida de milhões de angolanos maioritariamente das zonas rurais, para o combate pela liberdade e pela dignidade. Deu uma grande contribuição à luta contra todas as formas de dominação. O sonho de liberdade dos povos de Angola, conquistado a 11 de Novembro de 1975, com a proclamação da independência, logo se desvaneceu, fruto de um nacionalismo fracturado. Agudizaram-se as contradicções entre os Movimentos de Libertação Nacional. O país mergulhou no abismo do tribalismo, do regionalismo e do nepotismo, levando quase a destruição da alma angolana. As tensões sociais subiram em espiral e a guerra civil, fratricida e prolongada foi inevitável.

 

De facto, Angola, enquanto vítima da guerra-fria, transformara-se, logo após a independência, num palco de confrontação entre as duas superpotências, que se digladiavam no plano ideológico para a conquista do poder mundial. Angola, convertera-se, assim, sob a ocupação da Rússia e de Cuba, “na trincheira firme da revolução em àfrica”, usando o slogan de Agostinho Neto, levando o país à guerra civil.

 

No quadro da estratégia global da União Soviética, Angola se transformou, de facto, numa base militar das forças do pacto de Varsóvia, com papel activo político, diplomático e militar, enquanto “ trincheira” em Àfrica, no contexto da disputa entre a Rússia Soviética, comunista e autoritária e o Ocidente democrático, liberal e capitalista.

 

Na década dos anos setenta, um ano após a proclamação da independência, soldados cubanos, auxiliados pelas forças governamentais, ocuparam todas as cidades de Angola, fazendo de Angola a linha da frente para o assalto final à Africa Austral. A última grande cidade angolana tomada por soldados cubanos foi Nova Lisboa, hoje, Huambo, a 8 de Fevereiro de 1976. Perante as novas circunstâncias, a UNITA viu-se obrigada a realizar um recuo estratégico das cidades para as matas e encetar uma nova caminhada rumo a liberdade, dignidade e democracia. Diante deste novo quadro militar, Jonas Malheiro Savimbi pegou novamente em armas para combater os novos invasores russos e cubanos, contando apenas com as suas próprias forças, sem apoio do Ocidente, apenas com ajuda dos povos de Angola, que engrossavam as fileiras da resistência popular generalizada, contribuindo com mancebos, informações e víveres  


Rodeado por brilhantes jovens politicos e militares, entre oficiais generais, então sob o seu comando, alguns dos quais ainda em vida, Jonas Malheiro Savimbi estancou, no fim da década dos anos 80, na província do Cuando Cubango, a progressão das forças cubanas, russas e do exército angolano, que pretendiam, de facto, ocupar a Namíbia e a África do Sul. Gorados esses intentos, e desfeiteadas em violentos combates que se travaram na extensa região do Município do Kuito Cuanaval, sem nunca terem ocupado a Jamba, - uma extensa região libertada sob domínio da UNITA e do tamanho da França - ocupando parte da província do Cuando Cubango e do Moxico, emergiu um novo quadro político, que exigia soluções políticas e diplomáticas e não mais militares. Sem vencedores nem vencidos, o impasse das batalhas do Kuito Cuanval abriu caminho a negociações directas entre todos os beligerantes, ou seja, entre russos, cubanos, sul-africanos, americanos, a UNITA e o governo angolano.


Sob a mediação do governo americano, na pessoa de Chester Croker, então Subsecretário para os Assuntos Africanos, a Casa Branca propôs a política do “ linkage”, que determinou a retirada simultânea das forças cubanas e russas de Angola e sul-africanas da Namíbia, levando os Namibianos a proclamar a sua independência nacional em 1994. Em Angola, iniciarem-se negociações directas entre a UNITA e o governo angolano que conduziram a assinatura dos Acordos de Bicesse, em Maio de 1991. Estava, assim, encerrada uma página importante da história moderna de Angola.

 

Por conseguinte, desde a sua fundação, e, no longo percurso da sua história política e diplomática, Jonas Malheiro Savimbi fez alianças com a China Comunista de Mao Tsé-Tung nos anos sessenta. Celebrou acordos de cooperação e consolidou amizades pessoais com importantes dirigentes e líderes de países africanos, como Sedar Leopold Senghor, Hassan II, Houphouet Boigny  e Nelson Mandela, para citar apenas estes. Partilhou ideias e reflexões com Che Guevara em plena guerra colonial. Estabeleceu alianças tácitas com os sul-africanos nos anos 80. Foi recebido diversas vezes, e em apoteose, na Casa Branca e no Capitol Hill, no Congresso americano, em Washington, como “freedom fighter”, ou seja, como combatente da liberdade. Chegou a reunir na Jamba, os actores internacionais mais importantes da frente mundial de luta contra o expansionismo russo e cubano, incluindo os “Mujahedines do Povo” do Afeganistão. Criou a UNITA, em 1966, como destacamento mais avançado de combate contra o colonialismo e todas as forças de opressão e repressão. Fez da UNITA a vanguarda dos povos de Angola na longa luta pela liberdade e pela democracia até o dia da sua morte.


Como homem cometeu erros que a história registou. Como político, militar e diplomata concretizou o seu sonho, legando para as novas gerações dos povos de Angola, o multipartidarismo, enquanto contributo do seu longo combate por Àfrica e por Angola.


        
Alcides Sakala
Académico