Luanda - Viva (mesmo) a revolução? Estão neste momento em curso no norte de África alguns levantamentos massivos contra os poderes aí instituídos, que têm estado a ser caracterizados pela grande e pequena imprensa e pelos mais variados meios digitais como "revoluções populares espontâneas". Antes deles, variantes do mesmo fenómeno haviam ocorrido na Geórgia, na Ucrânia e no Irão, sempre amplamente publicitados pelos Media de todo o mundo.


Fonte: JA


Na Geórgia, em 2003, o presidente Eduard Shevardnaze foi deposto pela chamada "Revolução das Rosas" e em seu lugar subiu ao poder Mikheil Saakashvili, licenciado na Universidade George Washington e na Universidade de Direito de Nova Iorque. De acordo com o escritor britânico David Icke, "essa acção foi secretamente instigada pela CIA e pelo financiador milionário, também mentor e financiador de Obama, George Soros".

 

David Icke acrescenta que "Soros manipula os acontecimentos através de uma complexa rede de fundações e organizações que funcionam por todo o mundo, intimamente ligadas aos grupos da elite e às agências americanas e israelitas, o que inclui naturalmente a CIA e a Mossad. Foi esta rede Soros que, especialmente através da 'Open Society' treinou e financiou os estudantes georgianos nas artes dos protestos em massa e que apoiou a estação televisiva da oposição a cobrir os acontecimentos". A organização é conhecida entre nós, sobretudo através do activismo anti-regime de Rafael Marques.

 

Na Ucrânia, o presidente Viktor Yushchenko perdeu as eleições, mas afirmou que elas tinham sido fraudulentas. Os protestos em massa que se seguiram levaram a uma nova eleição, através da qual ele chegou ao poder.

 

Vitória antecipada

 

No Irão, em 2009, Mir-Hossein Mousavi, primeiro-ministro entre 1981 e 1989, afirmou também que ele é que tinha ganho as eleições e que a vitória do presidente Ahmadinejad, oficialmente por maioria de votos, tinha sido manipulada. Com base nisso incentivou os seus apoiantes a manifestarem-se publicamente. Não conquistou o poder, mas levou ao aumento das críticas internacionais contra o regime iraniano.

 

O investigador Paul Craig Roberts comenta assim a situação: "Foi feita a afirmação de que Ahmadinejad roubou as eleições, porque o resultado foi declarado muito cedo, após o fecho das urnas, para que todos os votos tivessem sido contados. Contudo, Mousavi reclamou para si a vitória algumas horas antes das urnas terem encerrado. Trata-se de uma clássica desestabilização da CIA, concebida para desacreditar um resultado contrário. Isto expressa-se numa declaração de voto antecipada".

 

Controlo da Eurásia

 

Algo a papel químico aconteceu recentemente na Costa do Marfim, onde só a pronta acção diplomática do Presidente José Eduardo dos Santos impediu que uma agressão exterior contra esse país fosse concretizada, lançando-o no caos e na guerra civil. O exemplo das eleições consideradas fraudulentas por Jonas Savimbi e o trágico recomeçar da guerra em Angola ainda estavam na memória de todos nós. Ainda durante a administração Bush, o neoconservador John Bolton afirmou que um ataque militar ao Irão só teria lugar se as sanções económicas e a "revolução popular" falhassem. David Icke analisa assim a situação: "O enfoque no Irão está ligado ao domínio de um local de reunião de uma força de combate global, a que o mentor de Obama, Zbignew Brzezinski, chama de 'Eurásia', a qual inclui gigantescas reservas de petróleo e de gás, dentro e à volta do Mar Cáspio. A Eurásia alonga-se do Médio Oriente e da Europa Ocidental até à Rússia e à China incluindo 10,6 por cento da superfície da Terra (36,2 por cento da área terrestre), servindo de lar a 4,6 mil milhões de pessoas, mais de 70 por cento da população humana. Brzezinski escreveu que quem controlar a Eurásia, controla o mundo. É isto o que se está a passar. Reparem na parte da Eurásia que rodeia o Irão e vejam quantos países estão, ou têm estado, sujeitos a instabilidade, tensões, terrorismo, conflitos, invasões e "mudanças" de regime. Nestes incluem-se a Geórgia, a Ucrânia, a Chechénia, Daquistão, Afeganistão, Paquistão, Iraque, Iémen e outros. Um pouco à esquerda vão encontrar a Síria e Israel".

 

Mudanças aparentes

 

Icke escreveu estas palavras mais de ano e meio antes dos actuais levantamentos nos países do Magreb, que ficam apenas ligeiramente um pouco mais à esquerda da Síria e Israel.


O mundo rejubila com a coragem e o voluntarismo dos jovens e de outros cidadãos árabes, nos seus legítimos anseios por mais liberdades e democracia.

 

Infelizmente, depois do entusiasmo inicial, quem continua no poder são as elites ou as forças armadas ligadas aos anteriores regimes, enquanto a situação económica e social desses países se degrada ainda mais rápida e profundamente do que antes, fragilizando-os e tornando-os mais vulneráveis a aventuras radicais internas ou mesmo a intervenções externas. Quem é que se encontra já em prontidão no Mediterrâneo para, na primeira oportunidade, abocanhar o petróleo líbio?


Só o evoluir da situação confirmará se é certa ou não a asserção de Tomasio de Lampedusa, segundo a qual é necessário que as coisas mudem para que tudo continue na mesma.


Sobre a Geórgia, mas com lúcida premonição sobre o que actualmente ocorre, David Icke escrevera em 2009: "Pretende-se dar a impressão de ‘revoluções populares’ espontâneas, porque isso oculta os acontecimentos de manipulação que envolvem os serviços secretos americanos, ingleses e israelitas. (.) As 'revoluções populares', como a que aconteceu na Geórgia, são na realidade golpes de estado disfarçados e assumem o mesmo padrão. Afirma-se que uma vitória nas eleições é fraudulenta e a isto seguem-se manifestações públicas. Invariavelmente, estas são simbolizadas por uma cor usada pelos manifestantes e foi por isso que a cor verde também foi usada pelos manifestantes no Irão, em 2009".

 

Rosa de Porcelana


Embora invocando razões diferentes, concretamente a longevidade e a insensibilidade do poder para o problema das massas, o mesmo padrão se registou nas "revoluções" do Norte de África, baptizadas de "jasmim" e de "rosa". Entretanto, por falta de comparência das massas (uma vez mais!), ficámos sem saber como se ia chamar entre nós a anunciada "revolução" de 7 de Março. Talvez "Rosa de Porcelana"…


O grave é que, enquanto nos distraímos com alegadas manifestações e vigílias, um outro processo segue imparável o seu curso. Para não sermos acusados de inventar fantasmas ou vagas teorias da conspiração, damos a palavra ao próprio Zbignew Brzezinski, mentor e actual conselheiro de Barack Obama, na sua obra "O grande tabuleiro de xadrez", publicada em 1997: "A forma como a América 'gere' a Eurásia é crítica. Um poder que domine a Eurásia, irá controlar duas das três regiões mais avançadas e economicamente produtivas do mundo. Um simples olhar do mapa sugere também que o controlo sobre a Eurásia IRIA FORÇAR PRATICAMENTE A SUBMISSÃO DE ÁFRICA (o sublinhado é meu!), tornando o hemisfério ocidental e a Oceânia em periferias, em relação ao continente central do mundo. Cerca de 75 por cento das pessoas do mundo vivem na Eurásia e a maior parte da riqueza física do mundo está lá, tanto em empresas, como enterrada no solo. Na Eurásia encontram-se cerca de três quartos das fontes de energia conhecidas do mundo".


Será que nos vamos conformar com o papel que nos é claramente definido nesse projecto global, ou vamos continuar a construir com seriedade e o esforço de todos nós um país capaz de lhe resistir? Quando voltarem a clicar para apelar a novas manifestações "digitais" entre nós, assegurem-se pelo menos de que não há nenhum cordelito preso ao vosso dedo.