Luanda - O regime angolano por intermédio de um editorial no Jornal de Angola, voltou a demonstrar a sua solidariedade com o ditador Muammar Khadafi que prometeu banho de sangue contra o seu povo em Bengazi. No editorial em referencia, o regime angolano faz fortes criticas a coligação militar americana que procura desarmar o regime daquele país Árabe. “Temos de questionar igualmente qual vai ser o país seguinte vítima de bombardeamentos e invasões em nome da democracia”, diz o  editorial usualmente escrito por  elementos  da presidência angolana cujo teor publicamos na íntegra.


Fonte: Jornal de Angola

“África tem de falar a uma só voz e exigir que esta guerra suja pelo saque do petróleo da Líbia termine imediatamente”

Os mísseis cruzeiro americanos começaram a rebentar na Líbia em nome da defesa das populações civis. Há algumas décadas, organizações da sociedade civil em todo o mundo faziam manifestações para que essas armas de destruição em massa fossem banidas. Os defensores da paz nunca conseguem impor os seus pontos de vista porque as indústrias bélicas têm um peso substancial nas economias dos países ocidentais.

 

O mundo assiste a mais uma tragédia, em nome da democracia e da paz. Os bombardeamentos à Líbia, até agora, ainda não foram classificados de "cirúrgicos" como aconteceu no Iraque. A hipocrisia tem limites. Quando se lançam bombas sobre uma cidade como Tripoli, é impossível não matar civis. Os órgãos de informação ocidentais, alinhados com os países que estão a bombardear aquele país africano, exultaram quando as bombas caíram no complexo residencial do Presidente Kadhafi.


Um complexo residencial não é uma base militar e muito menos um alvo a atingir para "proteger" civis. Nesse espaço vivem civis.

 

Muitos civis. Morreu ali muita gente inocente em nome da qual EUA, França, Grã-Bretanha e outros países ocidentais começaram esta guerra em África.


E neste ponto temos de fazer uma reflexão. É a primeira vez que uma coligação internacional ataca um país do continente com meios bélicos que ultrapassam largamente a capacidade de todos os países africanos juntos. A Líbia está a ser vítima de uma agressão internacional, com o beneplácito do Conselho de Segurança da ONU. Somos todos chamados a pensar no que vai acontecer no dia seguinte. E ao fazermos essa reflexão, temos de questionar igualmente qual vai ser o país seguinte vítima de bombardeamentos e invasões em nome da democracia.

 

O conceito de ingerência tradicional foi largamente ultrapassado quando uma coligação internacional liderada pelos EUA invadiu e destruiu o Iraque com base na mentira da existência de armas de destruição em massa, que eram uma ameaça a toda a região do Médio Oriente. Temos agora a Líbia e a repetição das mentiras. Numa operação minuciosamente preparada, que começou em Tunes e no Cairo, os países ocidentais estão a assaltar o petróleo da Líbia. Em nome da protecção de populações civis e da democracia.


Iraque e Líbia são vítimas do mesmo processo e dos mesmos argumentos falaciosos. Agora não podemos falar de ingerência, porque a situação real é tão grave que ainda não existe um termo que a defina em toda a sua dimensão.


O sistema está em colapso e é evidente que as potências ocidentais não têm dinheiro para comprar as matérias-primas de que necessitam. O petróleo é hoje pago a preços justos. Peritos internacionais defendem que o barril de "crude" deve custar cerca de 100 dólares. Como se sabe, durante décadas nem um terço valia. Os tempos mudaram no Médio Oriente, na América Latina e em África. Os países produtores começaram a exigir um pagamento mais justo pelo barril de petróleo. E aqui foi traçado o destino dos países produtores, sobretudo em África, Médio Oriente e América Latina.

 

A braços com uma crise sistémica que começa a pôr em causa as delícias da sociedade de consumo, as grandes potências ocidentais têm dívidas gigantescas e começam a ter dificuldades para garantir o seu pagamento. Com a crise de 2008 no sistema financeiro dos EUA, ficou à mostra a debilidade financeira dos chamados países ricos ou mais desenvolvidos do mundo. Não há dinheiro para pagar petróleo mas há mísseis cruzeiro e outras armas de destruição em massa que garantem o fornecimento de petróleo, à descrição, sem pagamento. A ONU e um extravagante conceito de democracia servem de capa à operação de saque.

 

África está sob forte ameaça. Não adianta fingir que os países africanos nada têm a ver com esta guerra suja, com esta agressão inaceitável a um país soberano, mesmo que tenha a bênção da ONU. Hoje as bombas caem sobre Tripoli e o alvo é o Presidente Kadhafi. Amanhã podem cair sobre qualquer outra capital africana rica em petróleo. Porque o que está em causa é apenas isso e nada mais. Se o Ocidente estivesse preocupado com a democracia e a liberdade dos povos, já há muito tinha arrasado várias capitais de países onde existem ditaduras medievais, sanguinárias e violentas. Não vale a pena nomeá-las, porque todos sabemos quais são. Os mísseis cruzeiros só não rebentam sobre esses países porque os EUA recebem petróleo dessas paragens a "preços de favor" para não se dizer que o fornecimento é gratuito.


África tem de falar a uma só voz e exigir que esta guerra suja pelo saque do petróleo da Líbia termine imediatamente. Esta operação atinge todos os africanos e todos os povos do mundo que prezam a liberdade e a independência.

 

Ninguém e em nome seja do que for, pode pôr em causa a soberania nacional da Líbia. Se existem problemas internos, só os líbios podem resolvê-los. Aceitar esta agressão, ainda que camuflada de boas intenções, é permitir que todos os países ricos em petróleo e outras matérias-primas estratégicas sejam igualmente esbulhados e destruídos.