Luanda -  Para qualquer conflito há sempre um leque vasto de soluções possíveis, mas algumas é vital que sejam imediatas. Adoptar uma posição clara e inequívoca sobre os conflitos que vemos eclodir no continente assume-se como algo inadiável e imprescindível.


Fonte: Jornal de Angola

O Presidente José Eduardo dos Santos  afirmou de forma inequívoca que  encoraja o diálogo

Os esclarecimentos prestados pelo ministro das Relações Exteriores quanto à posição de Angola relativamente às situações vividas na Costa do Marfim e na Líbia são inquestionavelmente oportunos.


Era indispensável acabar com as especulações abusivas relativamente à posição de Angola no conflito pós eleitoral que irrompeu na Costa do Marfim. A posição oficial do nosso país serve para dissipar dúvidas e falsas interpretações.

 

As autoridades angolanas afirmaram, desde a primeira hora, que Angola não alinhava na postura daqueles que defenderam que os fins justificam os meios. Os angolanos sabem, por experiência própria, que violência gera violência. Existem na Costa do Marfim interesses supremos a preservar, muito em particular a vida das populações, a paz e a estabilidade, que estão a ser postas em causa.


Não houve sequer um recuo de posições por parte de Angola, como de forma hipócrita avançaram determinados círculos. A necessidade de diálogo para uma saída pacífica da crise na Costa do Marfim foi sempre a tónica dominante da posição diplomática adoptada por Angola.

 

O Presidente José Eduardo dos Santos, aquando da cerimónia de cumprimentos de fim de ano, no dia 13 de Janeiro de 2011, afirmou de forma inequívoca que "o Executivo angolano apoia e encoraja o diálogo e a negociação para a saída da crise neste país irmão e acredita que fazendo-se prova de vontade política, realismo e sensatez é possível encontrar-se uma solução que coloque acima de tudo os legítimos interesses de todo o povo da Costa do Marfim".

 

Tudo quanto se mostrava necessário era que o continente desse provas da sua maturidade, experiência e capacidade para que a solução dos seus problemas parta de dentro e nunca de fora de África. O Chefe de Estado angolano defendeu, ainda sobre a crise na Costa do Marfim, que "aqui, a África, através das instituições competentes da União Africana, deve fazer prova da sua maturidade, experiência e habilidade, para resolver os problemas do nosso Continente, mesmo os mais complexos e delicados, não esperando soluções inadequadas impostas do exterior".


Angola pode congratular-se pelo facto de defender uma saída pacífica para a crise da Costa do Marfim, amplamente comungada e aceite pela maioria dos Estados membros da União Africana. Não pode haver espaço para outras interpretações, a menos que os fins sejam os de denegrir a imagem do Governo angolano.

 

Os esforços para que as decisões da União Africana se sobreponham a todas as outras iniciativas, às quais as partes devem submeter-se, é também parte do que a diplomacia angolana há muito defende. Afigurava-se igualmente como relevante tomar uma posição em relação aos últimos desenvolvimentos da crise na Líbia.


A posição de Angola sempre se pautou pela observância dos instrumentos jurídicos internacionais e demais mecanismos de regulação de diferendos, em detrimento de soluções que põem em perigo a paz e a estabilidade. As palavras do ministro das Relações Exteriores espelham-no muito bem, ao afirmar que "a comunidade internacional tem de ter paciência e ir aos detalhes da compreensão do problema.


Temos de encontrar formas de ouvir os rebeldes, ouvir o que o Governo diz e fazer uma negociação pacífica, que possa permitir a reconciliação nacional". Fechar todas as portas ao diálogo é inviabilizar uma saída honrosa e digna, contrariando um eventual desfecho pacífico.


De facto, a posição precipitada tomada pelo Conselho de Segurança devia ter sido precedida de um trabalho exaustivo dos órgãos da União Africana que, como disse o ministro angolano, não conseguiu trabalhar no terreno com as diferentes partes.


É razoável e sensato alinhar no diapasão defendido por Angola, pela voz do ministro das Relações Exteriores, segundo a qual "não pode haver solução militar neste contexto, sobretudo se o padrão nalguns problemas for de dois pesos e duas medidas ou simplesmente uma ingerência".

 

As instituições da União Africana devem funcionar para evitar que situações como estas, em que o continente se vê ultrapassado por uma série de convulsões políticas e militares, voltem a repetir-se. A União Africana, uma instituição que se propõe vir a transformar-se num Governo continental, não pode ver-se a braços com problemas para os quais não foi chamada a pronunciar-se.


A organização continental precisa fazer-se ouvir, numa altura em que os desafios aumentam a cada dia que passa.