Luanda - A juventude angolana passará a ter, a partir de hoje, "uma outra visão sobre o que é exercer a cidadania", disse à Agência Lusa, um dos organizadores da manifestação pela liberdade de expressão realizada em Luanda.


Fonte: Lusa


Em declarações à Lusa, Kady Mixinge, estudante universitário, disse que "ainda que numa percentagem muito pequena" vai haver mudanças na visão do jovem angolano.

 

"Até há uns dias atrás, pensava-se que fazer uma manifestação é querer confusão, violência, guerra, nada disso. Este país é nosso, está no direito do angolano manifestar o que lhes vai na alma. Esperamos que o regime, o executivo angolano perceba o que foi partilhado aqui", disse Kady Mixinge.

 

Ao início da tarde de hoje, hora em que estava previsto o arranque da manifestação, compareceram "timidamente" perto de meia centena de jovens, número que foi aumentando e que passadas três horas já era de mais de uma centena.

 

Segundo Kady Mixinge, a organização esperava uma maior adesão, mas "o medo está enraizado na sociedade angolana".

 

"Estamos há nove anos em paz e é importante que as pessoas percebam a dinâmica que o país tem agora. Não queremos que angolanos nascidos nesta terra tenham medo de outros angolanos", afirmou.

 

Os jovens, todos entre os 20 e os 30 anos, munidos de cartazes, com vários apelos à liberdade de expressão e por melhores condições de vida da população, pediam respeito pela democracia em Angola.

 

"Esta é a terra dos nossos pais, dos nossos ancestrais, por isso merecemos ser livres, respeitados, que de facto a democracia não seja apenas um texto, mas uma prática quotidiana e constante. Queremos que o bem-estar comum sirva para todos angolanos", salientou Kady Mixinge.

 

O grupo de jovens vão no final da manifestação emitir as conclusões do evento, que pretendem fazer chegar ao Governo angolano, e em particular ao Presidente da República de Angola, José Eduardo dos Santos.

 

"Vamos pedir muitas coisas, que na maior parte dos casos têm a ver com o nosso tema de hoje que é a liberdade de expressão em Angola", sublinhou.


Relativamente ao comportamento da polícia, presente no local desde o início da manifestação, Kady Mixinge considerou "perfeito", acrescentando que a polícia se manifestou "completamente disponível e acessível".


Questionado sobre se esta iniciativa, com o arranque hoje em Luanda, irá expandir-se a outras províncias do país, Kady Mixinge referiu que "não se pensou no assunto", mas acredita que pode acontecer porque "a juventude de Angola está impregnada com o mesmo espírito desta manifestação".


Kady Mixinge disse esperar que os jovens que participaram hoje nesta que pode ser considerada uma manifestação "inédita" contra o regime, "reflitam sobre o momento de hoje e transmitam aos seus familiares e vizinhos o foi partilhado no Largo da Independência".