Luanda - A pobreza em Angola caiu para metade em nove anos de paz. Esta frase encerra uma realidade que deve ser analisada com profundidade, para todos compreenderem o que está em causa.


Fonte: Jornal de Angola

A verdade que conta

O colonialismo mergulhou os angolanos na pior das pobrezas: a perda da liberdade e da dignidade. E ao longo dos séculos acrescentou a esse crime hediondo, o esbulho das suas riquezas e o confisco dos seus destinos. Ainda estávamos a saborear a conquista da cidadania e a dar os primeiros passos pelos caminhos luminosos da liberdade e logo fomos forçados a enfrentar forças que queriam reduzir os angolanos à submissão e Angola a uma fonte gratuita de matérias-primas.

 

A pobreza gerada durante o colonialismo foi agravada drasticamente e a violência da guerra roubou a milhões de angolanos os seus lares e as suas vidas. Mais pobres, era impossível. Mas não nos rendemos. Não viramos a cara à luta, até que o último invasor fosse expulso do solo sagrado da pátria e os angolanos fossem senhores dos seus destinos, ainda que pobres e vendo a pátria em escombros. Sem liberdade, nada faz sentido. Sem dignidade, não há cidadania. Para não cairmos na pobreza irremediável lutámos denodadamente pela soberania nacional e pelo estatuto de cidadãos livres. Há nove anos, esse combate estóico chegou ao fim. E desde então pudemos, todos juntos, solidários e fraternos como sempre fomos, combater na trincheira onde todo um povo tenta liquidar a pobreza. Os resultados estão à vista e são reconhecidos pela comunidade internacional.

 

Neste trajecto glorioso tivemos parceiros que nos ajudaram. Como de resto decorre do compromisso que assumiram, quando assinámos o Acordo de Bicesse. Chegaram tarde, mas mais vale tarde do que nunca.

 

Hoje temos pela frente desafios de uma magnitude que exige a mobilização e o empenho de todos. É claro que não temos em Angola força humana para responder em todas as frentes. Mas fomos capazes, à nossa custa, de reduzir a pobreza de 70 por cento para metade. Não, não é apenas um número que está em causa. Estamos perante a felicidade, a esperança, sacrifícios sem nome, políticas correctas, promessas cumpridas, fraternidade, solidariedade, amor à pátria. É isto que está por trás dos números. É este o significado real de, em nove anos, termos reduzido a pobreza para cerca de 30 por cento. É este o desafio que nos espera: eliminar a pobreza em mais duas legislaturas. Ainda que seja uma meta demasiado ambiciosa, temos o direito de sonhar.

 

O Presidente José Eduardo dos Santos anunciou este feito histórico e as reacções foram nulas. Os habituais "analistas" ficaram remetidos a um silêncio comprometido, que lhes fica bem porque os seus compromissos não são com o sucesso do povo angolano.

 

Muito menos com o engrandecimento de Angola. Estão comprometidos com o oportunismo, com a irresponsabilidade, com os baixos truques de política de ocasião, ainda que alguns vivam do Orçamento Geral do Estado há muitos anos e custem aos cofres do Estado tanto como custa acabar com milhares de pobres. É o preço que a democracia tem de pagar e ainda bem que tem condições para alimentar estas vozes sem som, quando se trata de reconhecer os nossos feitos, as nossas vitórias, os nossos sucessos.

 

Os que conseguiram um estatuto social e económico que ultrapassou largamente os seus sonhos mais dourados, à custa do Estado, das suas instituições ou das suas fraquezas, não conseguem compreender o que significa ter água potável na aldeia, comida para as famílias, lavras sem minas, postos de saúde, acesso a um comprimido que pode salvar uma vida, clientes a quem vender o produto das suas colheitas, escola para os filhos. Por isso ficaram indiferentes a um dos factos mais marcantes na política angolana da última década. Conseguimos reduzir a pobreza de 70 para pouco mais de 30 por cento. É certo que este sucesso é tão retumbante que os deixa estonteados. Mas passada a surpresa inicial, já deviam ter felicitado os angolanos – porque esta é uma vitória do povo angolano – por terem conseguido, em tão pouco tempo, tão importante vitória no campo social.

 

A fronteira entre a pobreza extrema e uma vida digna está na escola da aldeia, na produção agrícola e pecuária onde antes existiam minas ou rebentavam obuses, na presença de um enfermeiro ou de um médico onde antes havia soldados armados ao serviço de quem queria confiscar-nos a pátria, no crédito para comprar sementes e adubos, nos transportes públicos, nas estradas, nas pontes, nos aeroportos, nos comboios que começaram a circular, nas habitações que são erguidas diariamente, aos milhares.


A pobreza extrema ficou para trás em milhares de aldeias, vilas e cidades. Mas ainda há muitas bolsas de pobres que temos de eliminar, custe o que custar. Quem acredita no futuro, vai continuar a lutar ao lado dos pobres por uma vida melhor. Os oportunistas vão continuar à espreita de um pretexto para travarem o progresso e a reconciliação nacional. Estão viciados na inutilidade e na retórica sem sentido. Conseguiram tudo e mais alguma coisa sem terem de fazer sacrifícios. Tudo lhes cai no regaço sem restrições porque se habituaram a servir vários amos ao mesmo tempo.


Mas os números não enganam. Aliás, pecam por defeito. O que conseguimos nos últimos nove anos no combate à pobreza já beneficiou todos os angolanos. Alguns ainda precisam de mais. E vão ter tudo do que necessitam. Têm a palavra de quem sabiamente nos conduziu até aqui.