Lisboa -  O 11 de Abril de 2011, com a detenção do antigo presidente ivoirense Gbagbo pelas forças conjuntas franco-onusianas, pode ter marcado não só o fim de um regime e a alteração de um rumo de uma potência regional como a reafirmação de uma antiga potência colonial e um novo estatuto das Nações Unidas.


Fonte: pululu.blogspot.com

Artigo bloqueado

Não foi só a queda, inevitável deposição, de Gbagbo e do seu consolado que se verificou na tarde deste dia face ao ataque das forças aerotransportadas francesas e da ONU sob ordem do Secretário-geral, Ban Ki-moon, apoiando as milícias republicadas de Ouattara como também o persistente apoio angolano, à revelia do que dimanava das cúpulas da União Africana, foi posto em causa e a afirmação de Angola, na região seriamente afectada com claros benefícios para a Nigéria, desde o início apoiante da causa de Ouattara.

 

Mas foi também uma alteração da posição da França como potência fiscalizadora e suserana, apesar das autoridades diplomáticas francesas persistirem que as suas forças somente “bombardearam alvos militares” em Abidjan e que depois foram os soldados milicianos leais ao presidente reconhecido pela comunidade internacional, Alessane Ouattara, quem entraram no palácio presidencial e detiveram Laurent Gbagbo, familiares e alguns dirigentes, tendo os franceses, segundo estes, se limitado a respeitar as “resoluções do Conselho de Segurança; nada mais e nada menos”, é evidente que a sua participação mais não foi que uma revanche face às “derrotas” da diplomacia francesa na crise dos finais de 90 que ocorreram na Côte d’Ivoire e que levaram, posteriormente, à afirmação do poder de Gbagbo questionada em eleições de Novembro passado e que deram a vitória, internacionalmente reconhecida como tal, de Ouattara.


Por outro lado, surpreendeu o persistente apoio de Angola ao presidente vencido, apesar da maioria da comunidade internacional ter aceite como vitorioso Ouattara, correndo por fora, como define e bem, o académico Celso Malavoneke, à Rádio Ecclesia, Emissora Católica de Angola. Uma posição questionável na estratégia do país para a região do Golfo.


Não surpreendeu num ponto de vista jurídico-institucional, porque aí Angola evidenciava bom senso face às posições do Comissão Eleitoral Independente e do Conselho Constitucional (apesar deste ser constituído, em maioria, por elementos afectos a Gbagbo) mas porque o presidente deposto tinha sido um dos maiores apoiantes – e quem afirme co-financiador – de Savimbi e da UNITA. E já nem se fala no propalado mujimbo de haver forças angolanas a apoiar a tropa de elite de Gbagbo o que a confirmar-se – e não se verificou até agora – seria, por certo, explorado pelas milícias de Ouattara e certa imprensa francófona.


Por fim a tomada de posição das Nações Unidas em solicitar – leia-se, ordenar – às forças francesas estacionadas em Abidjan que apoiassem um ataque à residência presidencial para desalojar o presidente declarado vencido e destruíssem as armas pesadas que provocavam inúmeras vítimas. Não se questiona a benignidade do acto, mas já se questiona porquês só as armas pesadas de Gbagbgo e não, também, as de Ouattara. Veremos se esta posição de Ki-moon se irá também estender à questão da Líbia e, assim, termos uma nova filosofia onusiana.

 

Para já parece ter o apoio de um largo leque de países, como da França, da China (que não criticou) e dos EUA, nomeadamente da Secretária de Estado Hillary Clinton que, judiciosamente, foi adiantando – e para bons entendedores parece-me bem clara – que a detenção de Gbagbo foi um “forte recado aos ditadores da região no sentido de que não deveriam ignorar as vozes de seus povos, que pedem eleições livres e justas” e reforçando “que haverá consequências para aqueles que se agarrarem ao poder”.


Aguardemos, agora, que Ouattara cumpra o que prometeu e não haja uma indiscriminada “caça às bruxas” porque, como em todas as crises militares, não houve só culpados de um lado…


NOTA: O artigo acima foi elaborado, a pedido, para um órgão informação angolano mas que, posteriormente, os seus "patrões" optaram por o não fazer evocando que o mesmo era "demasiado cru". Quem manda, pode... e eu «aceito» este... "bloqueio"!!