Luanda -  Alda Sachiambo renuncia, Silvestre Gabriel Samy, de acordo os estatutos que regem o Parlamento em consonância com os regulamentos do Partido, é o novo Presidente da Bancada Parlamentar da UNITA. Militante acérrimo desde os longínquos anos de 1976, sempre se predispôs ante as inúmeras adversidades a defender o Partido na sua região natal do Soyo e na extensão da sua província Zaire.


*Félix Miranda
Fonte: Folha8

Virgílio de Fontes Pereira tem sido muito viril com discursos incendiários

Aos 57 anos, respira de boa saúde e traz consigo um manancial invejável de conhecimentos e experiência que se lhe nega qualquer dúvida tanto dentro como fora do Partido. Goza de boa reputação nos círculos civis, políticos, bem como militares de que serviu desde Fevereiro de 1978 atingindo os escalões do generalato. Co-fundador da Frente Cabinda de 1984 a 1992, Secretário Provincial do Zaire até 1997, Secretário-geral da UNITA, membro da Comissão Política e do Comité Permanente da UNITA, eleito deputado pelo círculo Nacional em 2008. Entre a Economia e Finanças, e o Direito em que se formou, Silvestre Gabriel Samy, tem sim senhor estofo para conduzir com mestria o grupo parlamentar, cuja atmosfera da Assembleia partilha desde 1998 e quiçá digladiar de igual na arena dos gladiadores, onde poderá fazer valer a máxima da qualidade se sobrepor sempre a quantidade e disto Samy não se poderá queixar. Seu grupo embora diminuto tem argumentos de valia inquestionável, cujas provas são até hoje bem evidentes.  De resto, e mesmo antes de se oficializar sua nomeação, abordamos vários aspectos sobre a vida política, social e parlamentar.
 
 

 
Folha 8 - Ontem nr 2, hoje nr 1 da bancada Parlamentar da UNITA, vai mudar algo na sua vida?

Samy – Também queria de facto esclarecer bem isso. De forma oficial ainda não sou o n° 1, a Direcção do Partido vai proceder o expediente para fazermos as substituições. Mas seja ccomo for posso dizer o seguinte: Trabalhei este tempo todo como segundo homem, poderia estar relaxado pois sabia que havia alguém que poderia resolver a questão. Hoje, se por acaso vir a chefiar o Grupo, penso que vai mudar, vai haver maior exigência, rigor e mais responsabilidade.

 

 
Mas a UNITA na própria linha democrática e naquilo que está estatuído vai respeitar os ditames de sucessão?


De facto temos uma linha editorial. Aliás, muitas pessoas estão apreensivas, com o pedido de renuncia da senhora Alda, pensam que talvez vai deitar a casa abaixo. Penso que não. Quando a senhora Alda esteve cá, houve sempre um trabalho colectivo. É neste espírito que vamos continuar a trabalhar. Penso que o grupo parlamentar é um colectivo, inclusive os trabalhadores auxiliares, precisamos deles para todo o sucesso.
 

 

Alda Sachiambo foi uma coordenadora de homens militares. O Brigadeiro Samy  também foi. Terá alguma influência esta filosofia militar na sua forma de conduzir os destinos da Bancada?


Penso que de alguma forma, há sempre uma interligação nisso tudo. Quando se vem conduzindo homens, tem mais ou menos esta noção de como conduzir um certo número de homens seja ele pequeno ou grande. Temos de partir do pressuposto o homem, que tem de se ocupar dos problemas do homem para melhor conduzi-lo. Acho que tem dado os seus resultados, porque não basta conduzir um sem número de homens e você não se preocupa com o seu dia-a-dia. Nós vamos levar esse pressuposto como a enorme tarefa que temos em nossa frente.
 


Nos vossos debates têm no visor primeiramente o homem ou a dinâmica global no país e só mais distante o cidadão?

Penso que a dinâmica global do pais, parte de alguma coisa. O homem é o ponto de partida. O que faz parte do global é o conjunto de homens. Por isso temos de resolver o problema do homem em primeiro lugar.
 


Têm sentido também esta preocupação de priorizar o homem, por parte da Bancada maioritária?

Abstenho-me por ética de falar da Bancada do MPLA. Vamos só relevar o exemplo dos nossos generais que foram para as FAA e o impacto que teve, na altura o General Numa, agora o General Nunda como Chefe de Estado Maior, e veja como tratam agora as tropas e compare com a forma como os outros se relacionavam com os seus.
 


Tem um feed-back por parte das FAA como se sentem agora?

Temos estado a conversar com muitos militares que não se coíbem em manifestar esta diferença positiva enorme. Logo, há uma grande distinção entre nós pela forma como tratamos os homens.

 

Alda Sachiambo renunciou, oficialmente por questões de saúde, mas cogita-se outras coisas. Uns que tenha sido por questões passionais, outros questões de relacionamento na condução da Bancada com a direcção do Partido. Pessoalmente o que nos pode dizer de concreto?

Em termos de relacionamento, tanto no seio do Partido, como no círculo da Bancada, ela nunca teve problema de relacionamento, foi sempre uma senhora que mereceu muita estima. Quanto as questões de relacionamento, não entro nisto porque, a carta que ela dirigiu ao Presidente do Partido, uma carta manuscrita, faz menção as questões de saúde. Questões de saúde posso testemunhar porque durante estes dois anos e meio, de facto foram notórios problemas de saúde. Ela já foi a Espanha onde foi submetida a uma intervenção cirúrgica, veio e durante duas semanas não compareceu aqui por razões de saúde. Aqui mesmo dirigindo reuniões tinha que se manter de pé durante muito tempo. Mesmo na Assembleia Nacional sofria essas dificuldades. Mesmo agora em que falamos ela está na África do Sul, estava para ser internada, ainda ontem falei com ela, mas por causa da Pascoa, só Segunda-feira ou terça que ela deverá internar no hospital. Logo, quando evocamos questões de saúde, é verídico, se por de trás disso há outras questões, talvez não cabe a mim, porque nunca conversamos a este respeito.
 


Uma pergunta que vem encomendada. Seja o que for, considera-se a renúncia de Alda Sachiambo uma derrota da UNITA, vitória do MPLA ou vitória diplomática de Jorge Chikoty, quando más línguas dizem ter havido intervenção de muito dinheiro?


Se por acaso esta acção tem uma mão invisível, penso que o MPLA já cantou muitas vitórias. Para mim, a morte do fundador Jonas Savimbi e do seu Vice - António Dembo é a maior derrota que a UNITA teve. Era isto que teria feito com que a UNITA desaparecesse. A UNITA não desapareceu, o MPLA engendrou o resultado das eleições para que caíssemos para 16 deputados então calasse de uma vez por todas a voz da UNITA, mas estão preocupados com 16 deputados. Com a saída de Alda Sachiambo, seria desonesto dizer que não sentimos. É um quadro que tem uma longa trajectória, sem dúvida, mas a UNITA hoje é um universo, é a sociedade angolana no seu todo, de Cabinda ao Cunene, velhos e novos que já se forjaram e se revêem nos seus ideais. O espaço supostamente tradicional do meio urbano e das esferas que compõem o substrato social que era reivindicado pelo MPLA, já faz parte do passado. Hoje temos de falar por igual. Vou lhe confessar uma: estava numa reunião de líderes de bancadas, alguém dizia: a UNITA vai acabar, a Sachiambo foi, talvez amanhã é o Samy, depois é o Gato. Eu disse, mesmo se o Samy sair da UNITA, a UNITA não acaba só porque o Samy saiu da UNITA, já saíram tantos, mas a UNITA continua igual à ela mesma.
 


O que é que mostra em termos práticos de que o MPLA tem respeito e está preocupado com a vossa posição no Parlamento, não obstante serem reduzidos?


É só uma questão de acompanhar o que realmente é a própria opinião internacional, que eles próprios dizem. Sabe, na filosofia Bantu, diz-se: você não vai abanar uma árvore que não tem fruta! Se o MPLA preocupa-se com a UNITA e  se de facto a UNITA não tem programa como dizia o seu porta-voz Rui Falcão, é porque realmente representamos alguma coisa no quadro do xadrez político angolano.


Caso venha a tomar posse, qual é a sua linha de força, no quadro de seu mandato. Certamente não vai ser como um Cata-vento, daquilo que foram as ideias da sua predecessora, vai querer marcar suas impressões digitais?

Não gostaria de apresentar o meu projecto agora, porque primeiro não fui nomeado oficialmente e gostaria que daqui há uma semana, mais ou menos não se importaria de voltar para aqui, e nesta altura podermos falar como presidente do Grupo Parlamentar da UNITA. Ali poderemos esboçar o nosso programa e as leis de força. Contudo, a primeira coisa é manter a coesão do grupo. É a minha primeira luta, depois elaborar um programa que vamos tornar público.

 

Qual tem sido o relacionamento com a Bancada maioritária e outras. Conflituoso, de harmonia, cordialidade?

Penso que o período de conflitualidade em termos de bancadas, já passou. Pode haver divergências de ponto de vista, mas fora disso, trocamos impressões. Por exemplo, eu não conhecia bem o actual presidente da Bancada do MPLA Vorgilio de Fontes Pereira como Ministro, mas agora sobre ele tenho uma opinião diferente, abordável.

 

Mas indiciam que nos seus discursos, Virgílio de Fontes Pereira tem sido muito viril, com discursos incendiários. Não partilha dessa opinião?

Significa, nós também temos sido agressivos nos nossos discursos. Seja como for, temos tido reuniões conjuntas dos líderes parlamentares. Imagine que ontem fez-se a retirada do bloco do pacote dos TICs, eles queriam só retirar uma lei, nós dissemos que não. É nesses termos, porquanto todo o pacote foi retirado.

 

Quer dizer que a vitória da retirada deste pacote cabe à UNITA?

A UNITA é que começou a levantar os pontos mais candentes que enfermavam este Projecto de Lei, tivemos várias reuniões. Não nos calamos. Se fossemos nós a pedirmos nunca iriam aceitar. Praticamente toda a iniciativa da UNITA é bloqueada. Quando viram a pressão da sociedade civil, acharam que deviam retirar o ponto sobre a Lei da Criminalidade. Nós achamos que como se trata de um pacote, é o pacote que tem de ser retirado. Portanto, não diria que é uma vitória só da UNITA, mas penso que ganhamos porque temos mais um mês para publicitar esta lei, avaliarmos os elementos que enfermam esta lei, o perigo que há sobre os direitos e garantias dos cidadãos, com a aprovação praticamente deste pacote. Logo o que ganhamos é mais tempo para podermos publicitar e debater com a população civil e darmos contributo necessário para que a Lei uma vez aprovada, seja uma lei de segurança, mas a favor dos interesses dos cidadãos e não contra.

 

Há quem diga que esta lei surge sobretudo como consequência dos ventos do Norte, qual a sua opinião?

Eu penso que se os ventos do Norte não estivessem a preocupar o regime, não sei porque razão submeter de forma tão acelerada, um projecto desta natureza.

 

Quer dizer que vocês não cavalgaram sós. Daí, quem mais vos apoiou para que ela fosse suspensa?

Somos um grupo parlamentar, temos uma assessoria, contactos com a sociedade civil, tudo isso. Fazemos um trabalho de grupo e sentimos praticamente qual é o sentimento da população no acto da aprovação de uma lei. Aliás, agora como deputado tenho que reconhecer que, nem todas as leis que temos estado a aprovar vão a favor dos anseios da população, o que faz com que, quando nos vêem a votar contra, é essencialmente por causa disso. Algumas leis que são aprovadas são exactamente só para conformar a Constituição e, poder folgar a posição do Chefe do Executivo.

 

A Comunicação Social não discutiu convosco para vocês serem os vectores do debate no Parlamento?


Hoje temos um problema na Assembleia Nacional. Não tenho medo de dizer que a Assembleia Nacional que devia ser um órgão soberano parece ser uma extensão do Executivo porque há algumas leis que são aprovadas, mas não seguem os trâmites legais. Porque nos trâmites legais, a lei primeiro tinha de ser discutida na generalidade só depois ir na especialidade, mas hoje por razões talvez das maiorias e das urgências há leis que não seguem esses tramites.

 

São simplesmente impostas?!

Eu diria que sim. Porque até muitos deputados não se dão ao luxo de estudarem os diplomas. Porque para eles a missão é só levantar a mão, depois mais tarde é que sentem os efeitos de muitas das leis que aprovamos, a exemplo da Constituição.

 

O Doutor Kaparakata, numa entrevista que nos concedeu, dizia que a sociedade civil não pode contar com os deputados porque quando há a maioria ou aprovação de uma Lei, é porque é apenas para defender finanças, ou meios materiais porque toca toda gente. É isto verdade que os deputados só se unem quando é para defender meios e que os afecta?


Os factos estão lá registados e quando quisermos podemos fazer buscas para ver quantas leis foram aprovadas por unanimidade e quantas foram aprovadas com voto não da oposição e sobretudo da UNITA.

 

F8 – Há pouco falou de um ambiente de cordialidade entre vocês no Parlamento. As pessoas interrogam-se: em Portugal, França, Inglaterra, onde são muito mais civilizados, as cadeiras voam, seguram-se nos casacos porque têm que defender a voz e o querer do povo, aqui que têm mil e um problemas, estão todos numa boa?

Samy – É bom esclarecer uma coisa. Não é verdade que andamos em termos de compadrio. Lá dentro nem tudo é um mar de rosas.

 

F8 – Neste dia em que realizamos esta entrevista, 20 de Abril, o Executivo vai apresentar um novo balanço. Como antecâmara, o que prevê e se realmente há mesmo um balanço da nova dinâmica da reconstrução nacional?

Samy – Eu penso que esta nova postura do Executivo apresentar balanços trimestrais é só para adormecer o angolano. Um balanço como tal, primeiro deveríamos exigir que o próprio chefe do Executivo apresente ele mesmo esses balanços para poder responder directamente os cidadãos que governa e que merecem esclarecimentos. Imagina, vão fazer agora um show, como este discurso triste que o Presidente da República fez diante do Comité Central do MPLA, quando pensa que talvez já resolveram os problemas dos cidadãos e falta apenas 37%. É lamentável, primeiro como angolano, segundo como Presidente da República que até agora, estando em Angola, não saiba que a maior parte dos angolanos não tem água potável. Quando se vai pela estrada de Viana, você vê senhoras, umas com crianças às costas, a arriscar a vida com bacias de água a cabeça a atravessarem as estradas com aquele tráfego de viaturas; nos bairros as pessoas são obrigadas a madrugar para conseguir um balde de água. Onde é que se via isso nos bairros do tempo colonial, para que serve o Presidente?


F8 – Sentiu-se ferido também como deputado?

Samy – Claro. A tudo isso, o Presidente colocou um voto de demissão. O Presidente declarou abertamente que está ali, não para servir o povo e que devíamos nos conformar com o “Cada um por si”. Pois quando realmente um povo elege um governo é porque espera deste que resolva os seus problemas. Se o PR diz que já encontramos a pobreza, significa que este governo não tem solução para a pobreza dos angolanos e não se responsabiliza por absolutamente nada. Como já encontramos a pobreza, significa que devemos continuar na pobreza. Nessa altura, os angolanos deveriam tomar uma posição porque no mínimo este governo não os respeita.

 

F8 – Mas quando acusam que o PR e o MPLA não têm a solução para os problemas dos angolanos, eles retribuem inculpando a UNITA, que também não têm projectos, nem gente capaz de assumir a governação.

Samy – De facto me sinto ofendido. A UNITA durante a campanha 2008 apresentou um programa do governo que pelo andar da carruagem, este programa continua válido. Mas quando o MPLA fala em ter experiência, ter os quadros capazes, se é isto que nem sequer água conseguem dar à população, energia, as estradas todas esburacadas. Por exemplo, ainda esta manhã, através da Rádio + (mais), soubemos que há uma ponte aérea na Escola do Pedalé, quando chove, fica inundada, a população não pode utilizar esta ponte. Que tipo de governo é este? São obras que se fazem sem fiscalização, etc.

 

F8 – No projecto da UNITA o que seria? Agora os administradores municipais ou comunais, estão praticamente proibidos de arranjarem as estradas ou com os recursos locais resolverem alguns problemas, como é o caso agora de um Coronel no Bairro Popular que foi ameaçado pelo simples facto de ter mandado arranjar a estrada que passa diante de sua casa.


Samy – Veja  que quando deviaM fazer não fazem e aqueles que sofrem os efeitos directos são proibidos, é uma vergonha. Os administradores não podem fazer porque neste momento dão-se 5.000.000 (cinco milhões de Dólares), mas na prática não se vê nada.

 

F8 – Por outro lado, acusa-se a UNITA de não ter conseguido resgatar o voto urbano e citadino, continua apenas com o voto da aldeia, quer comentar?

Samy – Penso que é ridículo. O próprio MPLA está surpreendido com aquilo que está acontecer mesmo aqui na capital que ele pensava ser do seu domínio. Um exemplo prático: o governo queria minimizar e procurou por todos os meios sabotar a marcha feita pela UNITA aqui na cidade de Luanda, foi o que se viu, uma maré de gente que de espontânea e livre vontade saiu a rua para dar resposta prática. Se o MPLA tem de facto uma real noção disso, temos de servir como ponto de reflexão. Temos que entender o seguinte: a história de que o MPLA é o povo, o povo é o MPLA, é um sofisma que ficou retrógrado. O apoio do povo nunca é eterno, sim em função dos resultados da governação.

 

F8 – Agora o MPLA quer impor a dinâmica do Socialismo Democrático, já alguma vez vocês fizeram referência à isso?

Samy – É uma história igualmente caduca desde já. Até os próprios militantes do MPLA, está a ser enganados pelos seus dirigentes. Veja o percurso do MPLA, do Marxismo-leninismo, até agora ao Capitalismo Selvagem.


F8 – Que é repudiado também pelos padres, como foi o caso aquando da conferência recente da CEAST.

Samy – Lógico. Onde a maior parte das elites do MPLA enriqueceu-se quando o povo na sua maioria tornou-se paupérrimo. Agora vêm-me com a treta do Socialismo Democrático, em desuso em toda a parte. Propalam um Socialismo-democrático sem revolução. A mensagem é: não façam revolução contra aquilo que nós já temos e quem tentar apanha, como foi o caso deste discurso do PR. Por isso aproveitamos alertar mesmo no seio do MPLA que estão sendo enganados com mais uma manobra dilatória e denunciamos o perigo que este Socialismo-democrático engendrado pelo  MPLA encerra.

 

F8 – Mas a população em si parece insensível, continua inerte a tudo isso. Será falta de metodologia para o despertar das massas, ou a mensagem do MPLA contra as manifestações está a surtir seus efeitos?


Samy – Penso que é apenas uma falsa percepção. Quem anda nos autocarros, quem partilha o dia-a-dia com as massas, apercebe-se que na realidade a população está agastada. O nosso trabalho está sendo feito e a população está tomando conta da real situação.

 

F8 – Parcerias Públicas e Privadas, ou a Lei do Investimento Privado. A Lei foi cozinhada exclusivamente por Carlos Feijó. O PR acaba de aprovar decretos que oficializam o financiamento ou a cedência de subsídios a empresas catalogadas, como a do seu genro do Sindika Ndokolo. Qual a posição da UNITA?

Samy – A UNITA votou contra porque vê em mais esta Lei, uma forma de delapidar o erário público a proveito externo, de apoiar quem já acumulou riqueza e concentrar capital nas mãos dos militantes ou dirigentes do MPLA e consequentemente massacra a grande maioria. A questão que se coloca é quem são os candidatos que beneficiarão destes investimentos, que vão privatizar as empresas públicas. A nossa preocupação é: qual é o método usado. Temos a história dos “Nosso Super”, que gastaram tanto dinheiro dos cofres do Estado, mas tudo foi para indivíduos ligados ao regime.

 

F8 – Diz-se que nesta onda o MPLA está a preparar o futuro, no sentido de se perpetuar no poder, mesmo não estando a governo impondo-se económica e financeiramente, quando vocês vão continuar pobres?


Samy – O Ben Ali da Tunísia também parecia eterno, Mubarak foi eterno e todo poderoso, Kadhafi era eterno, mas está em maus lençois. Vamos ao caso muito próximo da Zâmbia, o Presidente Tshiluba havia feito leis que o protegiam no poder. Com as mesmas leis seu sucessor foi resolvendo a situação na Zâmbia. Por isso, estas leis são também uma faca de dois gumes. O PR disse-o bem: a alternância e ele não deve se esquecer que os regimes verdadeiramente democráticos, vivem da alternância do poder. Não há aqui confusão nenhuma. Não há nenhuma revolução que tende para a confusão. Nós da UNITA estamos atentos para a alternância do poder. Num país democrático e de direito, há alternância ao poder.

 

F8 – 2012 pelos vistos é mesmo eleições se percebermos as declarações do PR. A UNITA está preparada, para precaver fraudes, mobilização dos eleitores sobre isso e vir a formar governo?


Samy – Nesta senda a preocupação maior é o pacote eleitoral que tem de ser reformulado e a questão da Comissão Nacional Eleitoral de acordo o artigo da Constituição é que tem de ser mesmo independente. Ali é onde realmente temos de trabalhar muito.


F8 – Se o MPLA não ceder, o que vão fazer?

Samy – No passado evitamos falar de manifestação e optamos pela ponderação evitando a extrapolação da situação, mas de futuro, tudo pode ser possível.

 

F8 – Se não enveredarem pela manifestação, vão abandonar o parlamento?

Samy – Não vou dizer agora o que exactamente faremos. A questão não é por ali. O que queremos é a execução daquilo que está postulado na Lei sobretudo no que tange a Comissão Independente que é fundamental, para depois vermos o resto do conteúdo do pacote eleitoral.

 


F8 – A Nigéria que conhecia sempre convulsões na altura de eleições organizou estas sem sobressaltos de maior, pode ser um bom exemplo?

Samy – Em 2008 engolimos sapos somente para tranquilizar os angolanos e dizer que em eleições não quer dizer necessariamente que haverá guerra. Mas tal como se diz o que se passou na Nigéria é exactamente um dos exemplos que se pode aproveitar.

 

F8 – As imagens aterrorizadoras da captura de Gabgbo, fez lembrar a do Sadan Hussein. Será que tem alguma influência sobre o Presidente dos Santos?


Samy – Naturalmente. E quando criticam as imagens é porque têm memória curta. Como é que eles trataram seus opositores, que imagem mostraram ao mundo do Doutor Savimbi, estatelado no chão, nu. Outros dirigentes da UNITA que morreram aqui em Luanda, não se sabe seus destinos, seus paradeiros. Quer dizer que as imagens de Gbagbo são mais escandalosas e chocantes?


F8 – Tem confiança que o povo é mesmo vosso aliado?

Samy – Foi sempre nosso aliado, isto é inquestionável. O mais importante é que a UNITA tenha a capacidade de controlar o voto, esta é a maior luta que a UNITA tem de fazer.

 

F8 – Voltando ao assunto primeiro. Alda Sachiambo, fugiu, retirou-se, renunciou?
Samy – Renunciou.

 

F8 – Ao partido também?
Samy – Isto não sei. Penso que ela vai ter oportunidade de falar em público. Vamos esperar da voz activa e directa os pronunciamentos. Ela própria tem a responsabilidade moral de o fazer a todos aqueles que lhe faziam confiança.

 

F8 – A UNITA está coesa em termos de direcção?
Samy – Penso que sim.

 

F8 – 2012, eleições parece um dado adquirido. 2011, o MPLA vai organizar seu Congresso Extraordinário. O Presidente da UNITA Samakuva, tivera condicionado esses elementos para a realização do seu Congresso. Desta vez vai arrancar?

Samy – A realização do Congresso é uma questão estatutária, não está dito vez nenhuma que a UNITA não vai fazer o Congresso. Entretanto, temos realmente que ver, as eleições, o Congresso, que meios é que a UNITA tem. A UNITA é mais nova do que o MPLA e já realizou muito mais congressos. Portanto, nós não nos guindamos pelo MPLA.

 

F8 – Makuta Nkondo sobe, vai engrossar o grupo. O que se adivinha. Vai manter a tonalidade dos seus discursos mesmo em Parlamento, vai moderar, o que se oferece a dizer sobre isso?

Samy – Enquanto deputados deste grupo parlamentar temos que nos preparar para um período agitado, sobretudo que antecede as eleições. Quanto a Makuta Nkondo é conhecido pelos seus discursos agitados. Claro, ele não vai ser impedido, mas o Parlamento tem regras, tem suas regras.

 

F8 – Vai ser um Touro domado?

Samy – Não é isso que quero dizer. Mesmo nós não somos touros domados, temos feito os nossos pronunciamentos. A questão é simples. Por exemplo na discussão de uma lei a UNITA só tem oito minutos, se nós prepararmos dois deputados para intervirem em oito minutos, cada um só vai ter quatro minutos. O importante é ter o espírito de síntese.

 

F8 – Estamos já a terminar. Fidel de Castro Ruiz, 84 anos de idade, 46 dos quais a testa do Partido, renuncia igualmente ao poder e seu irmão promete reformas no seio do PCC. Acredita que isto pode também influenciar o MPLA?

Samy – Fidel como humano biologicamente está acabado, mas independentemente disso, a questão das reformas é irreversível. Queria aproveitar para dizer que muitos líderes africanos queriam fazer do poder uma monarquia. Muitos desses presidentes que estão sendo derrubados estavam a preparar seus filhos para os sucederem. O sonho de Mubarak se foi, o da Líbia seguirá e espero que aqui em Angola a sucessão do poder não seja por primos ou irmãos. Aliás, nota-se uma certa efervescência em volta disso. Dizia-se tempos atrás que Manuel Vicente seria cabeça de lista, agora diz-se que não é. Quer dizer que o povo está reagindo a começar pelos nacionalistas do próprio MPLA.

 

F8 – Pode-se já dizer o inicio da vitória da luta entre a Democracia contra a Ditadura?

Samy – Eu iria buscar o discurso de Hillary Clinton e aquilo que se passou na Costa do Marfim, estes ventos todos irão soprar também nesta parte do continente. Os trintões vão todos desaparecer. Como se diz, a diferença entre a Europa e a África é que os dirigentes africanos são todos velhos e os da Europa são todos jovens e Angola não é uma excepção.

 


F8 – Não obstante a legalidade o PR perdeu a legitimidade de conduzir os destinos dos angolanos?

Samy – O grande problema é que todos os problemas nos países democráticos são eleitos. Nós ainda não elegemos desde 1975 o nosso Presidente da República, até agora o PR é um Presidente constitucional, isto é mau para a Democracia.

 

F8 – Em caso de se consagrar a Presidência da Bancada, quem o vai coadjuvar, será o General Gato?

Samy – No quadro dos estatutos, o primeiro Vice-presidente é o General Chilingutila, entretanto, a tempo oportuno vão tomar conhecimento.

 

F8 – E se me quiser candidatar, vou ter que obedecer a isso tudo?

Samy – Você sabe que aqui temos deputados independentes se quiser se candidatar, pode fazê-lo. O Raúl Danda é um deputado independente que tem se comportado muito bem, vai agora Makuta Nkondo que vai entrar, é deputado independente. Portanto, não fechamos o nosso circulo. As próximas eleições virão aí poderá haver muito mais abertura..

 

F8 – A juventude de Luanda precisa de uma mensagem vossa da UNITA. Procura um amparo. Dizem que não querem o MPLA, mas vocês também não convencem.

Samy – A juventude angolana em particular de Luanda, dizer que levem avante os ideais. Temos estado a ver com satisfação o facto de começarem a vencer as barreiras do medo. Deveriam pôr o medo de lado. O que está aqui diante de nós é um Gigante com pernas de barro. Tal como aconteceu no Norte, os nossos gigantes aqui também têm pernas de barro. A juventude deveria ter força para podermos implementar as mudanças que querem urgentes.