Luanda - “ …O próprio espaço tem na, experiência ocidental, uma história, não é possível conhecer esse inter cruzamento fatal do tempo com o espaço…”. In versão da conferência proferida em 1967, pelo filosofo francês Michel Foucault, dirigida a um grupo de arquitectos franceses, cujo mote da conferência foi as Heterotopia e outros espaços. 


Fonte: Club-k.net

 
Segundo    algumas fontes compulsadas, foi a partir do século XIX, que à região Sul de Angola,  muito em função das carências verificadas na transportação de mercadorias por via terrestre, mas concretamente em  1848, que às autoridades coloniais de modo próprio, decidirão mudar o quadro da época.

 

Um dos factores que jogou a favor, foi o facto de se verificarem grandes necessidades, de se desfazerem da forte dependência que havia com à região de Benguela, que era uma localidade onde saiam às mercadorias, transportadas para o vale do Lubango ou do planalto da Chela. Como as vias de comunicação utilizadas pelos “fundantes” eram trilhadas pelos carreiros ziguezagueantes  dos nativos, que circulavam por intermédio de matagais abertos em todas as direcções, ao sabor do povoamento extraordinariamente disperso, esses caminhos eram quase que intransitáveis e apenas serviam para um comercio moroso.       
O facto de Portugal ter ficado anexado à Holanda num determinado  período da história,  e esta se  ter aproveito dos territórios portugueses, para ocupar o litoral brasileiro, como foram as zonas de Perna Mbuco e da Baia, em África se encarregaram de ocupar São Tomé, e Angola.


Consta, que foi a partir de Setembro 1648, que o Salvador Correia de Sá, empreendeu uma corrida contra os Holandeses, estes não podendo regressar para Europa, foram para os confins do continente africano, logo depois fundaram às Repúblicas do Trans Vale, Matale, Orange, à actual África do Sul. Algumas fontes fazem referência, que os mesmos aproveitando-se do facto de um Van, que havia fugido da Índia oriental, e que já era cultor de cana-de-açúcar, praticas que já naquela altura eram  consideradas marginais para época, fez com que os holandeses que já eram na sua maioria considerados como agricultores, se tornassem Bóeres.

 

Como à Inglaterra em 1876, a declarar  o Trans Vale como sua província, os habitantes originais do litoral angolano, puderam atingir aquelas fronteiras, pelo menos em  1880,  e como já se encontrava na Huila, o Padre  de origem francesa que lá estava a trabalhar, foi suficiente para que o mesmo tivesse sido alvo de muitas descriminações, apesar da sua nacionalidade portuguesa, não escapou da descriminação dos portugueses, que apesar de tudo, não se coibia de levar os recados saídos de Moçamedes, para  governação de Sebastião Nuno da Mata, um governador que quando se apercebeu que havia crispação no seio dos Bóeres, mandou de imediato à informação para metrópole.

 

 O Visconde São Januário, que era o Ministro das colónias, autorizou que se desse à nacionalidade portuguesa aos 277, Bóeres que se encontravam na Humpata. Com o passar do tempo,  D. Augusto Câmara Lemos, que estava ligado as obras publicas viu que havia à necessidade de se abrir uma estrada, em razão da lentidão que havia para o escoamento e transporte de pessoas e mercadorias, e porque à transportação era feita em caminhadas de forma ziguezagueante, os autóctones, circulavam com às suas mercadorias em sacos ou sacolas, facto este que levou D. Câmara Lemos, mandar abrir à primeira estrada do Chivunguiro, até a comuna da Huila, à mesma não foi bem-feita, porque estava cheia de troncos e as  curvas eram muito apertadas, acabando por não corresponder com as expectativas dos seus proponentes.

 

À 19 de Janeiro de 1885, um pequeno grupo de operários atingiu a estratégica bacia de Lubango, com a instalação da colónia de Sá da Bandeira, cuja direcção estava sob alçada de D. José Augusto da Câmara Leme, deveu-se a ele à orientação dos primeiros passos da colónia, afastando-se das dificuldades que iam surgindo, apoiando-se das iniciativas dos colonos dirigindo notáveis trabalhos para definitiva radiação da lusitanidade, ainda em terras Huilanas, em 1885, já haviam erguido várias valas de irrigação através de uma imensa extensão, na povoação nascente que estava dividida em quarteirões de dez hectares, que traçaram diversas ruas, que constituíam  às primeiras Repartições públicas, nomeadamente à residência do director, à Igreja, à Farmácia e às residência do médico.

 

 Os veículos que lá circulavam, eram os carros bóeres, que transportavam carroças de madeira puxadas por dezoito bois, consta igualmente que os carros no interior de Angola só apareceram a partir de 1912, com o primeiro Cadillac, que saiu de Malanje para Henriques de Carvalho, com o general Norton de Matos, os bóeres, fizeram várias propostas, que foram  consideradas positivas para época, e visavam mudar quadro inoperante de circulação, mas não foram bem sucedidos, é importante realçar, que a estrada de Chinvinguiro data de 1882. ainda neste ano, o Jornal de Moçamedes (periódico que se publicava nos dias da chegada de vapores da Metrópoles) inseria a seguinte nota: “ Começaram no dia 18 de Outubro do  ano passado, os trabalhos do caminho carreiro na Huila, que deve descer no Norte da Bibala”   
Em 1864, foi construída uma estrada que passava pela Bibala, e teve como encarregado de obra, o Engenheiro Rosa, que curiosamente, por ter este nome, de mulher fez com o mesmo fosse confundido com uma mulher, dando azo a várias especulações que diziam aquela obra de engenharia teria sido projectada por uma engenheira, sul-africana, à autoria daquela imponente obra de engenharia em qualquer parte do mundo é do  Engenheiro Rosas.
Em 1915, o general Pereira D´Ça, antigo Ministro da guerra, havia sido encarregue de de assegurar à soberania portuguesa no Sul de Angola ameaçada pela Alemanha directa ou indirectamente, com a elevação dos nativos.


A Serra da Leba tem uma inclinação de qualquer coisa como um quilómetro, possui 42 curvas, tem uma distância de cerca de vinte quilómetros e a sua construção foi terminada pela Junta Autónoma de Estradas de Angola, ficando a servir o planalto Huilano por duas variantes de subida para Chela, à carreira mais antiga pelo Bruco e a mais recente pela portela da Calwnga , a primeira foi a partir de Capanmbe e a segunda a partir da Bibala, e mais tarde com o decorrer das guerras do Kwamato, em 1915, com a nomeação  do general Ferreira D'ça, exigia-se do Engenheiro José Augusto Arutr Fernandes Torres, o enérgico general ofereceu milhares de autoctenes que depois de poucos meses foi possivel fazer o trajecto de subida (do transporte de maquina de guerra e homens, abastecimento, arruamento pesado, munições etc) surgindo deste modo à famosa Estrada da Leba, uma verdadeira maravilha de engenharia em qualquer parte do mundo, cujo acabamento terá sido em 1969- 1974.

 

Da mística, e do simbolismo que aquele equipamento possui, diriamos que os valore arquitectónicos como a Serra da Leba, devem ser salvaguardados , por a vida de uma cidade é um acontecimento continuo, que se manifesta  ao longo dos séculos por obras, traçados ou construções que lhe conferem  à sua personalidade  própria e dos quais emana pouco ou a sua alma, são testemunhos preciosos do passado que serão respeitados em principio pelo  pelo seu valor histórico  ou sentimental, e depois ainda porque alguns trazem uma virtude plástica na qual se incorporou o mais alto grau de intensidade do génio humano. Eles fizeram parte do património humano e aqueles que os detêm ou são encarregados da sua protecção, têm à responsabilidade e obrigação de fazer tudo o que é licito para os tornar intactas para os que detém ou são encarregados pela sua protecção, têm à responsabilidade e obrigação de fazer tudo que é lícito para transmitir intacta para os séculos futuros essa nobre herança, à Serra da Leba é seguramente a maior obra de engenharia em Angola de todo sempre!

 

  Cláudio Ramos Fortuna
  Urbanista