Lisboa - A delimitação das fronteiras de Angola , na configuração que vingou e permanece até hoje,  foi o fim de uma história de cheia de coisas cheias. E tão longa como algo que começa em meados do século XIX e se estende muito adentro do século XX.


Fonte: Lusomonitor.net


O sujeito principal dessa história é Portugal, que exerce na área a soberania de territórios que quer alargar – ou não perder.   Mas o Portugal desse tempo, minado por lutas intestinas e por sequelas que ainda perduram da separação do Brasil, apresenta-se como uma nação fraca nas disputas a travar com outras potências europeias que lhe cobiçam territórios em África.  Já não é a potência marítima que era no momento em que Diogo Cão chegou à foz do Zaire. Nem a mesma dos tempos do Marquês de Pombal – precursor da industrialização do território com a fundição de ferro.

 

Da história da demarcação das fronteiras fazem parte três casos considerados decisivos:


— Conservação do Noroeste (NO) e perda do Barotze. Os ingleses reclamam a posse do NO do território (entre o Ambriz e a foz do rio Zaire). Os portugueses contestam a pretensão invocando direitos históricos e despacham para o Ambriz uma força naval (capitaneada pela fragata D. Fernando II e Glória). Reclamam, ao mesmo tempo, a posse da faixa do Barotze, que os ingleses estão a ocupar.  O Rei da Itália, Victor Emanuel, arbitra o litígio e, em 1875, dá razão aos portugueses no que toca ao NO e aos ingleses em relação ao Barotze.

 

— Os alemães da Damaralândia (actual Namíbia) não só rejeitam pretensões portuguesas de estender os limtes Sul de Angola ao Cabo Frio, como começam a alimentar ambições de “empurrar” a fronteira Norte da Damaralândia para dentro de Angola, de modo a torná-la confinante com grande parte do curso do Cunene. O principal aliado dos alemães é o Rei Mandume.  A defesa dos direitos portugueses é feita manu militari. Nas campanhas respectivas morrem milhares de soldados metropolitanos, angolanos e landins de Moçambique (cujo sacrifício o monumento da Maria da Fonte, em Luanda, evocava).

 

— A Lunda (o NE), é de jure agregada ao território de Angola por efeito da acção paciente de um franzino major de infantaria, Henrique de Carvalho. A partir da missão do Cuango interna-se no território e consegue o acordo de 27 sobas lunda-quiocos (mais tarde do Muatiânvua) para colocarem os seus regulados sob protecção de Portugal. A Lunda, que nos mapas saídos da conferência de Berlim aparece como território de posse indefinida (assunto a regular entre Portugal e o rei dos Belgas), passou assim a fazer parte de Angola.

 

A ocupação portuguesa do Sul de Angola, empregando especialmente luso-brasileiros oriundos de Pernambuco e madeirenses,  foi em grande parte reflexo da pressão inglesa para se apoderar do NO. Temendo não conseguir resistir aos ingleses e por forma a compensar a perda, o governador Ferreira do Amaral (o mesmo do Tratado de Simulambuco), determina a ocupação da faixa Sul, a partir de Moçâmedes (um ponto aonde iam dar os navios à vela que na sua rota para o Sul voltavam ali a dar à costa, vencida a corrente de Benguela).

 

A posse do Barotze era reclamada por Portugal por duas razões em especial: a secular  frequência da área por pombeiros e funantes (Silva Porto foi um deles); o direito de ser compensado pela inviabilização do Mapa Cor-de-Rosa, por obstrução da Inglaterra. O mapa que ilustra este texto, considerado raro, mostra Angola com o Barotze incluído (extremo SE), assim como um diferente traçado de toda a fronteira SE. O que os portugueses visavam com a incorporação do Barotze, era que a fronteira SE do território de Angola com os territórios ingleses contíguos (Zâmbia, actualmente), fosse o Rio Zambeze – o qual também devia nascer em Angola. Os ingleses não aceitaram que o grande rio tivesse a sua fonte em Angola ou que fosse a linha de fronteira natural entre os territórios de ambos os países. A título de compensação permitiram que o Zambeze “passasse” por Angola, sendo esta a razão da existência do chamado saliente do Cazombo.