Luanda - O antigo presidente do Haiti François Duvalier criou, em 1959, uma milícia, denominada «Tonton Macoutes», cujo escopo era o de desencadear terrorismo de Estado, disseminando o pânico entre os adversários políticos de Papa Doc, nome pelo qual também era conhecido o estadista haitiano de triste memória.


*Jorge Eurico
Fonte: Notícias Lusofonas


Os membros da sobredita milícia (que usavam chapéus de palha, camisas azuis, óculos escuros, catanas e armas de fogo) também tinham como missão queimar vivo ou ainda fazer desaparecer, na calada da noite, todos aqueles que, de uma ou de outra forma, se opunham às ideias (ou abusos puros e duros?) do regime (des)comandado por François Duvalier.


Expor cadáveres nas ruas em plena luz do dia, pendurar corpos de indivíduos mortos em árvores ou apedrejar haitianos que se mostrassem contrários ao sistema eram algumas das inúmeras responsabilidades da «Tonton Macoute».

 

Ora bem, venhamos a nós! A fazer fé na manchete do Notícias Lusófonas, o 1.º secretário do MPLA de Luanda quer que os militantes do partido no poder soltem a sua ira contra todos aqueles que - mesmo (não) sendo membros do partido no poder - não alinham no mesmo diapasão relativamente à política de discriminação social, económica e política vigente no país.


Bento Bento quer criar, em Luanda, uma milícia do tipo «Tonton Macoute» para fazer chegar a roupa ao pêlo a todos aqueles que, (in)felizmente, ainda pensam com as suas próprias cabeças. É por isso que terá orientado os membros dos Comités de Especialidade a tudo fazerem para que o nome do MPLA e do seu presidente não voltem (por nada deste mundo e desta Angola) a serem atacados.

 

Ser, por um lado, Bento Bento tem toda (e mais alguma razão) em defender a sua dama, por outro, já não tem quando quer declaradamente que Luanda trema de medo como se estivesse exposta ao frio provocado pelas orvalhadas da madrugada.


Luanda, em particular, e, de uma forma geral, o país já não estão para refrega seja de que tipo for. Logo, Bento Bento prestou um mau serviço ao MPLA, a Angola e particularmente ao seu líder, José Eduardo dos Santos, de seu nome, que não se tem poupado a esforços para apelar a tolerância e à convivência pacífica entre os angolanos. Prova disso é que em Fevereiro de 2002 poupou antigos companheiros de Jonas Savimbi, cuja organização capitulou nas matas do Moxico.

 

Era suposto, possível e desejável, nos tempos que correm, as diferenças políticas serem ultrapassadas à fala. Mas quando Bento Bento apela aos membros dos Comités de Especialidade do MPLA «destruir os “discos duros” de computadores, cujos proprietários ou usuários não perfilhem as mesmas opiniões da “Grande Família” e particularmente do seu líder, José Eduardo dos Santos; constituir grupos de intervenção em debates radiofónicos de fim de semana sob orientação de um corpo de piquete; ameaçar, ou agredir de forma velada, cidadãos que se aprestem a participar de manifestações públicas contra o Executivo», é sinal de que o MPLA está (muito) mal servido em Luanda.


É importante, urgente mesmo, que o MPLA saia a público para demarcar-se das declarações de Bento Bento, sob pena de nos permitirem pensar que os planos de Bento Bento, o caceteiro de serviço, tem o assentimento de dirigentes de proa do partido no poder. Se Maître Allioune Blondin Beye (admirador de Luísa Rogério, actual SG do SJA) fosse vivo, não hesitaria em dizer sem rebuços que Bento Bento é, afinal, inimigo da paz e da estabilidade que estamos com ela.