MPLA pode exibir o seu trunfo na última fase da campanha

A «reentré» de Valentim na política com as cores do MPLA a ninguém pode espantar. No fundo serviria como contra- balanço ao prematuro eclipse de Kundi Payama no contacto com as «grandes massas», após o ministro da Defesa ter «metido água» que se farta no comício do Bocoio (dia 4 Janeiro de 2008, dia dos mártires da pátria), actividade que teve honras de transmissão directa na TPA.

Na ocasião, Kundi destilou um discurso extemporâneo (não se estava sequer em período de pré-campanha) e totalmente descontextualizado (alusões explícitas de que reuniões das lideranças da UNITA no Monte- Belo e em outras localidades estavam a ser espionadas pela bófia e que ele sabia tudo o que os manos conversavam).

Enfim, um autêntico desastre em matéria de marketing político face às expectativas que ele, Payama, encarnava. Nem mesmo a sua conhecida desenvoltura como grande orador e conhecedor de tudo quanto é fábula e anedota da região e que utilizava amiúde para criar empatia com as multidões lhe salvou de uma reprimenda no Kremlin e de uma inédita e monumental reprovação pública. Payama foi calado, contudo ficou o vazio.

O MPLA passou a não ter um interlocutor com capacidades para penetrar nas franjas que se mantêm eis à UNITA.  Ocenário em Benguela inspira cuidados para o «ÉME».  Dumilde Rangel está cansado e há muito ultrapassou os limites da sobrevivência política.

O primeiro secretário, Jeremias Dumbo «Tchilelevika», tem um raio limitado de aceitação. Além do mais não se pode esquecer as questiúnculas que envolveram estes dois personagens e que fragilizaram a credibilidade do sistema no seio das populações locais.

Aqui,entende-se por sistema o MPLA e tudo o que dele emana. Até hoje o que se comenta é que o «dossier» Benguela repousa na pasta de despachos do Presidente da República.

E como as coisas funcionam em cadeia, a UNITA aproveita o momentâneo descompasso do MPLA para tentar remendar a sua manta, fazer renascer nos seus apoiantes o espírito estóico do Muangai, resgatando a velha crença de que a sua missão histórica é apear o «ÉME» do poder e a hora para fazê-lo é esta.
Os activistas da UNITA fazem uma discreta campanha porta-a-porta, sem a arrogância do passado.
Notoriamente vão somando pontos de tal monta que quase não se questiona uma nova vitória no círculo de Benguela,tal como em 92. O próprio MPLA possui indicadores de que a UNITA goza de aceitação popular na região e poderá expressar isso na hora do voto. A não ser que surja um elemento novo, que venha quebrar a loiça. Esse factor arrasador pode chamar-se Jorge Alicerces Valentim.

A sua missão seria exaltar nas franjas situadas na base da pirâmide social (maioria da população) os velhos fantasmas da UNITA,as purgas de Vakulukutas, Bocks, Anteros e Ana Kulipossa(Savimbi), o extermínio do clã Tchingunji, a queima das bruxas na Jamba,enmmacular ao máximo o potencial factor aglutinador da familia Muangai: Jonas Malheiro Savimbi.

Jorge Valentim é por demais conhecido por não carpir rebates de consciência quanto a mudar de camisola a meio do campeonato. Porta-se como um verdadeiro futebolista profissional.

As suas capacidades devidamente exploradas pela máquina propagandística do MPLA nos derradeiros dias da campanha abalarão inevitavelmente os alicerces do projecto apresentado por Samakuva e seus pares.

Valentim tem um domínio completo da «saga» da UNITA e possui uma capacidade extraordinária para explorar ao máximo as nuances etnolinguísticas e religiosas susceptíveis de causarem danos irreparáveis a quem ele considera como adversário.

É de longe mais culto que Payama e tem a vantagem de ter sofrido na carne o reverso da medalha.Fez uma longa travessia no deserto, após a rotura da sua aliança com Savimbi, uma relação que ele mais tarde reconheceu ter sido plenamente marcada por desamores e humilhações públicas e privadas por parte do falecido líder.

Valentim sentir-se-á um eterno injustiçado. Essa mágoa ele sofre até hoje. Exorcizá-la passa incontornavelmente por pagar na mesma moeda aos que o vilipendiaram, ou, no mínimo, aos que com eles se identificam.

Fonte: Semanario Angolense