Razões pelas quais a fraude, a ocorrer, não será em larga escala:
- A sociedade, em geral, apresenta uma consciência cívica e política mais aguda; a sua atitude é redutora de tais práticas.
- A oposição aplicou-se em acções de formação eleitoral; a sua base de apoio, em que predominam os jovens, aparenta estar agora menos constrangida ou amedrontada que no passado em relação ao regime.

O cenário de uma vitória expressiva nas eleições de 5 de Setembro (maioria absoluta, conforme terminologia usada) é alimentado em meios do MPLA e do regime, que o associam ao objectivo principal de reservar ao partido plena capacidade de iniciativa na aprovação de uma nova constituição.

A constatação da impopularidade do MPLA é corrente em avaliações sobre a actual conjuntura. Luanda é apresentada como principal foco de tal impopularidade. A avaliação aqui referida acrescenta que o fenómeno se reproduz com acuidade maior na província da Lunda-Norte (insatisfação da população face a excessos da exploração diamantífera), enquanto na província da Lunda-Sul há um equilíbrio entre MPLA, UNITA e PRS.

“dissidentes” da UNITA marginalizados

2 . As listas de candidatos a deputados do MPLA não apresentam nenhuma figura que no passado tenha renegado notoriamente a UNITA; a única excepção é Miguel Nzau Puna, o qual, porém, foi convidado a integrar as listas em circunstâncias e por razões plenamente relacionadas com a questão de Cabinda.

De acordo com informações credíveis, a não inclusão de indivíduos com o perfil de “dissidentes da UNITA” nas listas dos MPLA foi ditada pelas seguintes considerações:
- A sua utilidade política e prática esvaíu-se; a luta contra a UNITA, em particular contra o seu antigo líder, Jonas Savimbi, já não é moblizadora; poderia mesmo produzir efeitos perversos, por ausência de sentido.
- Necessidade de fixar uma regra destinada a não atender a nenhuma das múltiplas pretensões de “dissidentes da UNITA” e de outros partidos, incluindo a FNLA, que se vinham insinuando ou movimentando, alguns dos quais ostensivamente,  tendo em vista a sua inclusão.

Entre os casos individuais mais sintomáticos de não inclusão de dissidentes de outros partidos  avultam os de Jorge Chicoty, ex-UNITA, que aderiu ao MPLA e se tornou membro do CC; Hendrik Vaal Neto e Moisés Camabaya, estes ex-FNLA, também aderentes ao MPLA, de cujas estruturas dirigentes fazem parte.

Em lugar de dissidentes de outros partidos, que também são alvo de subliminar animosidade e desconfiança da parte de quadros e dirigentes do MPLA (consideram-nos seus competidores), as listas recuperam históricos do partido como França Ndalu, Magalhães Paiva “Nvunda” e João Luis Neto, “Xietu”, entre outros.

A par da marginalização dos chamados “dissidentes da UNITA”  – há indicações consistentes segundo as quais a decisão respectiva foi de José Eduardo dos Santos – também não se apresentou às eleições nenhum dos partidos artificialmente criados pelo regime com o fim de fustigar a UNITA e Jonas Savimbi.

Membros de um dos referidos partidos, a TRD, com sede na Maianga, ainda promoveram iniciativas destinadas a reactivá-lo para se apresentar às eleições. A intenção não teve seguimento. O facto de os principais dirigentes da TRD serem originários de Cabinda deu azo a suspeitas de que o propósito da reactivação do partido fosse o de agitar a questão do território.

O presidente da TRD é formalmente Miguel Nzau Puna. Os outros originários de Cabinda que integram a direcção, ambos também dissidentes da UNITA, são Tony da Costa Fernandes e Raul Danda; o principal não originário é Paulo Tjipilica, ex-ministro da Justiça, actual Provedor de Justiça.


Fonte: Africa Monitor