Luanda - Conta a tradição católica que ia uma vez Pedro a fugir de Roma onde os cristãos estavam a ser massacrados pelo imperador Nero, quando deu encontro com Cristo que dirigia-se com passos apressados para a mesma Roma de onde ele fugia. Espantado (e perturbado) Pedro perguntou «Quo Vadis, Domine?» (onde vais, Senhor?) «Vou para Roma de onde foges para ser crucificado outra vez» respondeu Cristo continuando a caminhar e quase sem voltar-se para olhar para Pedro. Envergonhado, o Apóstolo suplicou a Cristo que voltasse ao Céu que ele voltaria a Roma. Assim fez e, depois de preso e condenado a ser crucificado, pediu para ser pregado na cruz de cabeoça para baixo, pois achava-se indigno de morrer como o seu Mestre. Dali que, até hoje, quando alguém foge de algo justo soe fazer-se a pergunta: Quo Vadis, onde vais?


Fonte: SA
 

Essa mesma parece ser a pergunta que, uns mais alto, outros mais baixo, uns com mais «trungungu» outros com mais diplomacia, os angolanos fazem à UNITA enquanto assistem a escandaleira que protagonizam. Em que nenhuma facção sai limpa e nenhum argumento é razoável; em que qualquer que seja o resultado, como diz e bem José Maria Katyavala, a UNITA sai fragilizada e, a própria democracia – pela responsabilidade que a UNITA nela tem – sai terrivelmente chamuscada. Porque episódios como esse são como o carvão: quando não queima, suja!

 

Numa outra vertente, parece ser geral o sentimento expresso por Guilherme Santos: alguns, e a própria UNITA podem dizer – e já o dizem – que isso é um assunto interno «que deve ser tratado no interior das quatro paredes do partido» como diz Adalberto da Costa Júnior. Isso pode ser verdade. Tão verdade como a outra verdade segundo a qual, pelo facto de ser o segundo partido mais votado nas últimas eleições, o que se passa com ela assume um carácter nacional. De interesse público. Porque não interessa a ninguém, nem mesmo ao próprio partido no poder uma oposição frágil, mais ocupada em exercícios de autofagia – o que fez Justino Pinto de Andrade engajar-se na coordenação dos dois últimos processos eleitorais da UNITA – e muito menos à sociedade que só beneficia com os equilíbrios que o jogo democrático proporciona. Quando os autores são fortes.

 

A fortaleza dos actores políticos não se traduz pela força do poder, nem pelo poder da força. Traduz-se no respeito escrupuloso pelos valores estruturantes do partido a que pertencem. Por isso não vale a pena usar o poder da força expulsando quem contesta, nem escamotear o entendimento destes valores como fazem os advogados com as leis. É preciso ir ao espírito do legislador, à intenção de quem escreveu e aprovou os estatutos e partir daí. Sem isso haverá laivos de falsidade e insatisfação de quem se sente excluído.

 

Justino Pinto de Andrade, de um jeito inusitadamente brando, chama a atenção para dois outros factores que, bem vistos, são aqueles que a UNITA acusa o executivo de fazer mal: primeiro, as manifestações não só contra o executivo. Podem ser contra as direcções de partidos da oposição que estejam a portar-se mal. Parece ser o caso da UNITA agora. Segundo, da mesma maneira como o executivo lida mal, muito mal com as «manifs» parece que a UNITA não lhe fica atrás. Os contestatários são desde brincalhões a golpistas. Tivessem eles a polícia às suas ordens, com esse discurso não fica difícil imaginar o que aconteceria… razão tem pois o JPA em manifestar preocupação com estes aspectos. Afinal, é tudo farinha do mesmo saco, diria a sabedoria popular…

 

A teoria da conspiração – tipo o MPLA é que armou mais esta ratoeira – parece não colher em absoluto. Cara podre, como o MPLA pode às vezes ser esse está sentado na bancada de frente e não perde um episódio da novela. Não batem palmas, não dizem nada. Mas é claro que esfregam as mãos de contente e vão-se piscando o olho como quem diz: «tásaver?» O Povo, esse faz que nem Justino. Chora o óbito antecipado de uma democracia partidária que estrebucha e corre o risco de morrer apenas menina de nove anos.

 

Poizé: Quo Vadis, Democracia da UNITA? Para um regresso qualquer, para ser crucificada outra vez...?