Luanda - Nasci na década do ano sessenta , tempos estes que muitos ainda chamam de tempo colonial.


Fonte: Club-k.net


Já com nove anos, assisti a entrada triunfante na capital do país dos movimentos de libertação nacional, onde o nome camarada e irmão eram exigidos, e aí daquele que ousar chamar ( senhor ), era tratado de contra revolucionário.

 

Com a minha tenra idade e com os ensinamentos da época, aprendi que os nossos irmãos chegaram ( irmãos Cambutas ), para nos tirarem do sofrimento e do jugo colonial, e que todo angolano terá direito a casa, carro, escola para todos, isto sem ter-se em conta a idade, crença, cor ou religião, em suma ter-se o direito consignada pela pirâmide de Maslov.


O tempo foi passando, o país tinha de ser reestruturado, já que com a independência a 11 de Novembro de 1975, grande parte do parque industrial fora sabotado e por outra, de todos os lados potências estrangeiras queriam tomar Angola, isto com a cumplicidade dos próprios filhos da pátria que pela sua ambição desmedida de poder, não souberam levar o barco a bom porto através do diálogo, enveredando por uma guerra supostamente já premeditada.

 

O país exigia sacrifícios de todos os seus filhos naquela altura, pelo que atingido a maior idade, e contra a minha vontade fui incorporado nas FAPLA, abandonando os estudos ( 8ª classe ) e partir para aquilo que se chamava dever patriótico ( guerra ), dei o meu contributo até a desmobilização no ano de mil novecentos e noventa e dois.


Desmobilizado, sem estudos e com responsabilidades familiares, vivi dificuldades nunca antes vividas, começando por diambular pelas ruas vendendo aquilo que me chegasse as mãos para o sustento dos meus filhos e esposa.


Aí que saudades do meu tempo de infância.


Daquela época onde era quase norma aos domingos em todo bairro de casas de madeira pairar o cheiro de carne e feijão ( carne com osso ).

 

Onde o branco (colono ) já começava a respeitar o negro assimilado.

 

Onde crianças embora colonizadas tinham no rosto a alegria de viver e de um dia serem os donos do próprio destino.

 

Hoje já não sei porque lutei, já não sei em que acreditar nem sei se um dia meus filhos terão um futuro.

 

O futuro que me foi prometido e que tarda em surgir.

 

O futuro da casa própria, escola, carro e igualdade de direitos. De me sentar num restaurante de hotel e ter o que pagar, sem que alguém pergunte o que este mendigo está ai a fazer, sem que o barman me inquira se o senhor tem como pagar.

 

Hoje assistimos de olhar sereno ao surgimento das denominadas Elites, filhos dos senhores do poder comprando aviões, proprietários de bancos e até mencionadas como a mulher mais rica de X e Y, sem que tenham trabalhado para ostentarem tanta riqueza, ou feito algo em prol deste país para tanto merecimento.

 

Hoje vemos políticos sem escrúpulos (deputados) mudando de partidos como de calças ou camisas se tratassem na ânsia do enriquecimento fácil, atraves do erário público, (roubo) esquecendo-se de seus ideais de mudança e do povo que um dia neles acreditaram.


Hoje o que sou eu…………………uma nada


Aí que saudades da minha infância.