Lisboa - Segundo o Wikileaks, a embaixada dos Estados Unidos em Angola estima em pelo menos 50.000 o número de cidadãos chineses no país e cita a «preocupação» de Luanda sobre a falta de postos de trabalho criados pelo investimento de Pequim. Uma suposta comunicação interna da diplomacia norte-americana revelada esta quinta-feira pelo Wikileaks descreve o volume e os contornos do investimento chinês no país africano.


Fonte: SOL


«Os chineses estão fortemente envolvidos no financiamento e implementação da reconstrução de Angola após o fim da devastadora guerra civil, em 2002. Na ausência de uma muito aguardada (pelos angolanos) conferência de doadores ocidentais para ajudar a financiar a reconstrução, Angola voltou-se para a China», contextualiza a embaixada dos Estados Unidos em Luanda.

 

Os diplomatas indicam a existência de duas linhas de crédito chinesas ao dispor de Angola: uma no valor de 4 mil milhões de dólares através do banco chinês Ex-Im e uma segunda linha, de existência não confirmada, no valor de 4 a 6 mil milhões de dólares através do Fundo de Investimento Chinês (CIF, na singla inglesa).

 

É também referido o efeito da crise internacional na retracção do investimento de Pequim em Angola: «De acordo com o embaixador chinês em Luanda, a China teve de repatriar mais de 25.000 trabalhadores em 2009 devido à falta de fundos do Governo da República de Angola para pagar salários».

 

Sem citar nomes, a embaixada dos Estados Unidos indica que «alguns angolanos exprimem preocupação pelo facto do investimento chinês, financiando por empréstimos que Angola terá de pagar, não criou postos de trabalho para os angolanos, não transferiu tecnologia para os angolanos, e tem frequentemente fracos resultados». Os diplomatas referem que a China tende a contratar e subcontratar empresas chinesas para os seus projectos em Angola e que a barreira linguística ainda é um forte constrangimento à relação sino-angolana: «Por exemplo, o actual embaixador da China não fala Português nem Inglês, apenas um pouco de Espanhol».

 

«Existem ainda preocupação sobre a natureza opaca do financiamento chinês, canalizado através do departamento da Presidência que coordena a reconstrução nacional», é apontado no telegrama.


Numa nota positiva, os norte-americanos referem que os chineses implementaram «com sucesso» vários programas de assistência humanitária e que um cidadão chinês está integrado no programa norte-americano de combate à malária em Angola. Os EUA apontam a agricultura como uma futura área de investimento chinês em Angola.