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Luanda -  O país está mais "pacífico" depois das marchas de ontem em Luanda (MPLA) e no Huambo (UNITA)?

Fonte: Morrodamaianga

Acho que sim, aliás, só podia estar, porque a paz verdadeira, felizmente, continua a estar ameaçada apenas pelo discurso político da "guerra psicológica" com que se quer condicionar/acantonar/asfixiar o debate.

Depois do GPL ter produzido o 1º decreto da democratura, acho que agora deve estar em preparação um manual do manifestante ordeiro...

Como já conheço o discurso da maior parte dos "cabos de guerra",chamou-me a atenção a presença e o discurso do Ministro da Defesa, que é general, numa das marchas realizadas na capital. Só faltou o "nosso" Candinho ter-se apresentado na "parada" fardado. Foi por pouco...

Seja como for e porque não sou arruaceiro nem de rua, nem de discurso, gostei muito da sua "faladura".Se ainda restassem algumas dúvidas quanto à situação politico-militar do país, o Ministro da Defesa encarregou-se de as retirar."Angola de Cabinda ao Cunene está em paz. Angola vai continuar em paz!"- assim falou e bem o Ministro da Defesa na sua estreia ao serviço das "manifestações pacíficas".

Milhares de angolanos afectos à UNITA também sairam a rua

À semelhança do que aconteceu sábado em Luanda, no Huambo milhares de angolanos afectos à UNITA também sairam a rua para se manifestarem a favor do partido que têm no coração. Afinal de contas, todos os angolanos, sem excepção, têm um coração que lhes bate no peito, embora em política, eu seja mais adepto do cérebro, como sendo o melhor órgão para orientar as nossas opções, por isso há muito que deixei de ter o "coração partido", o que não me impede de votar o que já fiz por duas vezes e farei sempre em função da conjuntura. O meu voto é demasiado precioso para ser hipotecado.

Não foram dezenas de jovens considerados "arruaceiros", foram milhares os angolanos que no passado sábado fizeram questão de pintar a cidade do Huambo com as cores do Galo Negro, como há muito não se via.

Tudo parece ter corrido na maior das calmas e da forma mais ordeira possível. Foi uma manifestação da oposição, que naturalmente quer chegar ao poder pela única via permitida pela Constituição, ou seja, procurando ganhar as eleições. Não é possível mobilizar o eleitorado de outra forma, sobretudo para quem não tem rádio, nem televisão e muito menos um jornal diário.

Afinal de contas, onde é que está o problema?

Será que a propósito da manifestação do Huambo, iremos voltar a ouvir "BB e sus muchachos" manifestarem preocupações com quem está a instrumentalizar os manifestantes?

Será que a UNITA vai ser condenada por ter promovido uma manifestação?

Será que os manifestantes que este sábado estiveram nas ruas do Huambo vão ser perseguidos pela segurança de estado?

JES,32 anos depois...

Os 32 anos de poder de José Eduardo dos Santos (JES) estiveram este domingo em discussão na TPA, mais exactamente no Semana em Actualidade.

Sou das pessoas que também acho que 32 anos é muito tempo na vida de uma pessoa, sobretudo quando este cidadão tem a função de Presidente da República com praticamente todo o poder (e mais algum) concentrado nos seus ombros, como tem sido o consulado de JES.

Compreendo perfeitamente o contexto histórico que "explica" esta eternização de JES no poder e também não tenho dificuldades nenhumas em admitir que se os resultados das eleições de 1992 tivessem sido aceites por Jonas Savimbi, hoje estaríamos certamente com um país bem diferente daquele que temos com uma paisagem política que já não contaria com a presença activa de José Eduardo dos Santos.

Dito isto, não quero concordar de forma alguma com aqueles que recorrendo a artifícios/malabarismos constitucionais nos queiram apresentar um JES novinho em folha, como se  nada tivesse acontecido neste país e pronto para ficar mais não sei quantos anos na liderança do Estado angolano.

Não é por aí que eu vou, pois o meu caminho é o do país real e dos homens verdadeiros.  JES governou de facto e de jure Angola por mais de trinta anos e já é neste momento candidato a decano dos Presidentes africanos, tendo à sua frente, provavelmente, apenas mais dois homólogos.

JES cumpriu efectivamente um mandato de 32 anos que só o pode ter deixado exausto. É muito. É esgotante.

Como não acredito nem em super-homens, nem em milagres de renovação eterna em política, pois os homens têm uma capacidade limitada em se superarem, depois de um certo periodo da sua vida em que fazem sempre a mesma coisa, estou plenamente convencido que o país precisa de iniciar um novo ciclo político.

É chegada a altura do MPLA e de JES pensarem efectivamente no pós-eduardismo, com a definição de uma estratégia de transição que tenha, obviamente, em conta o país real e a sua estabilidade, mas que não ignore outros valores e expectativas, num contexto internacional em que esta tudo em mudança.

Não é com marchas municipais que se resolvem estes problemas e muito menos com as ameaças dos dirigentes do Comité Provincial do MPLA de Luanda.

Como sustentei no debate deste domingo, no mínimo e de imediato, o MPLA terá que apresentar ao país este ano o seu número dois para todos os efeitos e em definitivo, sem mais jogos de poder e intrigas palacianas.

Acho que é isto que vai acontecer, pois desta vez por força da Constituição que o MPLA impôs democraticamente ao país, já não há possibilidades de se contornar por mais tempo este "tabú".

Pelo nome mais badalado e tendo em conta o seu perfil, caso ele venha a ser confirmado, estou certo que vamos estar diante de um problema ainda mais cabeludo do que aquele que tem sido a saída ou não de JES, que pelos vistos já pertence ao passado.

A República é de todos e pelo que julgo saber não é só nas urnas que os cidadãos se pronunciam ou se devem pronunciar, como nos querem convencer com as tais marchas.

O debate político em qualquer república (que não seja das bananas) é permanente e abrangente, tendo em vista o esclarecimento prévio dos cidadãos, competindo à comunicação social e aos jornalistas assumirem neste âmbito as suas responsabilidades.