O primeiro motivo de interesse que o referido artigo suscita é a motivação do director do JA, José Ribeiro, que se apresenta como paladino da isenção e imparcialidade, estar a desempenhar um papel próximo da bisbilhotice, ferindo os leitores e apunhalando sem propósito um colega de profissão, subjugando-se  a bota militar e ou bajulação partidária, com um artigo, sem que tenha antes havido uma introdução para os situar, sobre as motivações de um direito de resposta extemporâneo.

O segundo é mais grave em função do que se pode ler no seu cabeçalho, assim concebido: “Um texto publicado há 15 anos mostra que nada mudou e o crime compensa” (em letras pequenas), sobrepujando um título em caixa alta, “O aniversário do Folha 9 ou os mortos do Tonet”.

Para quem modestamente se interroga se pode ser jornalista ((...) E eu? Posso ser primeiro um democrata e depois um jornalista? Vou tentar com algum esforço (parágrafo 12 do artigo em questão).», chapéu baixo e merecida vénia, a epígrafe é suficientemente apelativa  para suscitar a curiosidade do “consumidor”.

Ledo engano. Se um dia houver uma efectiva revisão do generalato, vamos seguramente verificar, a existência de muitos generais de galinhas e outros tantos de gabinete, que nem uma carta militar sabem ler. No caso, a humildade do general Zé Maria, não lhe ficava mal, pois as patentes que ostenta, ao que parece, conheceram pouco o cheiro da caserna, das formaturas, das colunas por um, das fogueiras do combatente e o calor das grandes batalhas e confrontos. Elas terão muito a ver com o "samaritar" por entre os gabinetes, muitos dos quais da alta intriga palaciana, como a de ter estado na origem da tomada da Quibala ou a que terá levado a ruína lendas vivas da libertação angolana, como Alexandre Rodrigues, "Kito", injusta e vergonhosamente acusado de tentativa de golpe de Estado.

Mas ao arrogar nunca o Tonet puder ser general, esquece-se que nós temos mais batalhas, mais combates e mais acções militares públicas e provadas do que o general Zé Maria, cuja incursão no jornalismo é sofrível, petulante e destiladora de ódio e rancor, não aconselhável ao consumo.

E é por esta razão que o leitor, levado assim a “consumir” o artigo, republicado, de algum modo ficará “consumido” ao lê-lo por não perceber patavina do texto que o general subscreveu, uma vez que nele não encontrará nenhum indício de seja que texto for publicado há 15 anos, nem de nenhum crime que compense, nem tão-pouco de aniversário ou de qualquer vítima mortal “do Tonet”, mas unicamente um Folha 9 fruto da imaginação dessa alta patente e uma alusão a um artigo publicado a 11.07.95 pelo nosso jornal, quer dizer,  há pouco mais de 13 anos. Óh professor como se engana nas datas...

Portanto, no que diz respeito a conteúdo temos conversado, no sentido estrito do termo não há qualquer conteúdo assente em dados ou factos reais. Tirando uma visita nos anos sessenta à avó “do Tonet” no Bairro de Caçilhas, no Huambo, mais o tal artigo atentatório da dignidade do general publicado no Folha 8 do 11.07.95 (desastradamente alheio ao título) e um aperto de mão solicitado pelo Tonet altivamente recusado por Zé Maria, praticamente tudo o resto são conjecturas subjectivas, mentirosas, inventadas e não comprovadas.

Mente descaradamente e é uma atitude de show off, do general Zé Maria, ao dizer ter ido Tonet fazer-lhe um pedido, quando na realidade fomos tratar um assunto familiar e fiquei-me pelo quintal, pois ele recebe, na maioria dos casos, as pessoas da parte de dentro do seu gradeamento. Que o digam a maioria dos seus colaboradores e familiares. Mas para encurtar atalhos basta dizer, ao general, que nunca um filho com princípios familiares e religiosos, realizaria o funeral da mãe e irmão na intendência das Forças Armadas, tendo vivendas.

Quem age desta forma não deixa espaço para mais comentários e coloca a nú a sua impotência em manter e constituir uma família sólida.

Por esta razão, não há nada que se possa ler relacionado com o título do artigo, mas sim, ao longo dos 23 parágrafos do texto, uma espécie de rajada de metralhadora verbal em jeito de sublimação de uma verdadeira rajada mortal de metralhadora real sobre o director do Folha 8, William Tonet.

E isso sim, é muito curioso, porque o artigo aqui em análise começa com um anúncio formal de o articulista se deixar guiar pelos seus mais nobres sentimentos para responder “ao Tonet” (13 (não quinze) anos depois é obra!!!), pois dentre as fontes de inspiração que se lhe apresentaram para escolher o teor a dar ao seu texto – a lei de imprensa, a lei de Talião (olho por olho, dente por dente) e a Lei de Deus -, o general, em alma e consciência, renegou do alto da sua sublime formação moral, o olho por olho, e apenas se guiou pela lei de imprensa e a Lei de Deus. Óptimo.

Mas o resultado dessa sua muito sensata empreitada deixa-nos, a nós, doravante “consumidores” atentos dos escritos do general, estupefactos, esbaforidos de emoção perante os exemplos com que esse alto dignitário dos Estado nos contempla.

Depois de ter denunciado o facto de “o Tonet” ter confundido o grego com o latim quanto à origem da palavra DEMOCRACIA, e automaticamente inferir que ele «é um ignorante primário que, obviamente, não pode penetrar o significado da palavra que pretendeu definir. (JA, 23.08.08, pág7, 2º parágrafo)», o general Zé Maria não deixa fugir o nosso director da sua mira e ataca-o sem desamparar na alegria dum insecticida sob pressão e eficaz.

Talvez um pouco, diga-se, por ter mal escolhido o Mandamento Divino de que se inspirou para responder “ao Tonet”’, precisamente o quinto, que diz: «Não matarás», ou seja, não matarás... nem com caneta, respeitando a sua moderníssima exegese, segundo a qual também se pode matar pela escrita. Atente-se bem ao que escreveu o general: «Segunda constatação: a ignorância, uma das armas mais mortíferas, quando não usada convenientemente, é a caneta, a pena, a escrita (sic)» - isto mais valia acabar aqui, mas continuemos -, «até porque o escrito permanece e a palavra, essa, o vento leva-a. Assim sendo, quem de facto mata quem e quantos mortos se fazem em cada edição do bi-semanário Folha 8? Isto que fique para reflexão (idem, 4ºparágrafo).»

Frases destas não se comentam, Sr. general, e olhe que talvez seja melhor elas não ficarem por aí para reflexão, porque, segundo o que o Sr. general escreveu, se ficarem, seria para matá-lo a si, com as suas próprias palavras e com a ideia que o senhor tem do que é a pena, a caneta e a escrita!

Então a ignorância é a caneta, a pena, a escrita!? Certamente que não era isso o que o Sr. general queria dizer. Mas escreveu, e o vento não vai levar o que está no papel. Passemos adiante.

Após ter assim denunciado os assassinatos hebdomadários do Folha 8 e prosseguindo na sua cruzada contra “o Tonet”, muito longe da divina mensagem, diga-se, o Sr. general lança alguns dardos envenenados à sua figura. Aqui reproduzimos alguns deles:


«Quem são os mortos do Tonet? O Tonet mata porque é ladrão da boa fama alheia; agride as pessoas, metendo-se nas vidas delas sem pedir licença (...).» ibidem, 5ºparágrafo.

Sentindo-se ofendido por ter sido tratado de “General Musculado”, o visado considera sem a mínima hesitação que isso «(...)é mais um caso de esquizofrenia (inveja assolapada), já que musculoso pode ele ser (“o Tonet”), general é que não, e muito menos general democrata. (ibidem, 13ºparágrafo)»

«Quarta constatação: para o Tonet, sofredor de esquizofrenia jornalística, recomendamos que procure um psiquiatra para o livrar do “transfer freudiano” que enferma. Ibidem, 11ºparágrafo(...).

«(...) quis emprestar-lhe dois livros, “A República”, de Platão, e “A Política”, de Aristóteles, para ver se ele entendia, finalmente, o que é a democracia e o que é ser democrata. Mais tarde pensei que seria demasiado para cérebro tão... ibidem, 13ºparágrafo».

«(...) Poderá (“o Tonet”), apesar do seu coração plantado de espinhos e abrolhos, receber a mensagem de António Vieira? Ibidem, 21ºparágrafo.

«De facto, Hitler teve uma infância conturbada (...) engendrou no seu coração ódio e vingança para com a vida feliz do ser humano normal e da sociedade do seu tempo. Não é preciso fazer grande comparação ao falar-se do Tonet, que hoje vomita o ódio, o rancor e o fel que nele foi implantado, quando menino, pela PIDE/DGS na sua vida familiar. Ibidem, 9º e 10ºparágrafos(...)»

Nostradamus previu o insólito: a incarnação de Hitler seria William Tonet (ibidem, 11ºparágrafo).»

«(...) Seria o princípio do 4º Reich, exactamente 50 anos depois do holocausto de 40. Ibidem, 22ºparágrafo» (nota: fim do “holocausto”, 1945, mais 50 anos, é igual a 1995. O Sr. general, depois dos 13 anos que por lavra sua se transformaram em 15, cometeu mais um erro. Para uma pessoa ostentando  título tão elevado na hierarquia do Estado não deixa de ser inquietante).

Há mais, muito mais, mas evitemos redundâncias.

Se, como sustenta o general Zé Maria, “o Tonet” vomita o ódio, o rancor, o fel, é a incarnação de Hitler, tem o coração plantado de espinhos e abrolhos, mata gente uma vez por semana, tem um cérebro...(?) e sofre de  esquizofrenia, cujos sintomas negativos são o resultado da perda ou diminuição das capacidades mentais, um estado deficitário ao nível da motivação, das emoções, do discurso, do pensamento e das relações interpessoais, como a falta de vontade ou de iniciativa; isolamento social; indiferença emocional; apatia; pobreza do pensamento, exactamente o oposto do comportamento de William Tonet, qual será o significado de tanta diatribe, senão ódio primário assente em nada e muito maior do que o atribuído “ao Tonet”?

É que o director do Folha 8 nunca ofendeu o general Zé Maria desta maneira violenta, apenas criticou com toda a força que tinha (movido pela indignação e não por ódio) actos de que o general foi autor ou mentor.

Estamos em crer que o Sr. general confunde muita coisa, não só datas, efemérides e números, mas também sentimentos e leis. Seria muito bom que relesse todos esses livros de que fez grande alarde no seu artigo para mostrar a eventuais  “consumidores” o seu alto grau de sapiência e nível cultural...

Porém, pensando bem, talvez não valha a pena. O Sr. general  certamente tem imensa vontade de ser democrata, não duvidamos disso (está na moda), mas duvidamos de que consiga (desejando o contrário), porque não é nos livros que se aprende a ser democrata, é desde a tenra idade, na educação do dia-a-dia no seio da família e na escola, é entre os amigos escolhidos para caminharem ao nosso lado na vida, é com as mulheres que amamos e no respeito que lhes devemos, é nessa muito forte vontade de apreender ideias, compreender os outros e respeitar as diferenças de pensamento, mesmo se nos opusermos a elas, coisas que o Sr. general não teve a oportunidade de aprender, por ter sido vítima de uma educação dada a partir de premissas totalitárias e inquestionáveis (as do colono e, mais tarde, as do MPLA-PT) e ser hoje, por assim dizer inevitavelmente, detentor e defensor do que, muito sinceramente, no seu foro interior, pensa ser uma verdade absoluta e inquestionável, a antiga e completamente ultrapassada maneira de pensar da velha guarda do regime que governa o nosso país desde 1975.     

Porquê ir mais longe, fiquemo-nos pelos assassinatos semanais (morais, espirituais...) do Folha 8. A esse respeito o general Zé Maria não esconde a sua decepção por eles não serem realmente considerados pela lei com a mesma severidade que os assassinatos físicos. «Para matar, aplica-se somente a arma branca, a granada, o pau, o chicote e a bala? Ibidem, 4ºparágrafo», «Agredir com a caneta (...) é mais violento do que qualquer violência. Ibidem,7ºparágrafo». Neste alinhamento de ideias, o general Zé Maria, caso pudesse um dia aceder a um lugar de liderança política (civil), certamente proporia leis a condenar os jornalistas com penas de prisão semelhantes às que são aplicadas aos verdadeiros assassinos, talvez mesmo a pena de morte.

É que para este general, que se diz democrata, depois de ter sido um defensor impoluto do comunismo e militante fiel do PT-MPLA da década de 1980, um democrata é aquele que pensa mais ou menos como ele (ser-lhe-á permitido (a esse democrata) alvitrar de tempos a tempos uma ou outra diferençazinha), quanto aos que se opõem à sua maneira de pensar e de agir, não pode haver dúvidas, ou são  esquizofrénicos, ou assassinos, ou ladrões. Talvez as três coisas ao mesmo tempo, como “o Tonet”. E viva a democracia!, não é Sr. general?

*Arlindo Santana
Fonte: Folha8