Luanda -  Digamos que a maioria dos líderes africanos respondeu da mesma forma ao anúncio da morte do antigo presidente Líbio, Muammar Kadhafi. Não se pronunciaram, salvo raríssimas excepções, face ao futuro do país, bem como sobre as consequências imediatas para a Líbia da morte do antigo homólogo, muito menos o fizeram perante o tratamento que lhe foi aplicado no momento da captura ...ou, ao seu corpo, depois de morto.


Fonte: A Capital


Na sexta-feira, enquanto fechávamos o jornal, aguardamos impacientemente por reacções de líderes africanos a respeito do assunto de momento. Mesmo 24 horas depois do anúncio oficial da morte do homem que governou a Líbia por 40 anos, apenas encontrou-se uma tímida reacção do Conselho Nacional Africano (ANC), partido no poder na África do Sul, e outra, mais tímida ainda, do porta-voz da União Africana.

 

Os líderes africanos, ao que parece, foram todos acometidos por uma crise de mutismo. E essas reacções, embora poucas, de forma nenhuma foram feitas à dimensão de uma figura que, enquanto viva, era aclamada como herói africano e citada como sendo amiga dos seus vizinhos. Já ouvimos muitos líderes africanos a pronunciarem-se, sobre Kadhafi, como um “irmão” ou, na pior das euforias, como um “Rei dos reis em África”.


A desgraça, entretanto, levou também o isolamento a Kadhafi. Mesmo perante a União Africana, da qual era o principal financiador, ou ainda face às inúmeras amizades que comprou no continente, com recurso a largos milhões de dólares de ajuda para a construção de quilómetros de estrada ou de sumptuosas mesquitas. Enfim, quanto mais precisou, o bom do Kadhafi foi abandonado a ponto de tentar escapar da perseguição pelo cano de um sistema de esgotos. Mas esse silêncio, entretanto, também falou bem alto. Mostrou o grau de comprometimento das lideranças africanas, assim como a respectiva impotência face aos interesses ocidentais.

 

A maioria desses líderes depende, para sustentar o seu poder, das relações comerciais que mantém com o Ocidente, outros tantos não passariam sem as generosas ajudas recebidas das potências ocidentais e que servem para suportar os respectivos orçamentos anuais. Reagir, reprovando os últimos acontecimentos, ou, também, apoiando-os era como colocar uma faca na garganta de cada um dos líderes dos países da União Africana: se, por um lado, teriam o Ocidente à perna, por outro lado estariam a legitimar, junto do povo que governam, uma acção similar que possa ser desenvolvida nos respectivos países.

 

O silêncio serve, também, para uma grande maioria de chefes de Estado de África, donos de um estilo de governação similar ao da Líbia de Kadhafi, como uma forma de colocar as suas barbas de molho, perante todas as acusações de que muitos são alvo: pilhagens de recursos minerais, manipulação das leis a seu favor, repressão e violação permanente dos direitos humanos. Em muitos palácios africanos, imperou, nos últimos dias, o velho adágio: “calados, a gente se entende”.