Luanda - “Nenhum problema pode ser resolvido pelo mesmo estado de consciência que o criou”. – Albert Einstein.


Fonte: Club-k.net


“Há hoje algumas incompreensões e mesmo equívocos que é preciso esclarecer. Penso que isso ainda acontece porque o diálogo não é suficiente. O sector competente do executivo deve aprimorar as vias do diálogo social e ouvir, auscultar e discutir mais para que os assuntos sejam tratados em momentos e lugares certos e sejam encontradas e aplicadas soluções consensuais”. – (extracto do discurso de JES sobre o estado da Nação).


A ESPÉCIE DE DIÁLOGO RECOMENDADO


O tipo de diálogo que JES se referiu e recomendou ao sector competente do executivo (JES está de fora), é do tipo estabelecido entre o sargento Garcia e o Zorro, e entre Adolf Hitler e os povos das Nações subjugadas da Europa em especial com o povo judeu, do regime do apartheid e os nativos Sul-africanos, e do tipo que a geração dos meus pais e parcialmente a minha presenciou entre o governo colonialista de Salazar-Caetano e os povos autóctones de Angola, isto é o diálogo do tipo; EU DETERMINO/ORDENO E VOCES CUMPREM ou Eu falo e vocês escutam/aplaudem e quando tiverem algo para falar é só para ‘endoidicidamente’ enaltecer o ‘chefe’ e o regime, não contradizer NUNCA o chefe e o seu clã/tribo ou seja partido. Por isso JES ou seja o chefe, recomendou tal responsabilidade (diálogo) a classe do Sargento Garcia isto é o MININT (especialmente o SINSE) e a PIR - a divisão canina incluído.


 Por isso teve necessidade de acrescentar que o diálogo deverá ser implementado em momentos e lugares certos, óbvio que tais lugares certos são precisamente aqueles que a vasta maioria dos autóctones não têm acesso, e quando os acessar têm as liberdades cerceadas tais como; CNJ, JMPLA-JES, MPLA-JES, OMA-JES, Comités de especialidade, Movimento Espontâneo, Ajapraz e assim por diante os que não fazem parte de um destes ‘clube selecto’ serão alvos do trabalho do SINSE, e por outro lado entende-se do “recado do chefe”:  a maioria esmagadora dos autóctones não se encontrarem “nos momentos e lugares certos” é que nunca são ouvidos, o recado é; “movam-se para os lugares certos se querem ser ouvidos”.


JES perdeu muito convenientemente a memória, esqueceu-se que o tipo de diálogo que ele recomenda é precisamente o mesmo utilizado pelo regime colonial que fez com que ele próprio quando jovem e alguns dos seus contemporâneos naltura se rebelassem contra o sistema colonial imperante, precisamente porque as “incompreensões e mesmo equívocos que era preciso esclarecer” nunca eram esclarecidos, o poder colonial (sempre equivocado) recusava escutar os colonizados, porque estes eram ‘tachados’ de ‘inferiores’ não estarem a mesma altura ou nível do colonialista, portanto estes só tinham que OUVIR e nada mais.

 

Assim os jovens da geração de JES, cansados do malogro das várias tentativas protagonizadas pelos jovens das gerações anteriores em ‘chamarem a razão’ a composição do sistema, chegaram a uma conclusão irrefutável e incontornável e emitiram um vigoroso; BASTA! “O tempo de tentativa de estabelecer o diálogo já tivera passado, agora é o tempo da acção! O sistema colonial tinha que ser derrubado”. – Argumentaram e com basta razão, os jovens protagonistas do 4 de Janeiro (Malange), 4 de Fevereiro (Luanda), 15 de Março de 1961 (Uige), os heróis e precursores da nossa independência e libertação. Porque? Porque sistemática e irracionalmente o poder colonial de então, recusou-se a estabelecer o diálogo.


O QUE È O DIÀLOGO?


O diálogo tal como entendida para o presente texto, é o método de conversação que busca os seguintes resultados: a) melhoria da comunicação entre os interlocutores; b) observação compartilhada da experiência; c) produção de percepções e ideias novas; o diálogo amplia a percepção cooperativa do real. Sua marca fundamental é, pois, a fertilização mútua – entre o locutor e o interlocutor ou integrantes. Em palavras mais simples, podemos aferir ainda que diálogo é quando pessoas falam e escutam, cada qual colocando seu ponto de vista e tendo a mesma chance que a outra para falar e para escutar.

 

Fertilização mútua


Quem fala e quem escuta devem faze-lo com a nítida intenção de brotar novas ideias, novas perspectivas e estabelecer pontes de agregação entre o locutor e o interlocutor. Isaías 55:3 reza “ …Escutai, e a vossa alma ficará viva…” é com o propósito de manter, preservar a vida que o interlocutor deve escutar, evitando a arrogância, a infidelidade que conduz a desgraça, a destruição e a morte. Não é sem razão que o primogénito do Criador, advertiu inúmeras vezes; “Quem tem ouvido para ouvir que Oiça.” A história da humanidade esta repleta de exemplos de indivíduos que não souberam atempadamente OUVIR/ESCUTAR, saber escutar é parte intrínseca e vital do diálogo bem-sucedido.


O diálogo não inclui necessariamente chegar a sínteses nem chegar forçosamente a decisões; estas são as finalidades da discussão e do debate. Na interacção do diálogo, o propósito é exercitar novos métodos de ver e criar significados em conjunto, até certo ponto a flexibilidade é a principal tónica do diálogo, por isso nas varias significações do termo diálogo, entende-se também por; FLEXIBILIDADE.


Diálogo versus Discussão/Debate


Vamos simplesmente sintetizar os objectivos de um e de outro para compreender-se as diferenças dos mesmos;

OBJECTIVOS DO DIÀLOGO


- a) Abrir questões; b) Mostrar; c) Estabelecer relações; d) Compartilhar ideias; e) Questionar e aprender; f) Compreender; g) Ver as relações entre as partes e o todo; h) Fazer emergir ideias; i) Revelar a pluralidade das ideias.


OBJECTIVOS DA DISCUSSÃO/DEBATE


- a) Fechar questões; b) convencer; c) Demarcar posições; d) Persuadir e ensinar; e) Explicar; f) Examinar as partes em separado; g) Descartar as ideias vencidas; h) fazer acordos.


Cabem aqui algumas observações a respeito dessas diferenças. Em primeiro lugar, elas não pretendem que o diálogo é melhor ou pior do que a discussão e o debate. Trata-se de maneiras diferentes – porem complementares – de conversar. E é bom que assim seja, pois há situações na vida em que precisamos dialogar e circunstâncias em que precisamos de discutir e debater. Alem disso, na prática a separação entre uma coluna e outra não é tão estanque assim. Numa sessão de diálogo, as pessoas muitas vezes passam da discussão/debate á interacção dialógica e vice-versa.


A FINALIDADE DO DEBATE E DO DIÀLOGO

 

A finalidade do diálogo é observar e participar para aprender pela compreensão. O objectivo do debate/discussão é participar e intervir para aprender pela explicação. Podemos dizer também que a diferença de um e outro resume-se; o objectivo de um é criar e aprender e o do outro, é ter razão e sair vencedor.


O automatismo concordo-discordo


Nossa tendência a fragmentar é mais forte que a necessidade de integrar. Não sabemos ouvir. Quando alguém nos fala, em vez de escutar até ao fim o que ele tem a dizer, logo começamos a comparar o que é dito com nossas ideias e referenciais prévios. Esse processo mental – que chamamos de automatismo concordo-discordo – quando levado a extremo é muito limitante. Ouvir até ao fim, sem concordar nem discordar, é muito difícil para a maioria de nós.


O automatismo concordo-discordo funciona assim: quando nosso interlocutor começa a falar, de imediato assumimos duas atitudes: a) “já sei o que ele vai dizer e concordo, portanto não vou perder tempo a ouvi-lo”; b) “já sei o que ele vai dizer e não concordo, portanto não tenho porque ouvi-lo até ao fim”. Em ambos os casos o resultado é o mesmo: negamos a quem esta no uso da palavra (como se soe dizer cá na banda) a capacidade ou a possibilidade de dizer algo de novo – o que na pratica pode corresponder a negação da existência dessa pessoa.


A Lógica binária; Quem não é por mim é contra mim


Faça você mesmo, caro leitor a prova: tente escutar até ao fim, sem concordar nem discordar, o que o seu interlocutor lhe diz. Procure evitar que, logo as primeiras frases dele, você já esteja pensando no que irá responder verá então como é difícil. E constatará que esse automatismo é uma das manifestações mais poderosas do condicionamento de nossa mente pelo modelo mental ”ou/ou” – a lógica binária. O mundo é visto de forma binária; ou bem ou mal, ou certo ou errado, ou real ou imaginário, ou vencedor ou vencido, ou por mim ou contra mim e assim por diante e é nesta ‘binaridade’ se me é permitido tal termo, que os supostos “mais-velhos” que compõem o núcleo do estado da situação calamitosa do País, ‘pensam’ e se revêm, imitando mais voluntaria que involuntariamente as posições desarrazoadas dos colonizadores; negarem a existência real dos governados.


Faça o que eu digo e não o que faço


Ora bem, finalmente podemos concluir que o diálogo não pode ser encomendado, ordenado, decretado ou recomendado como uma mera receita, a necessidade ao diálogo esta no nosso gene, faz parte da nossa natureza. Uma das formas de conversar ou transmitir ideais é pelo exemplo prático, tal forma é a mais natural e convincente, os filhos (por exemplo) observando atentamente os pais imita-os sem estes terem necessidade de expressarem por palavras tal recomendação, por isso quando os rebentos verificam que os pais não conjugam o que dizem com o que fazem, rebelam-se manifestando profundo e dececionante desagrado, tal manifestação pode ser expressa por palavras ou por ações, ora! Qual deve ser a reação pedagógica dos pais honestamente preocupados com o desenvolvimento salutar dos filhos?


Ora como se faz o diálogo no seio do partido de JES? Está é a melhor forma de definirmos o tipo de diálogo que JES recomendou, ‘vermos’ a espécie de diálogo que permeia entre os convivas da família JES ou do MPLA-JES.


Todas as decisões emanadas no seio dos ‘camaradas’ foram/são realmente consensuais? Busquemos o exemplo da atípica constituição em vigor, foi ou é fruto de um aturado e pedagógico diálogo ou discussão/debate no seio dos ‘camaradas’? por sua vez ‘eles’ buscaram consenso da sociedade em geral, para implementação da tal atípica constituição? No que se refere a Comissão Eleitoral Independente – uma das balizas da atípica constituição – será implementado?

 

Há de facto diálogo na chamada família ‘dos camaradas?’, alguém pode expressar o que quiser, discordar sobre qualquer assunto de interesse a sua comunidade ou família? Alguém pode aspirar a ser líder, e propor de forma livre e espontânea métodos de trabalho alternativos?


É precisamente isso que a juventude dos anos 40-60 reivindicaram a semelhança da juventude da actualidade, reclamam a capacidade de também eles escolher o seu próprio destino, de participar na governação, de propor ideias alternativas e soluções úteis as imensas dificuldades na qual a Pátria esta atolada. Nos anos 60 o regime colonial fascista, ‘recomendou’ a PIDE/DGS manter o ‘diálogo’ com os autóctones Angolanos, a semelhança do que fez Hitler ao recomendar a GESTAPO a execução do diálogo com os povos cativos da Europa, hoje JES que se diz nacional-fascista, segue o exemplo dos seus mentores e recomenda “ao sector competente do executivo aprimorar as vias do diálogo social…”


O movimento de reivindicação que se vê um pouco por todo o mundo os chamados INDIGNADOS, composto essencialmente por jovens, buscam particularmente as mesmas coisas, TODOS estão cansados dos ditames, impostos por governantes (incapazes de ouvir/escutar) híper ávidos de poder político e financeiro a qualquer preço, os jovens reivindicam uma governação mais participativa, transparente, dialogante e abrangente.

 

Nunca na história da humanidade, tão poucos acumularam gigantescas fortunas e MUITOS nem têm o suficiente para sobreviver o dia. É por uma sociedade mais JUSTA e uma democracia mais PARTICIPATIVA que os indignados de todo o mundo (Angola incluído) estão buscando e lutando.


“ Não alcançamos a LIBERDADE buscando a liberdade, mas sim a VERDADE, a liberdade não é um fim, mas sim a consequência”. – Léon Tolstoi