Quem acompanha as reacções dos vários ditos “Institutos de Pesquisa” em relação a como está a decorrer o nosso processo eleitoral, depara-se com duas coisas: Uma – e parece que bem a contra-gosto – reconhecem que o registo eleitoral foi um tremendo sucesso (dizem mesmo que devemos ter um dos melhores registos de África, senão do Mundo). Outra, e para não variar, dizem que estas eleições podem não ser livres e justas “porque o MPLA domina todo o aparelho estatal, as pessoas têm défice de acesso à informação, etc, etc”. Todos eles, porém, não conseguem fugir à esta realidade: Os angolanos estão apostados a, antes de mais, repôr o processo democrático nos carris. Ao seu jeito, e estão dispostos a pagar o preço disso.
 
Nalgumas coisas – como sempre – estas instituições têm razão. No meio da elevação com que todos os actores políticos e não só estão a comportar-se, a vergonha mesmo está com os órgãos de comunicação pública, Não sei por que cargas de água, na corrida de quem bajula mais e se auto-censura mais, estão a manchar um exercício que descontando isso, está a ser realmente bonito. Sendo sobretudo responsabilidade dos seus Directores – analistas dizem agora compreender as razões por trás da sua nomeação meses antes das eleições – todos os relatórios de observação coincidirão neste ponto: A média pública fez um claro, “inético” e desnecessário favorecimento do MPLA contra todos os postulados de cobertura jornalística em tempo de eleições. A sua actuação deveras envergonha o País em geral e a classe em particular. Esperemos que com essas e outras críticas, os DGs da TPA, RNA e ANGOP assumam os seus brios profissionais e ponham cobro aos excessos enjoativos com que viciam o esse processo. Sobretudo, esperemos que não dêem mais azo àqueles que prenunciam desgraças ou querem desacreditar o processo eleitoral, com a transmissão em directo do comício-encerramento do MPLA no Cacuaco porque o seu presidente – também Presidente da República – vai-se fazer presente.
 
Mas noutras coisas – e na maior parte delas – estas instituições revelam um revoltante sentido paternalista e neo-colonial, infelizmente muitas vezes favorecido por actores internos. Na sua visão arrogante, preconceituosa e baseada no imperialismo cultural que estão habituados a exercitar, querem que tudotem que ser feito “como se faz nos seus países” sem querer saber das características próprias de cada país e de cada momento histórico. Na sua lógica, as eleições deveriam ter sido feitas logo após o Memorando de Entendimento; Não se deveria perder tanto tempo criando as necessárias condições como a desmobilização dos soldados, a sua reinserção social, o reassentamento dos deslocados e refugiados, a reconstrução das infraestruturas básicas… e o próprio fortalecimento dos partidos da oposição e da sociedade civil. Era eleições, e pronto. Se depois dessem mal, era o previsível: São sub-desenvolvidos, não sabem viver em democracia, andam sempre às turras. Só que enquanto isso, lá enviam as suas sobras encapotadas em ajudas humanitárias e financiamentos de 360 graus – aqueles que são dados para “ajudas” com a condição de comprar a comida e medicamento das empresas deles, os carros dos seus países e… a mão de obra dos seus países também, nada ficando para o país “ajudado” salvo algumas migalhas.
 
Dali o manifesto mal-estar – com laivos de despeito – com que estes círculos encaram o processo angolano; Conscientes que a mensagem que angolanos passam ao Mundo é que as suas fórmulas não servem automaticamente para este país, reagem desacreditando o mais que podem este processo, ridicularizando as particularidades que vão surgindo fruto do contexto específico. Por isso chamam arrogantes os angolanos. Para eles, apenas servem aqueles que os servem, usando os seus fundos para satisfazer as suas agendas
 
Nessa era de globalização, é literalmente impossível estar isolado do mundo. Ou, como dizia Salazar, permanecer “Orgulhosamente Sós”. Graças às novas tecnologias de informação os acontecimentos em qualquer parte do Mundo passam rapidamente a ser do domínio de todos. Dali que, a experiência mundial não pode ser ignorada mesmo por quem queira caminhar pelo próprio pé, caminhar os seus próprios caminhos. Mas isso não significa que nos deixemos engolir por aquilo que não sendo nosso, não nos diz rigorosamente nada. Podendo, graças a Deus dispensar a cenoura dos dinheiros com que escondem o cacete das suas imposições podemos – e devemos por amor aos nossos vindouros – ser “Orgulhosamente Nós” na forma como fazemos essas eleições. O resto, incluindo os arrogantes “barões mundiais”, é paisagem.
 
Não nos deixemos por isso manipular por quem queira pôr em causa as nossas eleições só porque não foram feitas como um ou outro país qualquer acharia “correcto”. O que conta mesmo somos nós e a forma como estas eleições – nossas eleições – servem os nossos interesses como angolanos.
 
As nossas eleições – muito nossas, doa a quem doer – ainda vão servir de exemplo para muito boa gente. Ou países, se quiserem. Doerá a quem doer, porque saberemos mantemo-nos Orgulhosamente Nós… !
 
Apesar de tudo.
Fonte: Club-k.net