Luanda -  Muita comoção, seguida de manifestações de solidariedade dos inúmeros amigos, parentes, familiares e colegas, foram verificadas durante o velório do jovem Francisco dos Santos, de 22 anos, que foi baleado mortalmente, na tarde de sábado, 12 de Novembro,  no município do Rangel, rua dos Estudantes, alegadamente por um agente da Polícia Nacional que se encontra em fuga.


Fonte: Novo Jornal

Mais uma vítima das forças de segurança

Segundo familiares da vítima, o crime ocorreu quando duas crianças brigavam na rua. “Os  miúdos estavam a brincar e, de repente, começaram a lutar. O Francisco foi separá-los para não brigarem, mas um deles foi chamar o pai, dizendo que o Francisco o agrediu. O pai, sem mais nem menos, puxou da arma e fez dois disparos à queima-roupa contra o jovem”.

 

António Sapalo, amigo da vítima e que presenciou a cena, disse que quando o agente da polícia, identificado por Jaime Leitão Ribeiro, chegou ao local não perguntou o que se tinha passado. “Disse apenas que ele era chefe e que era ele quem mandava. Começou logo a fazer os disparos, dois deles atingiram a parte traseira do jovem e meteu-se em fuga. Não sei porque é que os agentes da polícia têm esse comportamento, ele tem de  ser responsabilizado”, frisou.


Familiares da vítima dizem que, desde o dia da morte do jovem, tem sido alvo de ameaças de morte por agentes da Polícia Nacional quem se atreva a denunciar o caso.


“Estamos com muito medo, senhora jornalista. Estamos a falar com a senhora, não sei o que vai nos acontecer. Vêm aqui pessoas que não conhecemos a procurar a família do falecido, já não sabemos o que fazer. Nós não vamos deixar que a morte do nosso parente fique impune”.


Francisco dos Santos foi socorrido no Hospital Américo Boa Vida,  onde veio a falecer, por volta das 21h00.


Os familiares disseram ainda que o suposto assassino é funcionário da Direcção de Investigação Criminal de Luanda e que já tentaram contactar a comandante de Luanda, mas o contacto não surtiu efeito.


O Novo Jornal no local conversou com alguns vizinhos da vítima, que caracterizam o agente da polícia como sendo “mau carácter”.


“Ele não presta. A vida dele aqui no bairro é ameaçar as pessoas.  Já no princípio do ano baleou um jovem e nada lhe aconteceu. A justiça neste país não funciona, porque se funcionasse este homem já estaria há muito tempo na cadeia. Ele pensa que devido à farda que usa pode ameaçar que mata as pessoas. Estamos muito tristes com o silêncio da comandante Bety, porque ela tem conhecimento do que se passa”.


Francisco dos Santos deixa uma viúva, que não trabalha, e uma filha, de seis meses. Os familiares dizem não saber como criar a criança.


Familiares e amigos consternados Catarina António, prima da vítima, tem poucas palavras, mas estas servem para questionar: “Que tipo de polícia é esta que tira a vida de uma pessoa inocente?

Desde sábado que andamos de baixo para cima e nada. Já escrevemos a marcar um encontro com a comandante de Luanda. Não sei o que ela está a fazer em Luanda, estamos descontentes com o trabalho dela”.


Por outro lado, os familiares protestam contra o silêncio da corporação quanto ao andamento do caso, receosos que a culpa morra solteira, porque o infractor está à solta e anda no bairro como se nada tivesse acontecido.


No bairro os moradores acusam a polícia de prepotência e de favorecer o agravamento da delinquência e disseminação de grupos contrabandistas.


“Podemos ter problemas e chamar a polícia, mas nunca chegam a horas. A situação piorou desde a nomeação da comandante de Luanda. Acho que foi um erro nomeá-la para Luanda”, protestam.

 

“Não sabemos o seu paradeiro”


O porta-voz interino do Comando Provincial de Luanda,  Nestor Goubel, disse ao Novo Jornal que o agente da Polícia Nacional encontra-se foragido.


“Já foi emitido um mandato de captura contra o agente, porque também não sabemos o seu paradeiro e tudo estamos a fazer para que ele se entregue.


Nestor Goubel disse não corresponder à verdade a informação de que os colegas estão a proteger o acusado. “Nós não estamos a proteger o agente e a informação de que ele anda normalmente no bairro não corresponde à verdade, porque os nossos homens estão no local todos os dias. Não sabemos mesmo onde ele está”, garantiu.


O graduado acrescentou que a qualquer momento a polícia vai apresentar o suposto assassino.


*Isabel João