Lisboa – Depois de José Eduardo dos Santos, é ele a figura com mais poder no MPLA por controlar o maior celeiro eleitoral no país. A surpreendida nomeação ao posto de governador de Luanda reforça-lhe tal poder precipitando estimativas segundo as quais, por gozar de autoridade e ter apenas um único chefe, pode vir a ter um mandato ao estilo de Aníbal Rocha.
Fonte: Club-k.ne
Bento Joaquim Sebastião Francisco Bento que é agora o décimo oitavo governador de Luanda, nasceu em Camabatela, província do Kwanza-Norte. Mudou-se muito cedo para Luanda e logo após a revolução do “25 de Abril”, fez parte do grupo de jovens que naquela altura aderiu ao MPLA. Contava 16 anos de idade, e por tal razão foi colocado na JMPLA, organização juvenil onde cresceu politicamente e chegou a ser segundo secretario provincial de Luanda. Antes de ai chegar, dirigiu o departamento de organização da juventude e chefiou a secção de re-enquadramento de jovens nos bairros de Luanda. É hoje identificado como o dinamizador da estruturação da rede da JMPLA na zona da Samba, Curimba e futungo.
A relevância que desde muito cedo teve no aparelho partidário, é reflectida na sua presença em quatro congressos consecutivos do MPLA. Foi ele a quem a data altura se pretendia enviar para Hungria para exercer, as funções de Vice-Presidente do Fórum Mundial da Juventude Democrática (FMJD). O seu nome seria, porém, vetado por cinco quadros da JMPLA que tinha a competência de o avaliar e em seu lugar foi despachado um outro responsável juvenil, Alfredo Júnior.
Bento Francisco Beto saiu da JMPLA, em finais dos anos oitenta para ser transferido, para a sede central do partido, onde passou a responder pela divisão do DORGAN do Comitê Central. Em 1991, entrou nas estruturas do executivo como assessor da extinta Secretaria de Estado da cultura. Seria depois indicado como delegado do Estado angolano junto da CUCA-BGI, com as funções de Director Geral adjunto desta mesma empresa.
Na época do afastamento de João Lourenço, do cargo de SG do MPLA, Bento Francisco Bento que se encontrava como membro do Comitê Municipal do Sambizanga, teria sido sondado para revitalizar a província de Luanda, em substituição do então primeiro Secretario Províncial do MPLA, Francisco Vieira Dias. Nas vestes de “numero um” do partido na capital do país, apoiou-se nos CAP- Comitê de Ação do Partido transformando-os em alavanca partidária. Recuperou a classe intelectual que se tinha afastado do partido e motivo-os a exercer militância nos CAP, no sentido de valorizar as bases. Aproximou a classe empresarial, ao MPLA.
Revitalizou-se, ele próprio contanto com a assessoria de instrutores brasileiros que o municiariam com técnicas de liderança política. Passou a gozar da aceitação de José Eduardo dos Santos, e dentre os quadros políticos da sua geração é o dos que faz a retaguarda do presidente do MPLA quando se observa declínio da sua aceitação interna. Em Março, do corrente ano, foi com ele com quem JES contou e orientou a realização de ações de massas para atenuar as ameaças de manifestações que apelavam ao derrube do Presidente da República.
A lealdade que tem pelo PR é também por gratidão ao papel que o presidente exerceu em fase difícil da sua vida. A poucos anos atrás, caiu adoentado e na altura circularam vários rumores dentre os quais uma versão de que teria sido envenenado. JES quando tomou conhecimento do seu estado de saúde ordenou uma aeronave para que o despachassem para o Brasil, em tratamento médico.
A ajuda que lhe foi dada pelo Presidente, influenciou-lhe também na conduta com os militantes. Quando toma conhecimento que quadro do partido esta com uma doença grave, o mesmo procura ajudar com verbas para este se tratar no exterior. Figuras próximas ao mesmo, notam que também fica sentido com as condições sociais de dirigentes comunais do partido ou dos CAP, sobretudo aos que o procuram na sede percorrendo longas distâncias por falta de transporte próprio. A suscetibilidade que denota ter para com os quadros partidários, proporciona-lhe apoios internos.
É também visto como muito exigente, em termos de trabalho, razão pela qual, quando foi nomeado governador de Luanda, franjas do partido, apoiaram a decisão de José Eduardo dos Santos, por reconhecerem nele a faceta de dinamizador. Tem-no como a figura do MPLA, que ao longo destes anos acumulou conhecimento dos problemas da província, por ter sido, enquanto responsável do comitê provincial da capital do país, depositário de varias reclamações dos munícipes e actuou como fiscalizador dos governadores que por Luanda passaram, nos últimos 6 anos.
Durante as visitas de campo que efectuava, os moradores expunham-lhes os seus problemas e por sua vez, o mesmo, se comprometia em encaminhar as questões ao governo provincial ou as administrações municipais. Quando estes falhassem, os populares iam as rádios atacar o MPLA/Luanda. A situação deixava-lhe aborrecido e em situação de incompatibilidade com pelo menos dois dos seus antecessores, Job Kapapinha e Francisca Espírito Santos. Entendia que era a sua imagem e a do partido que ficava afectada em função da prestação menos boa, dos seus colegas governadores/administradores.
A falta de acção que notava dos governadores fazia-lhe com que as vezes actuasse pessoalmente junto das entidades que tinham competências para o efeito. Certa vez convocou um militante, Agostinho Nelumba, que exercia as funções de PCA da ENE, para pressionar solução aos problemas de falha de energia em Luanda. Exercia também influencia sobres os administradores municipais vistos que alguns eram seus subordinados no partido. É a tal autoridades que os militantes vêem-no como figura habilitada para por cobro as debilidades que Luanda apresenta.
Do lado da oposição política e sociedade civil, as reações foram conflagrarias. A oposição sempre o acusou de exceder-se na sua eloqüência e encaram a sua nomeação ao cargo de governador de Luanda como estando destinada a obedecer cálculos políticos eleitorais. A juventude (desvinculada ao MPLA), de acordo com leituras, das reações nas redes sociais, invoca o seu lado oposicionista as manifestações “anti-regime”.