Luanda - Até há bem pouco tempo, José Eduardo dos Santos afirmava-se como líder incontestável e a quem todos faziam as vontades – atente-se ao exemplo da Constituição elaborada para servir os seus interesses pessoais. No entanto, o presidente está a perder o seu poder absoluto de dispor, de forma arbitrária, de alguns membros do MPLA e do seu executivo.


Fonte: makaangola.org


Recentemente, o presidente teve dificuldades em convencer indivíduos que lhe prestam lealdade, para o provimento do cargo de governador de Luanda. O actual chefe-adjunto da bancada parlamentar do MPLA, Higino Carneiro; o governador do Bengo, João Miranda; e o antigo vice-governador de Luanda, Bento Soito, foram alguns dos que disseram “não” aos emissários presidenciais, que os contactaram para o cargo.


Para os quadros do MPLA, declinar uma ordem ou convite do presidente era algo impensável até há bem pouco tempo. Figuras do partido no poder ressaltam sempre o carácter rancoroso e vingativo do Chefe de Estado. Em diversas ocasiões, José Eduardo dos Santos nomeou indivíduos para cargos públicos sem sequer consultá-los previamente. Com a mesma leveza e inaudita frequência, membros do governo tomaram conhecimento das suas exonerações através dos órgãos de comunicação social.

 

A nomeação de Bento Bento, o primeiro-secretário do MPLA em Luanda, deve-se à falta de escolhas com que o presidente se viu confrontado.

 

Bento Bento afirma-se como “político desde tenra idade”. Do seu currículo profissional consta a coordenação das célebres “campanhas de produção” dos estudantes do ensino preparatório e secundário, em tempo de férias, durante o período Marxista-Leninista. Tirando a militância partidária, o único emprego que se lhe conhece foi uma fugaz passagem pela cervejeira Cuca como representante do Estado angolano.

 

Ironicamente, em 2008, após a realização de eleições, Bento Bento considerou o Governo da Província de Luanda como um “cemitério de quadros”, em entrevista a um semanário local.

 

Segundo vozes do MPLA, apesar da sua falta de qualificações para o cargo, Bento Bento tem o mérito de manifestar menos apego ao saque dos recursos do Estado, entre tantos ladrões que se acoitam nas estruturas de decisão do partido, do qual é membro do Bureau Político.


Bento Bento também é conhecido como um dos principais mobilizadores do MPLA. Mas, o cargo pode afectar-lhe a capacidade de mobilização. A 3 de Dezembro de 2011, presidiu à “Marcha Patriótica” do MPLA que teve, como ponto alto, um espectáculo musical e comício no Largo do Lar do Patriota.


A massa militante do MPLA, presente no acto, manifestou-se indisposta a fazer coro aos “Viva o Camarada Presidente José Eduardo dos Santos”, “Viva o MPLA”, entre outros slogans políticos. Nem sequer demonstrava vontade em aplaudir aos diferentes momentos da actividade.


Bento Bento foi o único orador a conseguir animar momentâneamente a audiência, de cerca de dez mil participantes, ao pedir que levantassem os braços e agitassem os chapéus em reconhecimento aos feitos do presidente e do partido. No entanto, durante a leitura do seu discurso, os militantes do MPLA abandonaram o local, de forma massiva, em direcção aos autocarros que os levaria de volta às suas áreas de residência. Em surdina manifestavam que estavam com fome.