Luanda - A penumbra é uma sombra incompleta, produzida por um corpo que não intercepta inteiramente os raios luminosos; meia-luz. A penumbra verifica-se igualmente na ocasião do eclipse parcial (do sol ou da lua) durante a qual a lua passa entre a terra e o sol; ou na orbita da terra entre a lua e o sol. Nas ambas ocasiões regista-se o desaparecimento parcial do sol ou da lua, respectivamente.


Fonte: baolinangua.blogspot.com


Na política africana, por natureza, os líderes são geralmente ultra-sensíveis à competição interna nas instituições politica ou públicas. A concorrência política é tida como um eclipse à imagem do chefe, do líder ou do estadista que é imune a qualquer tipo de contestação do poder.


Este tipo de mentalidade está bem enraizado na consciência das pessoas, dos quais têm dificuldades enormes de evoluir e de se libertar desta cultura. Visto que, logo da infância a gente cresce nas instituições tradicionais em que os líderes comunitários são tratados com alta veneração, rodeados por uma corte de dignitários e conselheiros que apenas ajudam o Rei no exercício do seu domínio inquestionável.


Os preceitos costumeiros, em determinados casos, difundem um certo grau de dogma que é imposto com autoridade e aceite sem crítica nem exame. É uma cultura de quem afirma com intransigência, de quem afirma sem prova, nem crítica prévia. Noutras palavras, é o culto de personalidade que naturalmente se impõe na plenitude e cuja mística se coloca acima do raciocínio normal do ser humano.


Na evolução das nossas sociedades o Cristianismo, o Animismo e outras Crenças tradicionais ajudaram em reforçar este caracter, o qual contraria a multiculturalidade que regem as instituições modernas. O surgimento da cultura democrática, que liberta a consciência do homem, assente no princípio de sufrágio universal, tornou-se um verdadeiro desafio à humanidade na sua forma de organização politica, na distribuição de bens comuns e na administração da justiça em que impera a igualdade de todos perante a lei.


Este desafio, que se manifesta em todo mundo, deve ser encarrado com maior realismo e pragmatismo. O mundo, na era contemporânea, tornou-se uma pequena aldeia em que a alta tecnologia de comunicação veicula o entrosamento humano numa teia de aranha. Não há forma nenhuma de se manter isolado sem que seja influenciado ou tocado directa ou indirectamente pela transformação global. Qualquer postura que não se conforma com esta realidade pode correr o risco de ser ultrapassado pela dinâmica da globalização e condenado à degenerescência irreversível.


Pois, as sociedades modernas, com o potencial económico, como o de Angola, são geridas pelos factores diversos quer internos quer externos, os quais reflectem os interesses estratégicos das economias avançadas. Convém realçar o facto de que, o mundo está na fase de transição à uma nova ordem mundial que irá definir o contexto das relações de cooperação multilateral, o sistema político dominante, a correlação de forças entre as potências antigas e as economias emergentes e a afirmação do centro-de-gravidade e de comando.
Neste contexto, o petróleo constitui um dos factores dinamizadores da estratégia geoeconomia e geopolítica das potências industrializadas. A superação da actual crise económico-financeira, que afecta todo o mundo, terá a sua incidência na contenda pelo acesso às regiões produtoras do crude. Neste respeito, o Golfo da Guiné, livre do fundamentalismo acentuado, apresenta-se como uma alternativa viável e mais segura no que diz respeito o acesso ao mercado petrolífero pelas economias desenvolvidas.


Havemos de constatar, nesta Região do Golfo da Guiné, a redefinição de interesses económicos, de alinhamentos e de estratégias de cooperação bilateral e multilateral. A identidade politica, na sua afirmação prática, como valor fundamental, constitui um factor importante que determinará a nova constelação regional.


No advento da perestroika e do Glasnost, no limiar do fim da Guerra-fria, tudo apontava à alteração significativa da constelação bipolarizada entre o Bloco do Leste e o Bloco Ocidental. Na realidade, as alianças são erguidas e operam na base de interesses concretos que se fundamentam na confiança mutua e na prossecução de valores políticos fundamentais.
Embora tivesse havido uma base substancial de aproximação de valores políticos, cementados durante a guerra-fria, os interesses económicos de cada país ditaram o destino das alianças e penalizou gravemente os antigos amigos e aliados da mesma trincheira. Portanto, exige a prudência e o realismo politica na abordagem da conjuntura do nosso país no contexto global. Pela experiencia vivida, o destino de Angola nem sempre tem obedecido à vontade soberana dos seus cidadãos.

 

Por outro lado, o mérito, a lealdade e a integridade são virtudes importantes que sustentam a projecção de uma grande Causa junto da opinião pública interna e externa. A inexistência destes pressupostos fundamentais, por mais solido ou histórico seja, conduz infalivelmente ao desmoronamento gradual do Castelo. O realismo politico nos permite encarrar os fenómenos sociais conforme a sua verdadeira natureza. Os Homens de caracter forte têm tido muita e muitas vezes a ousadia de enfrentar decididamente a realidade e agir com astucia e sabedoria. Contornando as armadilhas ardilosas dos seus adversários mais poderosos.


 A penumbra tem uma outra faceta que tem o potencial de eclipsar a credibilidade, a importância e o poder de um líder ou de uma formação politica. Um acordo de cavalheiros mal concebido pode descreditar e destruir a legitimidade de uma grande Causa e afastar os apoios cruciais para a sua sustentação. Por isso, a autodeterminação, em termos de independência politica e de autofinanciamento, constitui um factor chave para o reforço da legitimidade politica.


Uma organização politica que é incapaz de demarcar-se nitidamente do seu arco-rival perde a confiança da opinião pública. Isso significa que, se um partido político da oposição não desenvolver as capacidades de autofinanciamento sustentado e apenas depender da mão abençoada do Estado (formal ou informal),o seu grande Sonho de alcançar o Poder estará adiado sine die.  


Numa sociedade carente e socialmente pobre, cujo povo vive na miséria extrema, torna-se difícil congregar a vontade do povo e conduzi-lo à uma mudança democrática sem recursos adequados que permitam destacar-se do adversário; implantar infra-estruturas funcionais em todo país; dispor-se de quadros suficientes e capazes a todos níveis; salvaguardar a lealdade partidária; manter a unidade e a coesão das fileiras; despertar e inspirar a consciência popular; estruturar uma campanha eleitoral vigorosa; fiscalizar o processo eleitoral e controlar rigorosamente o escrutínio.


Pois, seria uma mera utopia acreditar na boa-fé do Regime em poder conduzir um processo eleitoral com transparência e lisura, como acontece nas democracias genuínas em que a vontade do povo é inviolável.


Lembro-me da era do Presidente Joseph Mobutu Sessesseko, no Zaire, que foi capaz de domesticar toda a Oposição que atrevia derrubá-lo. Tinha o tacto de aproximar os seus adversários, seduzi-los, corrompê-los e neutralizá-los. Os fazia apreciar a melodia encantadora da sua musica e terminavam por caírem na sua rede e cooptados definitivamente no seu projecto. Poucos líderes Zairenses conseguiram escapar-se da ardilosa armadilha daquele Velho Leopardo astuto, das densas florestas do equador.


O sistema de partido-estado que prevalece em Angola, que exerce o monopólio económico-financeiro e a hegemonia politica, enfraquece a capacidade dos partidos de oposição e limita o seu ângulo de independência e de acção. Tornam-se vulneráveis à chantagem, à manipulação e ao tráfico de influências. 


Evidentemente, a situação de Angola é altamente melindrosa, na medida em que o curso da democracia é ditado por um só homem que tem todos poderes em sua posse. Ele não dita apenas a política do país, mas sim, utiliza todo o poder do Estado para desarticular a Oposição e ditar as regras do jogo.


 Se trata de um Regime com características atípicas que ilude a sua natureza real e se projecta com mestria na comunidade internacional. Sufoca a democracia ao seu belo prazer e o faz de tal forma que projecta uma imagem contrária que lhe confere louros nas instituições que deviam salvaguardar e defender o avanço da democracia.


As eleições de 2012 constituem um marco decisivo que determinará o grau da democraticidade e a capacidade da sociedade angolana de se libertar do jugo do sistema partido-estado. Para já, nos congratulamos pelos consensos e compromissos alcançados na aprovação da lei eleitoral. Oxalá! Que tenha sido feito no espirito patriótico, de buscar um Estado verdadeiramente democrático e de direito.


Nesta quadra festiva desejo a todos feliz Natal e que o Ano de 2012 seja próspero, não obstante a crise económico-financeira que se desenrola em todo mundo sem qualquer sinal de abrandamento. Tenhais força, coragem e fé!


22 de Dezembro de 2011