Lisboa - Finalmente entramos em 2012. A bola está agora do lado do MPLA que tem pela frente a missão de reunir os seus aderentes para definir a estratégia eleitoral e arrumar de uma vez por todas o imbróglio SUCESSÃO ou adiar, outra vez, este assunto, tão candente em cada esquina ou conversa de quintal entre os simpatizantes, aderentes e militantes do MPLA. Os angolanos, em geral, estão exasperados com a continuidade do presidente Eduardo dos Santos à frente do destino do MPLA e de Angola. O envolvimento de membros da sua família nos maiores negócios em Angola é o ónus da causa desse mal-estar.


Fonte: Club-k.net

samakuva jes 1.jpg - 12.16 KbÁgua mole em pedra dura tanto bate até que fura, diz o velho apanágio popular mas o MPLA é duro de roer. Saiu incólume das manifestações mas não o seu líder, Engº José Eduardo dos Santos (JES). Os miúdos arruaceiros, como alguém os classificou, conseguiram separar o líder do resto do grupo, sobreviveu o MPLA mas JES está enfraquecido. E a sua continuidade como líder incontestável pode levar consigo o resto do grupo a médio prazo. Aliás, tal como aconteceu ao seu arqui-inimigo Joninhas. E o que resta do velho maquiard? Uma UNITA a tentar sobreviver e crescer.


A história repete-se. É a grande lição que a vida nos dá. O MPLA terá necessariamente que aprofundar o debate interno  em torno da continuidade de JES ou ousar em manter uma postura ortodoxa e clássica ao grande estilo de um velho partido comunista. Qualquer uma das opções não vai inviabilizar a vitória eleitoral de 2012, é certo, porém, pode haver algumas surpresas.


E porquê? Porque, Isaías Samakuva, conseguiu com o XI Congresso estabelecer fortes alianças e juntou pela primeira vez, todos os savimbistas para a batalha final: o assalto a Luanda. Não se assustem, sem armas, porque o plano C só sairá à rua mediante os resultados apurados em 2012, tendo o General Numa como líder do amplo movimento de apoio pela defesa da paz e democracia.


Analisando a actual estrutura directiva, as revisões e as emendas feitas aos regulamentos gerais da UNITA, Samakuva pôde designar o mais novo Abel Chivukuvuku para digladiar contra o desgastado líder do MPLA, aliás, é o bilo que os angolanos gostariam de ver, até porque são dois “pretos” bonitos, falam bem, conhecem bem o sentido de “bom urbano” e são ambos gentleman por natureza. Sem falar da influência do voto do “género” por estes dois políticos. Existe um special wish quer por um como por outro.


Por outro lado, estas alianças na UNITA e reestruturação, só fazem sentido, se estiverem unidos por uma causa comum, em disputa contra um adversário comum e forte como é o MPLA/JES. Senão vejamos:


1. Isaías Samakuva juntou como Conselheiros Políticos todos os ex-Secretários Gerais, excepto o Abel. Manuvakola que está em disputa litigiosa com a direcção de Samakuva devido aos bens imóveis que se apropriou enquanto boss da renovada em nome da UNITA. Gato, acusado de ter ficado com uns diamantes e dinheiros que o MPLA/Governo deu por ocasião da unificação das várias UNITAS e com os quais criou a sua frota de camiões e fazenda dedicando-se a apicultura para exportação. Chivukuvuku, mal amado desde a proclamada ideia de uma terceira via em alternativa a UNITA de Savimbi, para uns, o bailundo mais urbano vindo das matas. E Camalata Numa, o general que ouvia relato de futebol do seu Sporting enquanto o chefe era acossado, é o que mais acredita no plano C para a correcção da história da UNITA e subversão do Estado ou refundação do Estado.


2. Por outro lado, Samakuva que continua a exercer a política como profissão, a sua tese não deixa de ser savimbista porquanto “estão ir o mais rápido quanto possível mas tão devagar quanto a aconselha prudência” ou seja, criou um grupo designado de governo sombra que serão os operacionais durante a campanha. Abel será o rosto de campanha, porque Zé Pedro é fraco e não tem capacidade mobilizadora em Luanda. Resta-lhe coordenar a máquina burocrática do processo eleitoral.


Os restantes membros do shadow of empowerment, serão os verdadeiros actores da campanha. Pela primeira vez, a UNITA poderá fazer um ataque com cinco blocos em todas as frentes e praças eleitorais (Abel como cabeça de Lista, cada membro do governo sombra vai incidir sobre uma matéria especifica numa praça definida, os ex-secretários gerais vão batucar para os eleitores internos e para a família UNITA, o Samakuva vai reforçar o discurso de mudança na unidade nacional e os secretários provinciais irão cacarejar no interior da Angola profunda), esta estratégia tem todos os ingredientes para complicar a vida a JES ou ao MPLA.


a) Seguramente que os níveis de abstenção vão subir em Luanda e nas principais capitais provinciais caso JES participe como líder e cabeça de lista do MPLA. A UNITA vai jogar com este factor e, com estas alianças, com Abel a frente como candidato, estou segura, que irão unir todos os votos possíveis, assegurar os eleitores tradicionais e angariar novos eleitores, sobretudo, no maior círculo eleitoral do País – Luanda. Jogada de mestre da Jamba sem condicionar a continuidade, legitimidade e responsabilidade directa à Samakuva, que será seguramente o único vencedor do escrutínio de 2012, garantido um consulado tranquilo no pós eleições, independentemente do resultado.


b) Finalmente e pela primeira vez a UNITA está a fazer alta politica e vai sair de um processo eleitoral mais forte sem perder o plano de fundo que é o agendamento económico-financeiro criando o tal Conselho de Administração presidido por Adalberto da Costa Júnior. A UNITA só chegará ao poder central em Angola conquistando o poder local. Assim, a verdadeira agenda da UNITA só pode ser económica para se prepararem para as eleições autárquicas - o primeiro grande passo para conquistarem os angolanos mostrando trabalho com competência e diferença. Porque os angolanos só conhecem a UNITA macabra.


c) Se eventualmente a UNITA for às eleições de 2012 com Isaías Samakuva como cabeça de lista, ainda que o MPLA aposte em Eduardo dos Santos, a UNITA vai ter a sua maior derrota de sempre porque a estrutura executiva que tem não garante confiança aos angolanos e nem têm qualidade política para mudarem para melhor os resultados de 2008. A aliança desmoronar-se-ia, as clivagens de fundo que subsistem mas ocultadas apareceriam e uma nova crise emergiria com consequências irreparáveis.


Aliás Penso que a UNITA conseguiu juntar a família, embora sem debater a fundo as clivagens reais e urgentes, que a seu tempo acreditamos, serão esbatidas, em nome da sobrevivência da própria estrutura que no final é mais importante que os atritos inatos aos homens. O Presidente Eduardo dos Santos pode acabar como Moubarak.

O plano C da UNITA pode criar condições propícias para a queda de Eduardo dos Santos. Tudo depende da coesão desta aliança da UNITA, dos resultados eleitorais, da actuação do presidium angolano e da capacidade de liderança de Eduardo dos Santos.

O Povo não está preparado para uma guerra mas está decidido a sair à rua numa manifestação ilimitada contra a corrupção. É um sinal sério que o MPLA tem de analisar no Kremlin, para não ter surpresas. A UNITA sabe fingir que desmaiou melhor que nenhum outro angolano e ainda tem força interna, desmilitarizada mas tem.