Luanda -  A realidade sóciopolítica do mundo hoje é completamente diferente do quadro referencial que tínhamos no século passado, onde as ex potências colonizadoras continuavam a ditar exclusivamente as regras do jogo na sua relação com os outros povos.


Fonte: http://funjadadesabado.blogspot.com/


Em alguns espaços, esta realidade, é bom dizermos, não se alterou grandemente. Porém, o mesmo não se passa ao nível da lusofonia, particularmente na relação entre Angola e Portugal ou mesmo entre o Brasil e Portugal. É uma realidade complexa, estranha onde cada Estado procura defender os seus interesses, mas onde há claramente uma inversão do padrão, sobretudo se prestarmos atenção a forma como se genaraliza, em alguns círculos portugueses, a ideia de que Angola pode ser a tábua de salvação para muitos cidadãos lusos no desemprego e empresas em dificuldade. Até nos pretendem impor hoje um conceito que noutra altura não era tido nem achado, Nação lusófona. Hoje já? – perguntaremos no nosso linguajar angolanês.

 

Para lá de outras reflexões, foi funny assistirmos o programa conjunto TPA / RTP intitulado Reencontro. Fica, no entanto no ar a questão: Que Reencontro?

 

Outro dos pontos dos quais gostaria de rapidamente de me debruçar, nesta época em que mais uma vez assistimos a correria louca dos jovens por um lugar numa das universidades prende-se com a ausência, dificuldade e muita falta de informação entre os candidatos às vagas disponíveis nas universidades.

 

Esta semana, recebi dois telefonemas de jovens amigos que buscavam por um conselho para saber em que instituição deveriam se inscrever para frequentar um curso superior e, o que achei mais preocupante, indecisos sobre a melhor opção para um curso superior.

 

Para além da queda natural que as pessoas devam ter por determinadas áreas, há um aspecto fundamental, quanto a mim, que deve ser tida em consideração, e com muita objectividade, na hora dos jovens escolherem o curso que pretendem frequentar: é o mercado de trabalho.

 

Talvez esteja errado, mas parece-me que há áreas em que nós somos bastante deficitários. As áreas técnicas ou engenharias. A medicina. E não tanto o Direito, Gestão, Pedagogia e Economia. Não que deixem de ser precisas, mas claramente o desenvolvimento da industria, da agricultura far-se-á com os técnicos e não com a doutoromania.

 

Neste sentido, é pertinente e preocupante o verso da moeda, ou seja, a realidade das nossas universidades, sejam elas, indiscriminadamente, públicas ou privadas. Há uma desatenção clara em relação ao mercado de trabalho. Os cursos que são ministrados não respondem as necessidades imediatas do país neste sentido. Há cursos, devemos assumir, que deveriam ser tidos como prioritários.

 

Recentemente, em conversa com um amigo da Odebrecht Angola, a propósito dos quadros que são formados em Engenharia Civil e Arquitectura, por exemplo, dizia-me que, se quisermos ser rigorosos, a quantidade de quadros satisfaz apenas as necessidades de uma ou duas empresas do sector, mas estes quadros, na maioria dos casos também são disputados por outras industrias como a petrolífera, que geralmente os absorve facilmente devido as melhores condições que oferece. O que é mais interessante é que há uma margem grande nos próximos anos para os jovens que se formarem nestas áreas.

 

E como não há quantidade, muitas vezes também não há qualidade e as empresas, lamentavelmente, continuam a ser “obrigadas” a socorrer-se dos expatriados, com todas as consequências negativas para o país. São necessários e fazem falta, mas devemos olhar primeiro para a nossa gente e vemos que há muita gente carente de emprego, mas o grosso destes nossos jovens padecem de formação, mínima que seja, mas com excelência.

 

Devemos ter presente, nesta relação com a mão de obra estrangeira, que temos um volume de jovens formados localmente e no exterior que precisa de empregos e estes devem ser os privilegiados. Seja nas empresas como no sector público, impondo-se uma racionalidade até mesmo nas consultorias que, na maioria dos casos, não transferem know how ou expertise para quadros nacionais.


Precisamos acabar com este “circulo inextrivabilis”, sob pena de condicionarmos o nosso próprio desenvolvimento. A formação deve estar atenta as necessidades reais do País.


ADEBAYO VUNGE