Luanda -  A abordagem relativa a cidade, tem haver  com o facto das suas  marcas identitárias poderem ser  constituídas pelos sinais da sua  própria existência como tal, a  questão da memória  hoje é abordada por vários autores pelo facto de haver, uma união da forma dialéctica do passado, do presente e do futuro, que tem estado a  servir de estabelecimento, nas diversas formas de vida, sem que haja rupturas brutais, respeitando um presente que se encontra na fundamentação do passado. Esta ideia é, e deveria servir de referência na reflexão sobre o modo desenfreado como que “despatrioticamente” vão de forma voraz  descaracterizando à nossa cidade, com construções monumentais e egoístas, em muitos casos,  ignorando (des)propositadamente as normas da sã  e harmoniosa convivência entre os seus habitantes na maioria dos espaços  livres e arrojados de determinados  bairros de Luanda, que pelo seu  valor simbólico devíamos preservar, nem deixar para atrás  aquela máxima de que “primeiro os homens constroem as casas, depois as casas constroem os homens” dai a responsabilidade que pretende  acrescidas dos arquitectos e dos urbanistas, sobretudo no toca ao aconselhamento dos seus clientes sobre as violentas e imediatas construções das nossas cidades.


Fonte: Club-k.net


Um outro aspecto quanto a nós importante, tem que ver com o facto de não se abordar com a profundidade que se era de esperar dos  fenómenos psicológicos e sociais evidenciados em muitos espaços construídos, deviam servir de objecto de estudos, sobretudo da relação de nitre-relação causal ou significante entre o espaço e aqueles que nele habitam, trabalham ou que por lá transitam.

 

Como exemplo no estudo de Léon Festinger de (1950), se procurou  mostrar, à influência da disposição espacial na formação da relação inter pessoal dos moradores de um conjunto residencial (Fesringer e Back1950). É hoje tida como uma tradição da psicologia social, analisar o que viria ser  das relações comunitárias à luz do quadro do espaço no qual estão inscritas, as tradições por si tributárias da psicologia ambiental, porque ela própria estuda as relações entre o homem e o seu meio, como ficou  evidenciado pelos  estudos de Irwin Altman e David Stokols na colectânea de livros da Handbook of  environment Psychology (1987).

 

Na conferência sobre a psicologia ambiental e arquitectura (1992), abordou-se com alguma animosidade, as ralações entre a memória, significativa  e a identidade dos lugares e dos ambientes, esta abordagem surgiu  a propósito de uma reflexão sobre as metamorfoses sociais e ambientais (IAPS 19929). Para tanto, foi necessário que se compreendesse que a significação do espaço é marcada pela cultura e pela história, e que as significações subjectivas que são emprestadas pelos seus ocupantes têm haver com a biografia e a história do seu grupo.

 

A maior parte dos grupos não somente aqueles que resultam da justaposição permanente dos seus membros dentro dos limites de uma cidade, de uma casa ou de um apartamento, além de muitos outros que se desenham, o que de algum modo seria a forma sobre o solo e o reencontro da sua lembrança colectiva no quadro espacial assim definido. Os objectos com  os quais estamos diariamente em contacto, nos dão uma imagem de permanência e de estabilidade, é como se a sociedade fosse silenciosa, imóvel, estranha à nossa agitação e às nossas mudanças de humor,  nos transmitisse um sentimento de ordem e de acomodação “ ou ainda” o grupo urbano aparecesse  como um corpo social que dentro das suas divisões e estruturas, reproduz  a configuração material da cidade na qual ele está inserido.

 

A memória colectiva deve se apoia dentro das imagens espaciais e não existe memória colectiva que não se desenvolve num espaço. Séria oportuno observar que Halbwachs, havia  visitado os mestres da Escola de Chicago,  que por sua vez influenciaram os seus estudos sobre a morfologia social, e foi o George Simmel e da escola de Frank Furte a quem devemos hoje o estabelecimento da estreita relação existente entre a cidade e os modos de pensar, o que confere uma total importância ao estudo da cidade ou do urbano como espaço construído.

 

Lembrem-nos que,  para Simmel, a cidade é por excelência, o cenário da modernidade em virtude dos processos que se desenvolvem no seu seio, são elaboradas as diferenças, desenvolvendo a independência individual ou o enfraquecimento dos laços comunitários, por  via das relações de trocas e das conexões com outros grupos. Por outro lado, constata-se também uma aceleração do ritmo de vida, numa intensificação das estimulações nervosas e sensoriais, num desfile rápido de imagens digamos que “ mutantes” que contribuem para a criação de uma mentalidade citadina característica, marcada pelo desenraizamento, pelo cepticismo e pelo intelectualismo.

 

Simmel observa, também que a cidade cuja extensão funcional ultrapassa as fronteiras físicas “ asfalticas” estende-se, como faz o individuo na sua actividade para um território incessantemente mais amplo, nacional e internacional. O próprio espírito que presidiu a linha de pensamento da  Escola de Chicago, considera a “cidade como um meio físico característico de um modelo de vida”.

 

 De um forma geral, a ligação entre o meio e o modo de vida, podem ser abordadas a partir do estudo da estrutura material, que é formada com base numa população, num
Conjunto de técnicas e duma ordem digamos que ecológica, como a organização social que possui uma estrutura espacial características das instituições e um modelo nítido de relação social, e como conjunto de atitudes, de ideias e considerações de pessoas implicadas nas formas de comportamentos colectivos sujeitas a mecanismos característicos de controle social, como foi adiantado pelo Wirth (1984)

 

O interesse em estudar a cidade é oriundo das analises que também dizem respeito à pós-modernidade ou à supra modernidade, do livro “ Pour une anthropologie des modeles contemporaines”, o antropólogo Μarc Augé, faz uma analogia da cidade com os seus fenómenos religiosos. Onde a contemporaneidade é definida pela extensão do seu tecido urbano, pela multiplicação dos transportes e das comunicações, pela uniformização das referências culturais e pela globalização da informação e da imagem.

 

A supra modernidade, e a aceleração da história, do denominado encerramento do espaço, este duplo processo, modifica quanto a nós as relações que nós próprios vamos mantendo com o nosso meio físico e com o nosso meio social.

 

Assim, a cidade deve favorecer, o individualismo e a abstracção colectiva, sem dificultar à criação dos laços sociais e o estabelecimento das relações simbólicas com os outros e com a sua actual forma, um lugar onde permite os seus habitantes se reconciliarem e se definirem por meio, e pelo seu carácter relacional, permitindo a leitura das  relações que os mesmos mantêm entre si, tendo em atenção o carácter histórico, que possibilita aos seus habitantes se reencontrarem os vestígios e as antigas implicações e os seus sinais.

 

Nos estudos urbanos deve-se ter sempre em consideração os jogos identitários que se inscrevem em territórios por via da pluralidade das formas, de experiências e de praticas sociais, essa metáfora poderia ser designada pela ideia do  folhear,  isto é de implicação das camadas distintas, o que permitiria uma representação mais complexa e descontinua das identidades e das práticas que obedecendo  às lógicas plurais que orientam as relações diferenciadas com os grupos e com os cidadãos, com os espaços de vida e com as formas de apropriação especificas.

 

 Uma tal visão pluralista pode ter como consequência, a exigência da inter- disciplinariedade, pondo em perspectiva a correlação dos saberes diversos, numa apreensão sintética e global, unindo a reflexão dos construtores, dos panificadores e das ciências humanas e sociais.

 

É caso para  perguntar: como resgatar a  memória das  nossas cidades, dividindo o espaço com as consciências imediatas  do novo requismo angolano e as praticas dos seus habitantes?


Cláudio Ramos Fortuna
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Urbanista