Algures num Bairro do Município da Maianga em Luanda onde se encontra a Assembléia de Voto Nr. 04/03/191 e olhando para o relógio que assinalava 9:45 horas, ouço um murmúrio dizendo: “Se não abrirem os votos (de certeza querendo dizer a Assembléia de votos”, então vou-me embora porque tenho mais que fazer e ademais já se sabe quem vai vencer”.  

Um cenário que, conforme tive o triste privilégio de constatar, marcou todo o processo em Luanda que se creia ser credível e isento de tentativas fraudulentas, atrasos consideráveis na abertura das Assembléias de voto, desorganização total. Indagado por mim sobre porque que acha que o resultado já estivera consumado, o meu interlocutor retorquiu: “Quem organiza ganha e aqui é banda pai, não vai ser outra coisa”.

Por volta das 10:05 finalmente o momento tão esperado para aqueles que começaram a chegar aos locais por volta das 4:00 horas da manhã, e começa o entusiasmo e posterior reboliço, que depois viria a acalmar-se devido a rigidez dos chamados policias eleitorais.

Numa das mesas da Assembléia atrás referida, constato o inédito: alguém que acabava de chegar ao local exibe o seu cartão de eleitor que nem sequer foi confrontado com as listas, pois estas até as 14:45 não haviam sido disponibilizadas e os policias fiscais nem sequer de deram ao trabalho leve de comparar a fotografia no cartão com a face do portador. Recebe de imediato o boletim e exerce o seu “direito”. De seguida recebe o seu cartão de voto sem qualquer sinal de que já tenha votado ou pelo menos cortá-lo no canto superior direito como acontece noutros paises. Para completar a desorganização bem organizada e premeditada acrescida a incompetência deliberada ou não dos membros da mesa em causa, o eleitor abandona o local do voto sem que tivesse recebido a tradicional tinta no seu indicador direito, estando assim habilitado para voltar a votar quando e onde lhe desse na gana. Espantado pelo sucedido decidi com todo o cuidado indagar o jovem chamando-lhe atenção o facto de não ver seu dedo marcado com tinta, ele relaxadamente retorquiu: “Agora vou votar mais uma vez para empurrar o meu partido á victória”. Tenho a certeza quase que absoluta que ao fazê-lo nada o impediria, pois ele não ostentava qualquer sinal de já gozado do seu direito. Insólito mas é a amarga realidade por mim vivida.

Por volta das 12:23, já algumas mesas acusavam falta de boletins e ás 14:45 apenas uma das cerca de 10 mesas tinham alguns boletins de voto.

Querendo testar pessoalmente a capacidade das Assembléia em causa, decidi exercer o meu direito acabando por ter a mesma sorte que o meu compatriota anterior e não só. Conclusão: muitos dos ocupantes das mesas estavam sob o efeito do álcool. Em todo caso, seja quais forem as razões que desembocam nesta grave omissão, é subjetivo, pois estamos a falar de Eleições Legislativas e não para eleger o delegado de turma.

Perante este cenário de desconfiança estou pois,  ansioso, em ver como serão transportadas as urnas para o Centro de Processamento de dados em Talatona, Luanda Sul.

Conseqüência de consideráveis e maciços atrasos em vários bairros e localidades de Luanda tais como Cacuaco, Cimangola, Viana, Kilamba Kiaxi onde ja morreram 5 pessoas e outras tantas “esmagadas” pela massa populacional.
Finalmente nota negativa a falta de policiamento nos arredores das Assembleias de voto, onde muitas das urnas encontravam-se practicamente ao relento, visto nao estar sob qualquer controlo presencial.

Fonte: Club-k.net