Londres - Este artigo tem como objectivo, meramente aprofundar a discussão e testar a veracidade ou não, das recentes declarações do Presidente norte-americano Donald Trump sobre o caso globalmente conhecido como "Shithole countries".

Fonte: Club-k.net

Breve retrospectiva:

Na passada quinta feira, 12 de Janeiro, o Presidente norte-americano Donald Trump foi acusado de ter se referido aos países africanos juntamente com o El Salvador na América Central e o Haíti nas Antilhas como sendo "shitehole countries" ( em português como Países de "merda".)

As declarações do presidente americano, segundo a imprensa internacional foram proferidas durante um encontro que manteve na casa Branca, com dois Senadores (um Democrata e outro Republicano) para abordarem sobre uma possível reforma das leis migratórias do país, em particular sobre as proteções legais concedidas a milhares de cidadãos haitianos e Salvadorenhos que residem temporariamente nos Estados unidos desde 2010, após o terremoto que matou mais de cem mil pessoas naquele país antilhano e El Salvador em 2009, respectivamente.

Foi durante esta reunião que o presidente americano, segundo a imprensa, indignigado, teria questionado: " porque é que estamos a deixar entrar estas pessoas que vem de "shitholes"?

Como era de esperar, as declarações de Donald Trump geraram uma onda de críticas e repúdio a nível internacional, particularmente nos países visados.

A África do Sul e Botswana por exemplo, enviaram notas de protestos às embaixadas dos Estados Unidos sediadas naqueles países.


Mas nas redes sociais, muitos africanos residentes na diáspora concordaram plenamente com as afirmações de Donald Trump sobre os seus países.

É importante não perder de vista, que durante a mesma reunião, Donald Trump teria sugerido aos Senadores americanos de que em vez de se preocuparem com a atribuição de residência tempóraria aos imigrantes oriundos daqueles países, os Estados unidos deveriam acolher os imigrantes de países como a Noruega.


Nesta afirmação reside essencialmente o cerne da questão; o presidente americano, supostamente o líder do mundo livre e defensor dos direitos humanos a dizer claramente que América está aberta para acolher imigrantes brancos e não para os negros africanos e de outras regiões do globo que não sejam brancos.

Esta afirmação do presidente americano por si só não deveria constituir surpresa e nem escândalo de proporções globais; afinal de contas, Donald Trump nunca escondeu a sua simpatia pelos grupos de extrema direita nos próprios Estados Unidos e várias vezes foi acusado directamente de ser racista.


Claro, como homem negro e africano que sou, confesso que estas declarações, cujo propósito apenas foi denegrir todos os países africanos e seus respectivos povos atingiram profundamente a todos nós.


Por causa da sensibilidade humana, é sempre difícil aceitar a verdade nua e crua e neste caso particular, vindo ainda mais de um homem branco, nada mais e nada menos que o todo poderoso Presidente dos Estados Unidos da América. Repito, que nunca escondeu a sua simpatia pelos grupos de extrema direita e até mesmo idolatrado pelos Neo-nazis.


Mas convido a todos aqueles africanos e políticos de boa fé de outras latitudes, que professam amar a África incondicionalmente, a reflectir profundamente e sem o véu de orgulho e sentimento de vitimização sobre o estado actual do nosso continente.


Se amam de facto a África, os seus povos e culturas, desta vez teremos que admitir que Trump está coberto de razão ao se referir a estes países como o fez.

Por mais indignados e ofendidos que estejamos, a verdade é que com excepção de pouquíssimos países africanos como a África do Sul, Namíbia, Botswana, Cabo Verde, Marrocos, Tunísia e Algéria etc; a maioria dos países africanos, uns mais que outros, não merecem outra designação que não seja esta de "shitehole" countries.

Entre outros factores vejamos o seguinte:

Os recentes eventos sobre a venda de escravos africanos, maltratos, humilhação e abusos sexuais contra as imigrantes africanas na Líbia, exactamente dentro do nosso próprio continente, mas que ainda assim careceram de uma resposta vigorosa e ação musculada para punir os perpetradores, sinceramente não são mais que provas eloquentes de como o resto do mundo trata os países africanos como sendo países de merda?


A onda de emigrantes africanos, na sua maioria jovens, e até mulheres grávidas e crianças que atravessam diáriamente o deserto do Sahara para se afogar no mar mediterrâneo, sem honra, nem glória em busca do el dourado na Europa são consequências de que?


Porque é que homens e mulheres africanas preferem limpar o chão e as casas de banhos dos grandes hoteis e aeroportos em Paris, Londres, Amsterdão, Frankfurt, Madrid ou Lisboa senão para escaparem da “merda” dos seus países, como Trump correctamente chamou ?


Como chamaríamos Angola, um país considerado o segundo maior produtor de petróleo do continente e o quinto maior produtor de diamantes do mundo, mas grande parte da população vive em condições de pobreza relativa e os seus governantes extremamente ricos?

Partindo deste presuposto, não é certo, segundo o novo léxico do dicionário de Trump, considerar Angola como um dos maiores expoentes de um país promissor, mas cujos governantes transformaram num dos chamados "shithole countries"?


Um país onde as taxas de vida e mortalidade infantil são dos piores do mundo;

um país onde os hospitais públicos os pacientes deitam-se no chão e tem que comprar os medicamentos nas ruas; um país onde apesar da abundância de rios de longo caudal, a água canalizada e energía eléctrica não chegam para a maioria dos seus habitantes; um país onde muitas universidades e escolas secundárias não possuém material didático e laboratórios condignos; um país onde a classe dirigente e militar controla as riquezas do país; um país onde o estrangeiro é mais respeitado e temido e o cidadão nacional é menosprezado; um país onde os anciãos continuam a governar o país desde a independência, enquanto os jovens são obrigados a concorrer aos concursos públicos;

Um país, onde supostamente de um vendedor de rua se transforma em milionário e detentor de jatos privados; um país onde um menino pode comprar um relógio de quinhentos mil euros, enquanto seus compatriots morrem nos hospitais por falta de medicamentos para febre amarela e malária;


Um país onde a incompetência e bajulação constituem certificados de méritos para emprego, enquanto que a competência e a honestidade não são reconhecidos;

Diante destes factos e muitos outros que não seria possível enumerar, eu não tenho como discordar das palavras do presidente americano.


Portanto, mesmo Trump sendo manifestamente racista, anti imigrante e polémico, neste particular caso, os africanos que clamam pela sede e fome de justiça, progresso e desenvolvimento do nosso continente, devem agradecer a sua honestidade e coragem ao dizer claramente para os líderes africanos : A vossa governação é uma porcaria, por isso os vossos países continuam como países de merda!

*Licenciado em Economia Global London Metropolitan University