Luanda - Com elevado sentido patriótico e dignidade da nossa cultura bantu e com os supremos valores cristãos hauridos do Evangelho de Jesus Cristo, saúdo os ilustres deputados à assembleia nacional pelo círculo provincial do Cunene: Madalena Ndafoluma Hanosike, Maria Salomé Taveya, Gabriel Hilifavali, Ovídio Pahula e Sérgio Leonardo Vaz que, pela CR de Angola, sois nossos dignos representes na casa do povo, donde dimanam as leis em prol do desenvolvimento e do bem-estar do povo angolano.

Fonte: Club-k.net

Para precisar, em resumo, o mondus operandi e vivendi, Ovawambo (Angola-Namíbia) têm uma educação cultural ao estilo “espartano”. Nas suas casas (Eumbo), cada coisa tem o seu lugar. A menina, o menino, a mãe e o pai sabem de antemão qual é o seu lugar e a sua função no desempenho das suas tarefas caseiras. Em casa (Eumbo) há um lugar para a mãe com as meninas (Epata) e há um lugar para o pai com os meninos (Olupale). Há um quarto (onduda) para os pais, há quartos para as meninas (elas mais protegidas) e há quartos para os rapazes, os primeiros vigilantes da casa. Há quarto específico para as visitas. Há um lugar para os animais: galinhas, porcos, cabritos, bois e cães, etc., não há cá misturas. Decorrente dessa educação cultural bem destrinçada, aprimorada e sustentada pela Religião Cristã, Ovawambo gerem a sua vida socio- económico-político-administrativa e os seus valores ético-morais (antropológico- teológicos) de forma minuciosa e vincada, onde a honra, a dignidade, o respeito, o sentido de justiça, e a sua aplicabilidade na vida comunitária, servem de bandeira para a sadia convivência social. Os nossos ilustres deputados do Cunene conhecem perfeitamente essa realidade, não só porque foram assim educados, mas também, como pais, assim educam os seus filhos.

 

Assim, escrevo-vos estas pequenas linhas de letras soltas mas carregadas de sentimento de tristeza e de vergonha, sentimento esse fruto da aprovação da lei do repatriamento de capitais domiciliados no exterior de Angola. É verdade que os debates no “vosso” parlamento (que gostaríamos que fosse dos representantes do povo) não são transmitidos para aferirmos qual é o desempenho de cada deputado, e por isso, não sei qual foi a vossa contribuição para o debate sobre a mesma lei. Contudo, tenho algo a dizer-vos, senhor deputados pelo círculo provincial do Cunene.

 

Em primeiro lugar, pode haver a sensação de que estou a ser injusto convosco pelo simples facto de que fostes eleitos numa lista do MPLA e não fostes eleitos nominalmente pelo povo do Cunene. Nesse sentido, depreende-se que estais em Luanda não em representação do povo do Cunene, mas em nome dos interesses do MPLA elitista de Luanda.

 

Em segundo lugar, não vou ser muito extensivo aos deputados pelo círculo de outras províncias nem do círculo nacional, pelo simples facto de que, infelizmente, não conheço aprofundadamente as suas idiossincrasias e o mondus operandi e vivendi, as realidades socio-económico-político-administrativas, os seus valores ético-morais (antropológico-teológicos) e a educação cultural, genuinamente africanos, dos grupos etnolinguísticos presentes nessas províncias donde são originários.

 

Todavia, na educação cultural da nação Ovambolândia aprendemos que o ladrão deve restituir ao legítimo dono todo o bem que roubou e ainda pode ser responsabilizado criminalmente, até as crianças entre Ovawambo sabem disso.

 

Na religião cristã aprendemos que o gatuno deve restituir ao seu legítimo dono os bens a ele roubados. Alias a palavra Reconciliação, que muitíssimo mal e falsamente se propagandeia e se papagueia por essa Angola dentro, é um termo com uma carga semântica de âmbito religioso que o poder político abocanhou. A reconciliação é um processo gradual no qual o reconciliante (pessoa que fez o mal) deve reconhecer as suas más ações (o seu pecado ou falta), pedir perdão e ser perdoado e ter o propósito de nunca mais tornar a fazer o mal. No caso de roubo do bem alheio, isto é, do mal feito, deve devolver ao dono os bens roubados e ressarcir os danos causados pelo roubo. Infelizmente, muitos angolanos não entendem assim a reconciliação quando vêm para defender a lei do MPLA de repatriamento de capitais.

 

Nesse sentido, (para ser justo excluindo o deputado Ovídio Pahula que é Mukhumbi porque não domino bem a sua cultura) dirijo-me a vós ilustres deputados Madalena Ndafoluma Hanosike, Maria Salomé Taveya, Gabriel Hilifavali e Sérgio Leonardo Vaz filhos da vasta nação Ovambolândia reavivando em vós os valores da educação cultural de Ovawambo que recebestes no berço e no convívio de Olupale (ounona vatekulwa nawa) e da religião cristã que professais. À imagem, acredito eu, de outros grupos etnolinguísticos espalhados por esta Angola dentro, senhores deputados, pelo círculo provincial do Cunene, penso eu que aprendestes, apreendestes, compreendestes e tendes em vós os valores antropológicos e cristãos de justiça social, e da sua aplicação, da administração dos bens coletivos, do respeito pelos bens alheios e da dignidade dos bens frutos do trabalho próprio.

 

Dito isto, senhores deputados do Cunene como fostes capazes de levantar o vosso braço para aprovar uma lei (do MPLA) de repatriamento de capitais que diz que os governantes, gestores e administrativos ladrões, bandidos, gatunos, incompetentes, e por isso, sem moral nem ética, sem amor ao próximo, nem à pátria, que roubaram o dinheiro do Estado (de todo o povo angolano) para as suas contas no estrangeiro, causando miséria e atraso civilizacional para o povo angolano, devem repatriar estes dinheiros com perdão pelos crimes de roubo que cometeram e depois ficam com todo dinheirinho roubado?

 

É isso que aprendestes pela educação cultural de Ovawambo e pela ética e moral cristã? Esse parlamento é amoral e sem ética e por isso se apossou da vossa dignidade de filhos Ovawambo deixando-vos nus, sem vergonha e sem respeito pela vossa cultura? Ao entrar-se no parlamento tem que se despir de todos os valores que aprendestes no berço da vossa cultura e religião? E como haveis de dizer e de educar os vossos netos mediante essa lei no caso de um comportamento desviante da parte deles?

Infelizmente esse parlamento demonstra que não representa o povo Ovawambo. Fostes para Luanda para serdes prostitutas (Omalambwa mbongo) do MPLA elitista de Luanda e para aprovardes leis que protegem os seus interesses e que não são os interesses do povo sofredor do Cunene? Melhor é que não volteis mais para o Cunene porque estais nus e sem dignidade. E conseguis dormir sossegados traindo a vossa consciência e os vossos valores de justiça ovambo e religião cristã? Senhores deputados do Cunene, se por exemplo, enquanto estais aí em Luanda, algum larápio “desviar” para Namíbia alguns dos vossos carros, o vosso salário de deputados, dos vossos bois, dos vossos cabritos, do vosso massango, que estão cá no Cunene, e pegando nessa lei que aprovastes, aceitais que o ladrão repatrie esses bens e fiquem todinhos para ele? E se pedir aos gestores do banco público BPC transferirem os salários dos deputados do MPLA para minha conta na Namíbia, aceitariam que essa lei fosse aplicada ao seu dinheiro que desviei? É assim que aprendestes na cultura de Ovawambo e na religião cristã?

 

Fazendo uma reflexão mais geral desta lei que os deputados acabam de aprovar, demonstra-se, Infelizmente, como o ADN, o GENOMA dos angolanos autóctones, foi alterado e degenerado, primeiro pelo colonialismo, segundo pelo comunismo marxista sem Deus e terceiro pela guerra civil. Porque uma sociedade com um partido dominante, o MPLA, que décadas à fio, negou Deus para o seu povo, intoxicando e castrando a mente dos angolanos com doutrinas perversas, ateístas e satânicas, não se pode esperar muito dela. Quem nega Deus e nega a individualidade e a singularidade da pessoa humana, como o faz o comunismo marxista do MPLA, travestindo-a numa coletividade sem identidade própria, numa massa inerte, também nega a dignidade ao seu povo porque o ser humano é essencialmente um individuo social e religioso. Por isso, tornamo-nos numa sociedade sem valores nem dignidade humana, sem consciência do verdadeiro Deus (veja-se o caso da proliferação das seitas, empresas de lucro milagreiro, onde as pessoas olham para os pastores como se fossem seus deuses todo poderoso), sociedade onde os princípios básicos de respeitabilidade e as noções elementares de justiça e de lei são prostituídos. Não é possível numa sociedade saudável, democrática e plural, que almeja o desenvolvimento a todos os níveis, fazer-se de contas a tudo e mentir-se descaradamente como se verifica em Angola. Só um governo não sério e de faz de contas faz uma lei sem saber quem foram os gatunos do erário público e, pior de tudo, sem saber quanto dinheiro existe lá fora! Tamanha e santa ignorância e incompetência. E se não existir dinheiro lá fora? É apenas um exercício para criar expectativas e esperanças no povo e nunca satisfazer esse anseio como sempre promete sem cumprir? Para que serviu fazer uma lei antes de se fazer um escrutínio, um inquérito e uma “autopsia” aos OGEs e às contas dos ministérios, dos governos provinciais e da empresas públicas desde 2002 até 2017? Será que os bancos e os engenheiros informáticos angolanos são tão fracos e incompetentes que não conseguem detetar, no sistema, os movimentos (transferências e levantamentos) milionários?

 

Precisamos de fazer uma séria reflexão a partir dos nossos grupos etnolinguísticos e desenvolvermos mecanismos para alterarmos o quadro presente enquanto é tempo. A mentira, a falsidade e a irresponsabilidade tomaram conta de nós, aliás diz o MPLA, “o mais importante é resolver os problemas do povo”, em vez de ensinar o povo a resolver os seus problemas com ajuda do governo. Dá-lhe peixe em vez de ensinar a pensar e dar-lhe meios para a continuidade da pesca. Do topo à base, mentiras por todo lado.

 

O pastor mente e engana o povo, ministros mentem e roubam ao povo, os governadores mentem e sacrificam o povo, os administradores mentem e se aproveitam do povo, os jornalistas mentem e bajulam o povo, os bancos falcatruam e roubam ao povo, os juízes julgam o povo e não os ladrões de colarinho branco e o povo se mente a si mesmo com uma esperança religiosamente infundada. Os homens mentem e prostituem as mulheres, as mulheres enganam e se aproveitam dos homens, as crianças e os jovens mentem e enganam os mais velhos, os mais velhos mentem e estupram as crianças e os jovens (mangas10). Assim vai a nossa família angolana prostituída. E ainda queremos que os outros acreditem e confiem em nós e nas nossas instituições?

 

Uma família ou um país que protege e premeia pela Lei os ladrões, os bandidos, os gatunos e os incompetentes, é um país com gente sem vergonha, sem honra e sem dignidade perante si mesmo e perante o mundo, e infelizmente, sem futuro.

 

Por isso, um povo que se mobiliza mais para bajulação e para passeatas e comícios ao sol, com sede e fome, só porque é MPLA, ó MPLA “okadila aka twalokwa nako”, do que para coisas mais sérias para o seu futuro, merece continuar a ser escravizado e a ter um regime de poder baseado em províncias ou em autarquias da primeira e da segunda categoria do que equiparadas e com governos de meritocracia.

 

Uma pergunta de reflexão séria aos sociólogos, antropólogos, teólogos, filósofos, economistas, juristas, politólogos, psicólogos, pedagogos, etnólogos, historiadores, administrativos, etc., etc.: Será que em Angola há alguns grupos etnolinguísticos, mais do que os outros, com mais tendência histórico-cultural desviante para a gatunagem, para a hipocrisia, para a mentira, para a bajulação, para o compadrio, para a incompetência, para a insensibilidade humana? Precisamos de conhecer a nossa verdadeira história como mosaico de povo angolano para erradicarmos as ervas da ninha e corrigirmos o nosso rumo para um futuro melhor.

Viva a Revolução de paradigmas para uma nova ANGOLA.