Luanda - Discurso de aceitação do Prémio Herói da Liberdade de Imprensa, do Instituto Internacional de Imprensa, entregue a 22 de Junho em Abuja, Nigéria.

Fonte: Maka Angola

A notícia deste prémio foi recebida por muitos dos meus e das minhas compatriotas com tal entusiasmo, que vários fizeram circular nas redes sociais a minha imagem como sendo o Pantera Negra, de Wakanda.

Este prémio não é para mim.

Trata-se de uma distinção que reflecte a esperança de muitos angolanos: a esperança de que as mudanças não decorram simplesmente de decisões políticas, mas também de uma consciência e de uma postura proactiva crescentes por parte da sociedade civil no meu país.

A pilhagem dos recursos do Estado, os abusos dos direitos humanos, a corrupção e o desprezo político pelo sofrimento do povo são os principais males da sociedade angolana, uma sociedade onde os poderosos tiram o que legitimamente pertence a todos, assim espezinhando todos.

O jornalismo de investigação a que me dedico através do Maka Angola, embora decorra num ambiente hostil, tem contribuído para alimentar a esperança de muitos angolanos comuns, que acreditam que uma força em prol do bem possa vingar na sociedade. Ser jornalista independente em Angola é lutar pelo espaço e pelo direito de trabalhar como tal. E isso faz também um activista.

É por estes angolanos esperançosos e com grande sentido de responsabilidade – mas sem as vestes do Pantera Negra – que humildemente aceito este prémio.

Aproveito a oportunidade para expressar a minha gratidão ao National Endowment for Democracy, que nos últimos seis anos me proporcionou o apoio fundamental para continuar o meu trabalho, permitindo-me manter a cabeça acima da linha de água.

De igual modo, aproveito também esta oportunidade para agradecer aos colaboradores, amigos e fontes que têm contribuído de forma inestimável para a produção de qualidade do portal Maka Angola. Muitos têm manifestado a sua solidariedade nestes últimos dias, em que mais uma vez sou julgado por expor os corruptos e a teia obscura do poder angolano.

Angola é um país onde as pessoas mais corruptas não chegam a ser julgadas, e começam a ter prazer em serem apenas acusadas de corrupção. São “arguidos” para sempre.

O meu filho adolescente quer estudar gestão de negócios. Quer ter os recursos necessários para apoiar a minha independência e, consequentemente, dar-me mais ferramentas para intensificar a luta pelas liberdades de imprensa e de expressão, a boa governança e os direitos humanos. A sua é uma abordagem holística.

Espero que, quando ele alcançar os seus objectivos, venha a fazer parte de uma nova Angola, que o país esteja pronto para receber o seu contributo para o desenvolvimento e que as liberdades de imprensa e de expressão sejam um dado adquirido.

Várias tribulações, incluindo o meu julgamento, impediram-me de estar hoje aqui convosco.

John Githongo, meu irmão queniano, que tem sido uma inspiração para mim enquanto activista anticorrupção, dá-me a honra de receber este prémio em meu nome. Como pan-africanistas, somos tanto mais fortes quanto mais nos solidarizamos.

Estou muito grato ao Instituto Internacional de Imprensa por esta flecha de esperança, celebrada por muitos angolanos como o seu próprio triunfo sobre os bandidos entrincheirados no poder.