Luanda - Na sua edição de 13 de Julho de 2018, o Jornal de Angola publicou, a crónica de Filomeno Manaças intitulada “Os “revolucionários” sem causa” em que sou colocado como a figura central de uma eminente revolução violenta em Angola.

Fonte: Club-k.net

O cronista começa por ligar-me a liderança da CASA-CE citando a proveniência desta da UNITA para formar as bases da sua TEORIA DE CONSPIRAÇÃO POLÍTICA, adianta dizendo que «…Infelizmente, para pessoas como Albano Pedro, as mudanças têm que ocorrer com violência…» e no fim oferece-me o certificado de incapacidade social, resultante de uma eventual obsessão em assumir o controlo de todos os angolanos, que me obriga a optar pelo assalto ao poder: «…No fundo Albano Pedro mostra que não está preparado para viver em democracia, que não aceita mudanças pacíficas, que são a regra e prática normal em regimes democráticos. Está claramente a defender uma ruptura constitucional. Ou seja, a ascensão ao poder não por via de eleições, conforme está consagrado na nossa lei magna, mas sim através de uma actuação irresponsável que está a chamar de “revolução social”…».


Lendo as últimas palavras do cronista, depois de um intenso e sofrível exercício de completa desvirtualização do meu texto, pode-se adivinhar a sensação de dever cumprido que insuflou o seu espírito intoxicado de ideais antidemocráticos.


Para quem leu o meu texto, publicado no meu facebook, que entrou na mira do cronista, não podia ter uma conclusão tão disparatada. A menos que tivesse uma evidente mania de “fabricar” demónios para atormentar as pessoas a sua volta. O texto tem o mérito de chamar atenção ao Presidente João Lourenço e aos dirigentes do seu partido a serem coerentes com as promessas eleitorais para que não ocorram eventos sociais motivados por um descontentamento generalizado. É uma questão de segurança de Estado, para ser mais profundo quanto ao objectivo do meu comentário.


Não é possível concluir que um texto que avalia as possibilidades de ocorrência de eventos futuros que podem ser causados pelo difícil ambiente social e económico que vivemos seja uma “CONVOCATÓRIA NACIONAL À REBELIÃO”.


O cronista não admitiu a condição “…SE nenhum sinal efectivo for dado de modo a recuperar algum vigor na economia (…)” como causa dos eventos que prevejo. Ao invés, preferiu “fabricar” a ideia terrorista de que pretendo depor o Governo por exercício de oposição irracional e violento. Eu, um simples indivíduo? Como pode uma mera previsão de ocorrência de eventos sociais, na base de uma análise de causas e efeitos, ser transfigurada num plano de acção terrorista? Quanta imaginação!!!


É evidente que o cronista transformou um aviso bem-intencionado numa questão de vida ou morte para sair do anonimato em que se encontrava remetido por força do fim compulsivo do seu mandato como funcionário dos serviços de agitação política que ensombraram o mandato de José Eduardo dos Santos. Usou do meu texto para espreitar na fechadura do tempo e experimentar a possibilidade de introduzir uma nova versão de agitação política de modo a proporcionar uma nova oportunidade a si e aos seus colegas “bajuladores de plantão”.


Esse processo transparece as confusões introduzidas para desvirtuar o meu texto. E não é demais comentá-las. Confunde deliberadamente REVOLUÇÃO SOCIAL com revolução política, longe de perceber que numa revolução social os eventos ocorrem por acção de grupos sociais não necessariamente articuladas entre si e sem orientação para o derrube do poder instituído. Trata-se de revoluções que conduzem a reformas sociais, económicas e até políticas precipitadas sem que o poder seja destituído. Aliás, apenas as revoluções políticas tem o condão da violência capaz de pôr em causa o poder. O cronista teria evitado este disparate se tivesse noções mínimas de Ciência Política, o que passaria por leituras de temas afins sem frequentar um curso como tal. Na qualidade de jornalista está obrigado a esse exercício. Querer que uma revolução social seja encabeçada ou estimulada por um individuo usando de meras opiniões é, no mínimo, uma descabida ignorância.


De tudo quanto foi dito pelo articulista poder-se-ia concluir que o seu pensamento resultou de uma deficiente capacidade lógica na construção do raciocínio e da má classificação da informação que produziu a partir do meu texto. Mas seria completamente ingénuo admitir que o cronista cometeu erros de interpretação. É uma pessoa com idoneidade na área do jornalismo e que já exerceu cargo de Director Adjunto do Jornal de Angola. Não é um individuo desavisado como parece dar a entender.


Entretanto, não consigo dissociar esse ataque a uma possível permissividade do Ministro da Comunicação Social. Aliás, o cronista identifica-se como Director Nacional de Publicidade do Ministério da Comunicação Social, embora faça uma defesa tosca com o argumento de que a sua opinião não engaja o ministério como se fosse ser lida por incautos que não entendem que bem podia identificar-se como um simples jornalista. Fê-lo com a clara consciência dos efeitos que geraria aos leitores como base da idoneidade dos seus argumentos.


Não faz tempo que João Melo, o agora Ministro da Comunicação Social, ter-me-á colado o rótulo de IDEOLÓGO DA OPOSIÇÃO no seu texto, também publicado no Jornal de Angola com o título “ Entre a “revolução” e as reformas” em que dizia que «…Lamento, mas tenho muitas dúvidas quanto ao suposto abandono da estratégia “revolucionária” por parte da UNITA e de outros partidos da oposição. A sua atitude em relação às instituições, para mim, diz tudo. Remeto os “duvidosos” para a surpreendente afirmação de um dos seus “ideólogos”, o jurista Albano Pedro…» (fim de citação).


É claro que o texto foi publicado antes de assumir a pasta ministerial. Mas o uso da palavra “revolução” e a obsessão em citar o meu nome como estando no centro dos eventos que pode ser percebido nos dois textos, embora distanciados no tempo, será uma mera coincidência, Sr. Ministro?


Coincidência ou não, o Sr. Ministro está obrigado, por dever de ofício, a tomar medidas. Não pode permitir que um alto funcionário do seu ministério, faça questão de identificar-se como tal, no exercício da sua actividade de cronista veiculando conteúdos que não representam interesses defendidos pela instituição. Isso merece, no mínimo, uma acção disciplinar se não haver coragem para uma exoneração por abuso de poder. Pois, percebe-se que essa qualidade foi determinante para constranger a Direcção do Jornal de Angola a publicar um texto que tem tudo para ser inconveniente até para a estabilidade social. Uma vez que não é um prognostico, mas uma acusação pública com efeitos evidentes na estabilidade emocional da generalidade das pessoas.


O Sr. Ministro está ainda obrigado a recomendar maior profissionalismo a direcção do Jornal de Angola no controlo dos conteúdos a serem publicados. Trata-se de um diário público que deve veicular conteúdos que representem interesses públicos e nunca comentários irresponsáveis que inspiram pânico a sociedade por meio de alertas infundadas e sem o mínimo de verossimilhança.


É certo que o seu discurso, como Ministro, tem sido bastante bem conseguido. Corresponde aos ideiais da reforma do sector e da abertura ao livre exercício da liberdade de imprensa. Mas faça com que corresponda a prática do sector que dirige, evitando demagogias.


Vai a alerta a João Lourenço, Presidente da República, para que tenha cuidado com os antigos arautos da “fiscalização política” que, no passado, transformaram a comunicação social pública em colmeia de vespas contra a opinião pública necessária a uma governação eficiente e realizadora das espectativas dos governados. O mandato do ex-Presidente da República teria sido mais produtivo para os angolanos se as boas intenções da sociedade fossem levadas em conta em cada decisão tomada ao longo do seu mandato. Mantenha o foco por uma governação eficiente e leia os avisos dos intelectuais e do povo em geral para que o seu mandato seja um sucesso para todos nós, cidadãos, apátridas e estrangeiros.


O exercício verdadeiramente intelectual é imparcial e analítico. Não favorece o elogio barato e nem o apoio incondicional de grupos ou interesses de quem quer que seja. É realista e serve de farol para a navegação política segura para qualquer líder prudente. Não se permita ver extinta ou constrangida essa classe de indivíduos de extrema importância para a previsibilidade do seu mandato.


Finalmente serve para dizer que o conteúdo veiculado pelo antigo Director Adjunto do Jornal de Angola tem todos os elementos de uma informação injuriosa, caluniosa e difamatória que bem merecem um tratamento judicial. Dixit.


Fontes:
1.Texto de Albano Pedro:
https://www.facebook.com/albano.pedro.79/posts/1893319014060797
2.Texto de João Melo: http://club-k.net/~clubknet/index.php…
3. O texto de Filomeno Manaças: http://jornaldeangola.sapo.ao/…/os_revolucionarios_sem_causa