Luanda - Dezenas de famílias vítimas do martelo demolidor junto a uma subestação eléctrica no Zango 3, no município de Viana, em Luanda, acusam a Administração Municipal de optar por “esquemas” na atribuição de residências aos sinistrados das demolições protagonizadas pela empresa OMATAPALO, que alega ser proprietário do espaço onde foram demolidas mais de trezentas residências de carácter definitivo.

Fonte: Club-K.net

As casas foram destruídas em Fevereiro deste ano, segundo os moradores, sem aviso prévio e nenhum mandado judicial. As vítimas contam que, de lá para cá, continuam a viver ao relento em condições desumanas sob o olhar silencioso do Governo Provincial de Luanda (GPL) e da Administração Municipal de Viana (AMV).

Nas últimas semanas, de acordo com eles, o administrador de Viana, Demetrio de Sepúlveda liderou um “esquema de realojamento” que resultou na escolha de algumas pessoas que receberam as chaves de residências no projecto “Luanda Limpa”, cujos critérios foram muito duvidosos. “O administrador ligou para alguns moradores da sua conveniência para receberem casas no Luanda Limpa, deixando a maioria sem abrigo”, denunciou uma das vítimas.

No local, segundo constatou o Club-K, após as demolições das residências a empresa OMATAPALO empenhou-se no trabalho de vedação do recinto com as vítimas dentro do perímetro sobre os escombros.

A jovem Jandira, disse a este portal que o seu dia a dia tem sido cansativo, pois todos os dias dormem e acordam por cima dos escombros sem nenhum sinal de esperança para a sua retirada.

Outra moradora vítima do martelo demolidor da OMATAPALO que preferiu omitir a identidade, denunciou que “o administrador de Viana, Demetrio de Sepúlveda estava a fazer chamadas clandestinas sem sabermos os critérios utilizados para a escolha de apenas algumas pessoas”.

“Aos poucos notamos que algumas famílias começaram a retirar as suas coisas, afinal receberam ligações para receberem casas no projecto Luanda Limpa”, acrescentou a senhora visivelmente cansada com o cenário que já se arrasta há mais de cinco meses.

Autores das demolições abdicaram-se das suas responsabilidades, diz construtor

António José Alemão, um dos construtores contou ao Club-K que, desde 2020, altura em que começou a investir no terreno tinha erguido mais de 80 residências que custaram aos seus cofres mais de 300 milhões de kwanzas, num espaço que disse ter todos os documentos que atestam a titularidade do terreno.

“Nós, temos o cunho jurídico que pode sustentar a nossa firmeza de estar nesse espaço, pois”, segundo António Alemão “temos o direito de superfície e outros documentos passados pela Administração Municipal de Viana”.

O construtor afirmou ter mostrado a sua documentação e até ao momento “ninguém disse nada de contrário” aos documentos em a sua posse. Segundo ele, as demolições protagonizadas pela empresa OMATAPALO com o suporte das autoridades de Viana, revelam “tamanha deslealdade e a falta de amor ao próximo da Administração Municipal”.

Avançou que existem moradores que residem no espaço desde o ano de 2018 e nunca viram a empresa OMATAPALO nem outra entidade singular ou colectiva a reclamar a titularidade do referido terreno.

Para António José Alemão, os autores das demolições que deveriam se responsabilizar pelos danos causados, “acabaram por se abdicar das suas obrigações, nomeadamente a administração municipal de Viana e a OMATAPALO”, a empresa que alega ser proprietária do terreno em causa.

O director do Gabinete Institucional e Imprensa da Administração Municipal de Viana, Januário Damião, aconselhou à Rádio Despertar os moradores que não foram contemplados a se dirigirem às instalações desta administração pública a fim de tratar do processo.