Luanda - Discurso do Presidente dO BD no encerramento da 2ª conferência nacional realizada Sabado em Luanda.

Minhas Senhoras e Meus Senhores!
Caros Companheiros!
Caros Dirigentes do Bloco Democrático!

A nossa reunião mostrou o espírito democrático que anima os membros da Direcção do Bloco Democrático a todos os níveis. Viu-se pelo modo como nos entregámos à discussão dos assuntos que são, neste momento, os mais prementes para a vida do nosso Partido. Os dirigentes aqui presentes falaram sem qualquer receio de evidenciar os nossos próprios pontos fracos. Fizeram-no com coragem e com sentido de responsabilidade. Creio que todo esse trabalho nos tornou mais capazes, mais preparados para enfrentarmos as batalhas políticas do futuro.

O sentido crítico e a cultura da autocrítica estiveram sempre presentes nas nossas análises. Foi visível a vontade de superarmos as nossas fragilidades através da melhoria dos nossos métodos de trabalho, o que aumentará a nossa vitalidade e dará esperança aos que acreditam neste projecto.

O Bloco Democrático é um projecto colectivo animado por homens e mulheres que acreditam numa Angola melhor, sem os obstáculos e as distorções que herdámos do passado e que foram depois acentuados pela má governação. Outros obstáculos e outras distorções foram até criados de raiz pelo regime político de partido único e pela falsa democracia que depois nos impôs.

Para pertencermos ao Bloco Democrático temos que ter consciência dos múltiplos sacrifícios que é preciso consentir. E alguns de nós já temos experimentado o ferrete das acções de perseguição, de agressão e de exclusão.

Há pouco menos de 5 meses, o nosso Secretário Geral, o Dr. Filomeno Vieira Lopes, também a nossa companheira Ermelinda Freitas, responsável no município do Cacuaco e outros batalhadores pelas liberdades democráticas foram pública e brutalmente agredidos pelas milícias, a quem agora passámos a chamar os “tonton macoutes” do regime. Desde então, muitos mais jovens solidários com a causa da liberdade continuam a ser vítimas de constantes perseguições, de agressões e de raptos, sem que se faça justiça.

Essa actuação, praticada supostamente por agentes da autoridade trajados à civil, lançou uma fundada desconfiança sobre a seriedade e a idoneidade das nossas instituições e dos seus principais responsáveis. Faz-nos também consolidar a ideia de que a luta pela democracia deve prosseguir e tem mesmo que ser levada a cabo em vários palcos, inclusive, na rua, pois o regime está a fechar deliberadamente todos os espaços de contestação e de manifestação, para levar a que a decisão final seja uma sublevação popular.

É por demais evidente que este regime não consegue conviver com a diferença. Ele apenas consegue conviver com tonalidades da sua cor política que é, como sabemos, uma herança da ditadura e da intolerância. É isso que leva o regime a fabricar apressadamente partidos políticos, coligações de partidos políticos e associações de todo tipo. O regime tem uma profunda aversão ao contraditório e odeia quem se lhe opõe.

Mas, isso não nos faz esmorecer. Antes pelo contrário, anima ainda mais a nossa vontade de prosseguir a batalha que vimos travando contra todas as injustiças. Enganam-se, por isso, os que pensam que, reprimindo o povo de uma forma cega e bruta, se consegue alterar a sua vontade de liberdade e de justiça.

Aqui, neste fórum, tivemos oportunidade de discutir o futuro do nosso partido e o modo como nos devemos inserir na nossa sociedade.

Ficou bem claro que o nosso partido deve permanecer aberto a mais adesões para se enriquecer com mais contributos. Ficou também evidente que devemos balizar a nossa actuação a partir do Lema que nos caracteriza: Liberdade, Modernidade e Cidadania. São essas 3 expressões que simbolizam a nossa vertente de homens e mulheres que se batem por sociedades democráticas, progressivas e vinculadas aos desígnios maiores dos seus cidadãos.

A partir de agora, os nossos responsáveis a todos os níveis têm a obrigação de fazer crescer a nossa estrutura em todo o país, criando articulações coesas mas flexíveis, que permitam dar expressão livre à vontade popular.

É responsabilidade de todos os activistas que participaram na recolha de assinaturas convencerem aqueles nossos compatriotas que foram subscritores a tornarem-se militantes. Só assim fazermos crescer o nosso partido.

Devemos lutar pela auto-sustentabilidade das nossas diversas estruturas, de acordo com os condicionalismos e as características locais. É bom também que se articulem as estruturas naquelas províncias em que for possível fazer um melhor aproveitamento das suas sinergias. Teremos, então, aí uma expressão da nossa vocação descentralizadora.

A experiência recente mostrou-nos amargamente que uma frágil ligação à Direcção Central do partido pode redundar em forte prejuízo para a nossa manutenção e sobrevivência em determinados locais. Pode torná-lo alvo de acções de sedução por parte de outras forças políticas da oposição. Por isso, a Direcção Central no seu conjunto, o Secretariado Nacional e, particularmente, os responsáveis pela Área da Organização do Partido devem ocupar-se mais do atendimento aos nossos companheiros que militam em áreas de mais difícil e remoto contacto.

As reflexões que foram aqui feitas sobre a vida do partido devem ser repetidas a todos os níveis, para melhorarmos o nosso nível de organização. Compete agora a cada um de nós cumprir o seu papel militante. Os núcleos do Bloco Democrático, as estruturas municipais e provinciais e a todos os níveis da Direcção Central têm que fazer a sua autocrítica de um modo profundo.

Quero também dizer que devemos permanecer em permanente prontidão para os combates eleitorais, mantendo sempre activo um dispositivo que responda rapidamente à mobilização de apoiantes para a nossa participação eleitoral. Há, pois, que começar já a trabalhar para as futuras eleições autárquicas.

Um bom resultado nas futuras eleições autárquicas dependerá muito do prestígio pessoal dos candidatos no seio das suas comunidades. Mesmo havendo uma forte componente partidária, tais eleições serão muito personalizadas. Daí que se deva estabelecer desde já um processo de selecção para se apurarem os melhores candidatos autárquicos do BD. Nós, Bloco Democrático, temos que apresentar candidatos vencedores nas suas localidades.

Minhas Senhoras e Meus Senhores!
Caros Companheiros!
Estimados Dirigentes do Bloco Democrático!

A definição da orientação do sentido de voto do nosso partido nas eleições de 31 de Agosto mostrou o espírito democrático que nos anima. A decisão não foi tomada a partir de cima, porque o nosso partido não é propriedade de ninguém.

O nosso partido é a expressão da vontade de todos nós. Por isso, trouxemos para aqui, para este conclave, a decisão da escolha. Temos perfeita consciência dos riscos que advêm de qualquer uma das opções que foram analisadas. Agora, resta-nos confiar no bom-senso dos nossos militantes, dos nossos simpatizantes e dos nossos amigos.

Sabemos que, estando o Bloco Democrático fora da corrida, paira já um evidente clima de desânimo. A decisão que foi tomada aqui de modo algum satisfará as expectativas de todos. Esse é um risco calculado, uma vez que raramente uma decisão pode satisfazer as expectativas de gente com diversas sensações, diversas percepções e diversos ideais. Fizemos o possível, nesta conjuntura. Em outras circunstâncias talvez agíssemos de modo diferente. Só o tempo futuro dirá se fomos sagazes ou se não fomos.

Antes de terminar, quero apelar às forças políticas da oposição que se queiram juntar a nós no combate pela democracia, que o façam, respeitando, porém, as nossas balizas que são, afinal, o modo resumido como queremos que Angola seja: um país de Liberdade, Modernidade e Cidadania.

 

Muito Obrigado!